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Editorial

O IBGE sob a ingerência do lulopetismo

Marcio Pochmann
Marcio Pochmann, presidente do IBGE, rebateu críticas de servidores por supostamente tomar decisões autoritárias. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Saudado por grupos de esquerda, como as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, por seu “compromisso com a construção das instituições comprometidas com o projeto popular para o Brasil”, Márcio Pochmann, nomeado por Lula em julho de 2023 para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumula provas de que não deveria estar à frente do instituto, ainda que seus companheiros petistas insistam no contrário.

Pochmann já havia presidido de forma desastrosa o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) durante o segundo governo Lula e metade do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Nos seis anos à frente do Ipea, o petista ficou conhecido pelos atritos constantes com pesquisadores e funcionários, que reclamavam da pressão política exercida por ele. No IBGE, Márcio Pochmann segue a mesma cartilha e coloca em xeque a confiança nas pesquisas e levantamentos feitos pelo instituto.

Um instituto responsável por dados de importância vital para o país, como o PIB, a inflação e a taxa de desemprego, precisa passar total credibilidade, transparência e confiança, sob risco de tornar-se irrelevante. E isso começa com ter um presidente que transmita essas mesmas qualidades

Em setembro do ano passado, funcionários do IBGE já alertavam sobre a falta de diálogo com Pochmann. A crise ganhou mais força no início de janeiro, com o escalonamento das reclamações e denúncias dos servidores. Um dos pontos principais foi a Fundação IBGE+, de caráter público-privado, que, segundo os servidores, foi criada “de forma sigilosa e sem consulta aos servidores, em julho de 2024”. O estatuto da nova entidade permitiria a realização de trabalhos para organizações públicas e privadas, o que levou a fundação a ser apelidada de “IBGE paralelo”.

A presidência do IBGE defendeu a iniciativa, que supostamente busca captar recursos para o órgão de outras fontes, como estatais e bancos públicos, mas nunca divulgou detalhes sobre como se daria o financiamento ou como funcionaria o IBGE+. Usando a tática comum aos agentes do governo lulopetista, que jamais reconhecem a legitimidade das críticas que recebem, o presidente do IBGE atribuiu os questionamentos sobre o IBGE+ a uma “forte campanha de desinformação”, e afirmou que a criação do órgão teria sido aprovada para “permitir a busca de recursos não orçamentários essenciais para a urgente e imprescindível modernização e fortalecimento tecnológico” do IBGE. Na semana passada, o IBGE+ acabou sendo engavetado, ao menos provisoriamente, para tentar controlar a crise. Mas esse não é o único ponto controverso da gestão de Pochmann.

Numa carta aberta divulgada na semana passada, servidores da área de comunicação do instituto denunciaram que Pochmann mantém uma relação hostil com a imprensa nacional e local, recusando-se a atender demandas e pedidos de entrevistas, limitando-se a responder aos questionamentos da imprensa por meio de notas publicadas tardiamente no portal oficial do IBGE. Ele também estaria, segundo os funcionários, utilizando-se do cargo para autopromoção, priorizando a divulgação de suas agendas e viagens em vez dos dados produzidos pelo instituto.

A postura de desprezo ao trabalho dos jornalistas condiz com o que o próprio Pochmann havia defendido poucos meses após assumir o IBGE, quando reclamou das entrevistas coletivas com técnicos do órgão, capazes de explicar e destrinchar os números e responder às perguntas (às vezes incômodas) da imprensa. “A comunicação do passado era aquela que (sic) o IBGE produzia as informações e os dados, fazia uma coletiva e transferia a responsabilidade para o grande público através dos meios de comunicação tradicionais (sic). Isso ficou para trás”, disse Pochmann em novembro de 2023.

Ainda na semana passada, a divulgação de uma publicação do IBGE trouxe mais desconfiança em relação à gestão de Pochmann. Entre os prefácios do anuário O Brasil em Números há um texto escrito pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), uma das poucas integrantes do partido que declarou boas relações com o governo Lula, e que está sendo cortejada para migrar para o PSD, que faz parte da base governista.

No texto, a governadora cita e elogia programas criados por ela – o que estaria em desacordo com as boas práticas institucionais e comprometeria a imparcialidade do instituto. Publicado desde 1992, O Brasil em Números nunca teve um prefácio escrito por políticos, justamente para manter sua credibilidade e transparência. Pochmann, porém, não viu problemas em publicar uma peça de propaganda política em uma publicação oficial e disse que o prólogo de Lyra foi uma “contrapartida pela ajuda financeira da gestão pernambucana para viabilizar sua veiculação na forma impressa”, mas não deu detalhes sobre qual teria sido o valor recebido pelo IBGE.

A gestão errática e pouco transparente de Pochmann tem causado problemas sérios de credibilidade ao IBGE. De fato, é difícil acreditar nos dados divulgados por um órgão cujo presidente é criticado pelos próprios servidores por ingerência. Um instituto responsável por dados de importância vital para o país, como o PIB, a inflação e a taxa de desemprego, usados para o acompanhamento das ações e políticas públicas dos governos, e que orienta a ação do mercado e dos investidores, precisa passar total credibilidade, transparência e confiança, sob risco de tornar-se irrelevante. E isso começa com ter um presidente que transmita essas mesmas qualidades, o que não é o caso de Pochmann.

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