O desenvolvimento econômico e a superação da pobreza são dois fenômenos sociais recentes na história humana. Entende-se por “desenvolvimento econômico” a existência de um sistema produtivo e de um mecanismo de trocas comerciais (o mercado) capazes de propiciar à população de um país um produto interno em tamanho suficiente para que todos os habitantes possam ter bens e serviços adequados a bom padrão de bem-estar social. Quanto à pobreza, sua superação depende de como o produto total do país é distribuído entre todos os membros da população, de forma que o número de pobres e pessoas sem o mínimo para sua sobrevivência seja muito pequeno.
O desenvolvimento econômico somente tornou-se expressivo e teoricamente possível a todos os países a partir dos anos 1600, quando as sementes da Revolução Industrial iniciaram a era das grandes invenções tecnológicas e se acelerou a partir da invenção da máquina a vapor. Uma das datas simbólicas na revolução do processo produtivo é o ano de 1712, quando o inglês Thomas Newcomen conseguiu fazer um novo dispositivo em forma de máquina térmica capaz de aproveitar o vapor para a realização de trabalho mecânico em minas profundas, com capacidade de bombear água para fora das minas. A invenção de Newcomen passou a ser usada em larga escala na Inglaterra e em toda a Europa, propiciando substancial aumento do produto por hora de trabalho.
A Revolução Industrial foi nada mais que uma era de invenções de máquinas e processos tecnológicos, de um lado, e o surgimento do capitalismo de livre mercado sob o direito de propriedade privada e liberdade de empreender, de outro lado. É nesse momento que nasce a corporação empresarial moderna como é conhecida hoje. O desenvolvimento econômico é obra do capitalismo e da liberdade econômica, ainda que a superação da pobreza e a solução de vários problemas sociais tenham demorado mais em função da lentidão com que os novos tempos e novos recursos produtivos se espalharam pelo mundo.
Há correlação entre ética social, confiança e desenvolvimento econômico; e a corrupção nas esferas públicas e privadas, estimulada pela impunidade, reduz perigosamente a confiança da sociedade nas instituições
Sem o progresso tecnológico e o desenvolvimento do sistema capitalista, o planeta Terra não teria criado as condições para sustentar uma população global que saiu de 1 bilhão de habitantes em 1830 para 8,1 bilhões em apenas 190 anos. O conceito de subdesenvolvimento surgiu quando o mundo percebeu que somente uma parcela dos países existentes conseguiu assimilar os novos processos produtivos, as novas máquinas e o novo sistema (o capitalismo) sob o qual o desenvolvimento aconteceu. Subdesenvolvimento pode ser definido simplificadamente entre a distância do nível de consumo e bem-estar possível (pois já atingido pelos países que se desenvolveram) e o nível de consumo e bem-estar real existente.
As bases políticas, culturais e econômicas que levam ao desenvolvimento, apesar de conhecidas, não foram assimiladas pela maioria das nações do mundo ou foram assimiladas parcial e lentamente, tanto que, entre os 193 países filiados à Organização das Nações Unidas (ONU), somente 35 deles são considerados desenvolvidos, 60 estão entre os emergentes e de médio desenvolvimento, e 98 são países pobres. Uma das perguntas mais importantes e recorrentes feitas pelos estudiosos das ciências sociais é: o que causa a riqueza ou a pobreza das nações?
Adam Smith, um dos principais pensadores econômicos, publicou sua principal obra em 1776; A Riqueza das Nações se tornou um clássico da literatura econômica e da explicação sobre o funcionamento do capitalismo. Tanto Smith quanto outros autores, como Douglass North, prêmio Nobel de Economia de 1993, chegaram a um ponto comum: entre as condições requeridas para o desenvolvimento estão a qualidade das instituições, a cultura e as crenças da população, o corpo de leis, a estrutura política, o funcionamento do poder estatal, o comportamento do governo, o funcionamento da Justiça e a qualidade do sistema de representação (parlamento) e a presença do sistema econômico capitalista.
Entre os vícios que solapam as possibilidades de prosperidade e respondem pelo atraso e pelo subdesenvolvimento estão a corrupção endêmica, maus governos, sistema judicial moroso e ineficaz, cultura anticapitalista e antiempresarial, baixa confiança popular nas instituições e má gestão macroeconômica. Destaque-se o mau comportamento dos políticos e dos dirigentes públicos e o nível de corrupção e fraudes como um veneno específico que por si só dilacera os valores sociais, corrói a ética pública e impede o crescimento econômico e o desenvolvimento social.
O fato é que há correlação entre ética social, confiança e desenvolvimento econômico; e a corrupção nas esferas públicas e privadas, estimulada pela impunidade, reduz perigosamente a confiança da sociedade nas instituições. Na história da América Latina tem sido comum a presença repetitiva desse cenário descrito, cuja marca mais visível atualmente é a convivência de corrupção em alta escala, Justiça ineficaz com credibilidade abalada e atraso econômico que perpetua o triste quadro de miséria, pobreza e impossibilidade de a maioria dos países desta região alcançar um grau de desenvolvimento próximo ao grupo dos 35 países desenvolvidos mencionados. Essa é a realidade brasileira, apesar da riqueza em recursos naturais que o país possui. Assim, é lícito crer que somente a mobilização popular pacífica e inteligente pode empurrar a nação para a rota política e econômica capaz de sonhar com o dia em que o Brasil será um país desenvolvido.
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