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Protesto de imigrantes venezuelanos contra Nicolás Maduro em São Paulo.
Imigrantes venezuelanos em protesto em São Paulo em 17 de agosto.| Foto: EFE/Isaac Fontana

“Uma característica da ascensão da extrema direita é a sua coordenação em nível global, com diferentes grupos em vários países trocando estratégias” – é o que acaba de afirmar um grupo que inclui forças políticas de vários países, dedicado a trocar estratégias, em uma demonstração da coordenação da esquerda em nível internacional. Esse trecho que encarna perfeitamente o “acuse-os do que você faz” é parte de um longo comunicado do Foro de São Paulo, datado de 29 de setembro e, sabe-se lá por que motivos, divulgado apenas no último dia 16. O texto é assinado pelo Grupo de Trabalho da entidade, que inclui diversos partidos e movimentos políticos da esquerda latino-americana – as legendas brasileiras que fazem parte do GT são o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista do Brasil (PcdoB).

Com aquela linguagem simplista, maniqueísta e repleta de rótulos que caracteriza os textos da esquerda, o comunicado reforça o compromisso do Foro de São Paulo com o lado errado da história e sua solidariedade com quem não a merece – como ditadores, bandidos e terroristas em geral. Não poderia deixar de faltar a referência à fraude eleitoral perpetrada pelo ditador Nicolás Maduro em julho deste ano, com um reconhecimento da “vitória” chavista: “converte-se em imperativo para nossas forças políticas fazer um chamado ao respeito à institucionalidade democrática da Venezuela e à autodeterminação do povo venezuelano em relação aos resultados eleitorais que deram a vitória ao presidente Maduro”, diz o texto, que ainda se refere a um “trabalho conjunto das forças de extrema direita para atacar os resultados da eleição presidencial venezuelana e a vitória do presidente Nicolás Maduro”.

Ao assinar a resolução do Foro de São Paulo que endossa a farsa de Maduro, o PT está apenas sendo fiel às suas tradições

Obviamente, se o Foro de São Paulo tivesse algum compromisso com a “autodeterminação do povo venezuelano”, estaria pedindo que Maduro entregasse o poder, já que o povo venezuelano votou maciçamente em Edmundo González, como atestam os boletins de urna aos quais a oposição democrática e os observadores internacionais tiveram acesso, e que comprovam a derrota de Maduro. O ditador não venceu a eleição; ele foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral chavista após um “apagão” geral na reta final da apuração. São coisas muito diferentes. Mas ao Foro de São Paulo não interessa o povo venezuelano, e sim a perpetuação no poder do Partido Socialista Unido da Venezuela, que integra a entidade de esquerda.

O endosso do PT à fraudulenta “vitória” de Maduro não é novidade; o partido já havia reconhecido o resultado proclamado pelo CNE em 29 de julho, dia seguinte à votação, em nota de sua Executiva Nacional que se refere ao “presidente Nicolás Maduro, agora reeleito”. Ciente do desgaste que teria ao seguir seu partido em uma manifestação explícita de apoio à fraude, o presidente Lula e seu chanceler de facto, Celso Amorim, têm usado a estratégia cínica do reconhecimento tácito. Para manter as aparências, a dupla insiste em uma irreal exigência de apresentação dos boletins de urna – sempre por parte do CNE, já que Lula, espertamente, não aceita os mesmíssimos documentos quando são entregues pela oposição. O detalhe, de que Lula e Amorim estão totalmente cientes, é que tal divulgação oficial jamais ocorrerá, o que lhes permite seguir cozinhando a situação em banho-maria.

Os poucos petistas que manifestam algum desgosto em relação à posição oficial de seu partido, no fim das contas, o fazem apenas como parte do plano de poupar Lula. Quando o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) diz à CNN Brasil que “a posição do PT sobre Venezuela é desconectada com o que pensa o Lula e a grande maioria dos simpatizantes do PT”, seu objetivo não é denunciar a ditadura e a fraude chavistas, e sim preservar o presidente da República, em uma tentativa desesperada de esconder o fato evidente: “o que pensa o Lula” não é o que pensam outros esquerdistas latino-americanos, como o presidente chileno, Gabriel Boric. A omissão lulista é a forma mais conveniente, no momento, de seguir apoiando Maduro, ainda que para isso seja preciso ouvir algumas sandices de vez em quando, como a dita recentemente pelo procurador-geral venezuelano sobre Lula estar a serviço da CIA – isso, claro, se todas essas loucuras também não forem parte de um jogo de cena para disfarçar a aliança entre o ditador venezuelano e seu fiador brasileiro.

Ao assinar a resolução do Foro de São Paulo que endossa a farsa de Maduro, o PT está apenas sendo fiel às suas tradições. Ao optar por uma aparência de isenção, Lula está apenas preservando seu aliado, que o petista considera vítima de uma “narrativa” e que preside não uma ditadura, mas apenas um “regime desagradável”. Só pode se dizer surpreso com isso quem quis se iludir em 2022, acreditando que um voto em Lula era um voto “pela democracia”. Os pobres venezuelanos, que para fugir do “socialismo do século 21” aceitam até se embrenhar pela selva mais perigosa do mundo, é que sofrem as consequências dos compromissos ideológicos nefastos dos que pediram voto e da ingenuidade dos que atenderam o pedido.

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