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Editorial

O fim da era Justin Trudeau no Canadá

Justin Trudeau enfrentou uma profunda crise política no Canadá nos últimos tempos. (Foto: EFE/Chris Roussakis)

O governante mais woke entre os principais líderes mundiais está de saída. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, anunciou na segunda-feira que deixará a liderança do Partido Liberal, ao qual pertence; assim que seus correligionários escolherem um substituto, Trudeau também renunciará ao cargo de primeiro-ministro, na tentativa de dar a seu partido uma chance de evitar uma derrota fragorosa para os conservadores, os atuais favoritos para a eleição parlamentar de outubro deste ano. Por mais que o “progressismo” radical de Trudeau não esteja entre as causas da enorme queda de sua popularidade e das pressões por sua saída, a mudança traz a perspectiva de um certo ar fresco em uma das economias mais desenvolvidas do mundo.

Trudeau assumiu a liderança do Partido Liberal em 2013, ainda na oposição, e dois anos depois chegou ao governo, acabando com nove anos de maioria conservadora sob Stephen Harper. Desde então, Justin Trudeau transformou o Canadá em um paraíso “progressista”: o uso recreativo da maconha foi legalizado em 2018; dois anos antes, em 2016, o país havia instituído um programa de suicídio assistido, que com o tempo foi ganhando critérios bastante frouxos – até mesmo dificuldades financeiras ou “problemas de sociabilidade” eram aceitos como razões para entrar no Medical Assistance in Dying (MAiD). Embora o aborto já fosse legal no Canadá desde 2018, Justin Trudeau reforçou a disponibilidade de serviços de aborto e tentou perseguir organizações pró-vida que ofereciam às gestantes o que ele chamava de “aconselhamento desonesto”.

O fim da era Trudeau está relacionado à velha frase cunhada pelo marqueteiro James Carville para a campanha vitoriosa de Bill Clinton em 1992, nos Estados Unidos: “É a economia, idiota!”

No Canadá de Justin Trudeau, pais preocupados com a ideologia de gênero se viram ameaçados de perder o pátrio poder caso não aceitassem a “identidade” escolhida pelos filhos. E o governo se encarregou de fomentar a hostilidade da sociedade em relação à religião, a ponto de Trudeau ter afirmado, em 2021, que a onda de incêndios criminosos em igrejas, apesar de “inaceitável e errada”, também era “compreensível” – os ataques ocorreram após a descoberta de sepulturas coletivas em antigas escolas para indígenas operadas por igrejas cristãs, embora investigações posteriores tenham descartado qualquer indício de abuso ou violência contra crianças.

O país também foi um dos que adotaram lockdowns e políticas restritivas (como “passaportes de vacina”) mais severas durante a pandemia de Covid, o que levou a um protesto massivo de caminhoneiros em 2022. O governo respondeu com medidas de exceção que incluíram o congelamento das contas bancárias de manifestantes. Em 2024, Trudeau ainda tentou aprovar um projeto de lei que traria enorme risco à liberdade de expressão no país, instituído a repressão estatal ao “discurso de ódio”, mas o projeto não seguiu adiante.

Apesar de todo esse histórico, o fim da era Trudeau está relacionado à velha frase cunhada pelo marqueteiro James Carville para a campanha vitoriosa de Bill Clinton em 1992, nos Estados Unidos: “É a economia, idiota!”. O custo de vida está subindo, e está cada vez mais difícil garantir uma moradia e adquirir bens de consumo. Além disso, os canadenses percebem uma queda de qualidade em serviços públicos. Parte disso está ligada ao enorme fluxo migratório ocorrido ao longo do governo de Trudeau. O Canadá tradicionalmente é um país que depende de imigrantes para manter a vitalidade de sua economia, mas as políticas mais flexíveis do atual primeiro-ministro elevaram a pressão sobre os serviços públicos e a demanda por moradia, jogando os preços para cima. A crise política e as pressões pela renúncia se acentuaram em dezembro, quando a vice-premiê e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, pediu demissão.

A não ser que um novo líder dos liberais consiga reverter a espiral de impopularidade, o próximo primeiro-ministro do Canadá deve ser Pierre Poilievre, atual líder do Partido Conservador. Ciente de que não foram os temas morais que levaram à queda de Trudeau, Poilievre está priorizando as questões econômicas, como o acesso à habitação, o controle do gasto público e a política tributária. O conservador já afirmou que não pretende mudar a legislação sobre aborto, mas gostaria de incentivar a adoção como alternativa a mães que não desejam ter seus filhos – o próprio Poilievre foi adotado; sua mãe biológica era uma estudante de 16 anos. Se por um lado o aborto é tema mais consolidado no Canadá, por outro um futuro governo conservador ainda pode fazer muito: o estrago causado pela guinada radical instituída por Justin Trudeau desde 2015 foi tanto que, se Poilievre conseguir apenas reverter as medidas mais recentes, tirando o país da vanguarda do desrespeito à vida humana e à família, já terá dado uma enorme contribuição.

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