A primeira fase do acordo de cessar-fogo acertado em meados de janeiro entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que prevê a libertação de reféns e a entrega de corpos de vítimas da barbárie de 7 de outubro de 2023, em troca de prisioneiros palestinos, viveu um impasse nos últimos dias. O governo israelense havia decidido adiar a libertação de 620 prisioneiros, que só foram soltos nesta quarta-feira após novas negociações com o Hamas, que por sua vez devolverá quatro corpos. A atitude israelense de suspender temporariamente a devolução de prisioneiros, no entanto, nada teve de arbitrária: ela foi uma resposta a um espetáculo macabro que só demonstra qual é, de fato, a verdadeira natureza do Hamas.
No último dia 20, os terroristas islâmicos entregaram à Cruz Vermelha quatro corpos: o de Oded Lifshitz, idoso que tinha 83 anos quando foi raptado; e o que deveriam ser três membros da família Bibas: a mãe, Shiri, e os filhos Ariel e Kfir, que tinham, respectivamente, 32 anos, 4 anos e 9 meses quando foram levados pelos terroristas – Yarden, marido de Shiri e pai de Ariel e Kfir, sobreviveu ao cativeiro e foi libertado no início de fevereiro. Na noite do dia 20, as autoridades israelenses informaram que o corpo da mulher não fora identificado como sendo de Shiri, e nem de nenhuma outra refém; no dia seguinte, o Hamas finalmente devolveu o corpo de Shiri, o que foi confirmado pelos legistas e pela família.
Os terroristas do Hamas vilipendiaram a família Bibas em vida e após a morte
Não foi apenas a troca de corpos, no entanto, que despertou indignação em Israel e em todo o mundo: a entrega dos restos mortais foi marcada por um show de horrores, com militantes mascarados, música alta, discursos de ódio a Israel e os caixões colocados em um palco, atrás do qual havia um enorme cartaz que culpava o premiê Benjamin Netanyahu pela morte dos quatro reféns. Cenas semelhantes já haviam sido registradas na libertação de reféns vivos, mas não na entrega de corpos de reféns mortos. As imagens foram tão degradantes que a televisão israelense, que normalmente transmite esses eventos, se recusou a fazê-lo desta vez, e até o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos protestou, afirmando que “o desfile de corpos (...) é abominável e cruel, e desafia a lei internacional”, segundo a qual “toda entrega de restos mortais deve respeitar a proibição de tratamento cruel, desumano e degradante, garantindo respeito pela dignidade dos mortos e de suas famílias”.
Os terroristas do Hamas vilipendiaram a família Bibas em vida e após a morte. O sequestro, durante o 7 de outubro, foi registrado em vídeo, com uma Shiri aterrorizada segurando seus filhos com um cobertor; no fim de 2023, os terroristas forçaram Yarden a gravar um vídeo no qual responsabilizava Netanyahu pela morte de sua família durante um bombardeio israelense, uma alegação feita pelo Hamas e desmentida pelos legistas que examinaram os corpos entregues no dia 20. Se a carnificina promovida em 2023 já é suficientemente bárbara, ela ganha ainda mais requintes de crueldade quando inclui o sequestro de bebês de colo, e a infâmia se completa quando os corpos de crianças são devolvidos desta forma. Infinitamente chocante, mas nada surpreendente quando se trata de um grupo para o qual não importam nem mesmo as vidas dos palestinos, usados cotidianamente como escudo humano pelos terroristas islâmicos.
Que ninguém se espante, também, com alguns silêncios bastante significativos diante do sadismo dos terroristas. O Itamaraty, que no dia 23 publicou nota sobre operações militares israelenses na Cisjordânia, não emitiu uma única palavra sobre o espetáculo macabro ocorrido três dias antes. E, assim como a chancelaria brasileira, muitos outros apoiadores da “resistência palestina”, no Brasil e fora dele, fingiram que nada de relevante aconteceu naquela quinta-feira, em Khan Younis. São os cúmplices da barbárie e da total falta de humanidade, e isso diz mais sobre eles que sobre os facínoras mascarados, cujo principal alimento é o sangue de palestinos e israelenses.