A definição mais conhecida de inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços. É contínuo por se referir a aumentos constantes de preços, sem cessar. É generalizado porque o aumento incide sobre todos os preços de bens e serviços existentes na economia. Em linguagem técnica, a média de todos os preços é mencionada como “nível geral de preços”, que pode ser visto de duas maneiras.
A primeira maneira é comparar o preço de uma cesta de bens e serviços, verificar sua variação no tempo e constatar que, quando o nível geral de preços aumenta, as pessoas precisam pagar mais pelos mesmos bens e serviços. A segunda maneira é ver o nível de preços como uma medida do valor da moeda. Um aumento no nível de preços implica redução no valor da moeda porque cada real que alguém tem em seu poder compra uma quantidade menor de bens e serviços.
Caso ocorra elevação da inflação global ao lado de eventual desaceleração da demanda, haverá efeitos pesados sobre o Brasil.
Não é preciso ir além desses aspectos para concluir que a inflação é um mal, sobretudo porque o nível geral de rendas (salários, aluguéis, juros e lucros) não varia ao mesmo tempo e nos mesmos porcentuais da variação do nível geral de preços. Além disso, a inflação distorce a função dos preços como medida de valor, desorganiza o sistema de cálculo de preços, distorce os orçamentos como instrumento de planejamento, corrói o valor dos ativos (investimentos financeiros, imóveis, ações e outros) possuídos por pessoas, empresas e outras instituições, prejudica o funcionamento do mercado e acaba jogando a economia em recessão. Em síntese, a inflação empobrece a nação e prejudica mais fortemente as camadas de renda mais baixa.
Na campanha eleitoral de 2022, Lula declarou que não fazia sentido praticar austeridade fiscal e equilíbrio das contas públicas enquanto houvesse pobres no país. Essa declaração é uma falácia, pois uma das principais causas da inflação é justamente o déficit público. Lula jogava para a plateia na tentativa de conquistar votos entre os pobres, sem ter de explicar as consequências de estourar os gastos públicos, criar déficits fiscais e aumentar a dívida do governo. A história já provou que entre as consequências dos déficits e da dívida estão a inflação e a elevação da taxa juros, dois venenos para a vida financeira dos pobres.
Na sequência desse ciclo, a inflação faz diminuir o consumo, os investimentos e a produção nacional, provocando o mais perverso efeito para os trabalhadores: o desemprego. Claro que Lula queria insinuar que os gastos públicos acima das receitas tributárias seriam a favor dos pobres, o que não é verdade. Ao vencer a eleição para seu terceiro mandato como presidente da República, a primeira medida de Lula foi, antes de assumir, criar enormes fontes de gastos públicos que começaram o ano batendo direto no aumento das despesas burocráticas do governo, como a criação de ministérios (quase duplicando o total de pastas no governo federal), novos órgãos, cargos e despesas decorrentes.
Se o governo cria despesas novas numa fase em que a economia está explodindo em crescimento, com expressivas taxas de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), elevação do nível de emprego e aumento da arrecadação tributária, os efeitos nocivos são amenizados. Mas não é o que está acontecendo atualmente na economia global e no Brasil. De saída, está havendo uma conjunção de três problemas que, juntos, puxam o PIB para baixo e reduzem a possibilidade da elevação real dos impostos: trata-se de problemas internacionais que trazem o mercado mundial para baixo, de um lado, e certa retração na economia nacional em decorrência de perdas nas safras agrícolas, redução dos investimentos no país por investidores nacionais e estrangeiros, e retração no comércio varejista verificado pelo fechamento de lojas de grandes empresas do setor.
Se o aumento de despesas governamentais for pago com emissão de títulos públicos, isto é, aumento da dívida do governo, diminuirão os recursos disponíveis nos bancos para financiar o setor privado (considerando que o total de recursos disponíveis nos bancos é limitado pelo tamanho da economia nacional) e a primeira consequência é elevação da taxa de juros. Se, para cobrir seu déficit, o governo cair na tentação de emitir moeda acima da taxa de crescimento do PIB, entra a lei da oferta e procura aplicada ao mercado de dinheiro: mais moeda lançada no mercado por meio de fabricação de dinheiro resulta em queda no valor da moeda, ou seja, inflação.
Os bancos centrais das maiores economias do mundo têm confirmado que suas políticas e medidas vinculam-se aos três objetivos perseguidos por sua atuação: crescimento do PIB, geração de emprego e controle da inflação. A questão é que, se a busca desses objetivos tornar-se obsessão e forem adotadas políticas arriscadas, o mundo pode acabar tendo a inflação sem conseguir a produção e o emprego. Quanto aos problemas internacionais, vale registrar o risco de queda acentuada na demanda global, como consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia e a desaceleração da economia chinesa.
Vale registrar que a China está diante de desafios difíceis de vencer, como a crise imobiliária e a grave situação do sistema de previdência, que está em franca deterioração pela falta de recursos a fim de bancar o número crescente de aposentados, estimado em 300 milhões de pessoas que devem ir para a aposentadoria na próxima década. Como a economia chinesa é grande demais, em face de sua população equivalente a 17% da população mundial, o ritmo chinês afeta fortemente a economia mundial e a economia brasileira, já que a China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
Caso ocorra elevação da inflação global ao lado de eventual desaceleração da demanda, haverá efeitos pesados sobre o Brasil nas três variáveis já citadas: crescimento do PIB, emprego e inflação. Se ao cenário internacional for juntada a política deliberada de elevar gastos públicos e fazer déficits, como disse Lula, os próximos anos confirmarão a profecia de que o Brasil terá mais uma década perdida na pretensão de caminhar rumo ao clube dos países desenvolvidos. Se, ao lado da política de déficits, o governo insistir na tentação de aumentar mais e mais a carga tributária – conforme o ministro Fernando Haddad ameaça o tempo todo –, não será surpresa se o país colher, também, mais uma recessão econômica em curto prazo. Esses são os riscos de imprudente gestão macroeconômica.
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