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Há muito tempo é conhecida a limitação ao crescimento econômico brasileiro derivada da insuficiente infraestrutura física, especialmente rodovias, ferrovias, portos, armazéns, aeroportos, energia e telecomunicações. Vale registrar que a infraestrutura tem sua capacidade de atender à economia nacional em função de seu tamanho, idade média e grau de modernização tecnológica. A infraestrutura fisica é essencial e condição necessária para a expansão da infraestrutura empresarial (prédios, máquinas, equipamentos, móveis etc.) e da infraestrutura social (hospitais, postos de saúde, escolas, igrejas, prisões, creches, estruturas de lazer etc.).
Para cada segmento da infraestrutura física há determinada necessidade de tamanho e grau tecnológico para compor a harmonia do quadro geral da infraestrutura, a fim de não sobrarem unidades de um dado tipo enquanto faltam unidades de outro tipo. Por exemplo, se o país ampliar substancialmente a rede de rodovias e ferrovias para transporte de mercadorias até os portos, torna-se necessário ampliar os investimentos nas estruturas portuárias suficientes para movimentar os volumes de mercadorias transportadas pela rede rodoferroviária. Da mesma forma, se o país for dotado de rede de transportes e estrutura de portos de tamanho suficiente para movimentar toda a produção nacional, mas tiver déficit de armazéns, ou seja, não conseguir armazenar adequadamente toda a produção que exija armazenamento, como é o caso dos produtos agrícolas, surge um gargalo perigoso que chega ao ponto de provocar perda de parte da produção colhida.
O déficit de capacidade armazenadora é um freio ao crescimento do produto e da renda nos setores de produtos que dependem de armazenagem e estocagem
Pois esse é um problema grave vivido nacionalmente: o déficit de capacidade de armazenagem no Brasil já foi divulgado como sendo de 120 milhões a 180 milhões de toneladas. O número mais recente vem do estado do Paraná, onde a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) fez um alerta sobre a falta de armazéns com capacidade suficiente para estocar a safra. Atualmente, o estado tem déficit de armazenagem próximo de 13 milhões de toneladas. Considerando a produção atual, se a taxa de aumento da produção de grãos continuar acima da taxa de aumento da capacidade de silos e armazéns, o estado entrará em colapso. Para piorar o cenário, os produtores vêm reclamando que o Plano Safra 2025/26 foi divulgado com taxas de juros que inviabilizam os financiamentos destinados ao setor, condição esta que se torna mais grave quando se sabe que o Paraná deve colher 45,1 milhões de toneladas na safra 2025/26, equivalente a 14% da produção nacional de grãos.
O Paraná obteve aumento de 19,5% na produção de grãos nos últimos dez anos, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); a capacidade de armazenagem, porém, cresceu apenas 12,8% no mesmo período. Vale considerar que a capacidade de armazenagem do estado já estava abaixo da necessidade no início do período mencionado. Embora a capacidade total comporte 32,6 milhões de toneladas nas 1.594 unidades armazenadoras e 2.513 silos cadastrados, apenas 4,7% da capacidade de armazenagem está em propriedades rurais, quando nos Estados Unidos, país similar ao Brasil em relação à realidade agrícola, mais de 53% da capacidade de estocagem de grãos corresponde a silos e armazéns situados na zona rural, onde a produção é colhida.
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Quando se analisa o desempenho da produção de grãos no Paraná, nota-se crescimento safra após safra sem que a capacidade de armazenagem acompanhe o aumento das quantidades produzidas. Uma das razões mencionadas pelas lideranças do setor é que o Brasil não tem uma política de armazenagem eficiente, o déficit de capacidade de estocagem é enorme e as condições de financiamento para investimentos em construção de silos e armazéns não são boas. Em síntese, os encargos financeiros são elevados, sobretudo em razão da política de juros altos.
Outro ponto que merece atenção é que uma estrutura de armazenagem adequada em termos de capacidade comparada com as safras colhidas desempenha importante papel estratégico nas práticas comerciais. Isto é, quando a capacidade de armazenagem é suficientemente robusta para garantir mais tempo médio de armazenagem de cada tonelada colhida, os produtores têm mais opções para escolher o melhor momento para vender e desovar seus estoques. Sem isso, os produtores não conseguem segurar os estoques e se obrigam muitas vezes a vender em condições de mercado desfavoráveis.
Tendo em conta a alta influência na determinação da eficiência logística e na geração de receitas comerciais para o país, o déficit de capacidade armazenadora é grave e funciona como um freio para o crescimento do produto e da renda nos setores de produtos que dependem de armazenagem e estocagem. Esse problema é sério é precisa ser divulgado com insistência na tentativa de sensibilizar o governo e os políticos para a gravidade da situação.



