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Mais imposto na conta de luz? Tributaristas e governo divergem sobre efeito da reforma sobre o setor de energia.
Queda nos preços da energia em agosto ajudou o IPCA a ter deflação, mas setembro terá bandeira tarifária vermelha e preços devem subir.| Foto: Ricardo Botelho/MME

O IPCA de agosto veio com uma leve trégua para um indicador que havia atingido o limite máximo de tolerância do regime de metas de inflação. Graças à deflação de 0,02% registrada no mês passado, o acumulado de 12 meses, que estava em exatos 4,50%, recuou para 4,24%, ajudando a lançar um pequeno ponto de interrogação sobre a decisão que o Comitê de Política Monetária tomará na próxima semana, quando decidirá a taxa Selic que vigorará até o início de novembro.

Dois grupos importantes, que compõem pouco mais de um terço do índice total, puxaram o IPCA para o território negativo, com redução nos preços: Alimentação e Bebidas (-0,44%) e Habitação (-0,51%). Neste segundo caso, o “mocinho” do IPCA foi o custo da energia elétrica, que recuou 2,77% graças à troca da bandeira tarifária amarela, aplicada em julho, pela verde. No entanto, isso não se manterá em setembro, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já colocou em vigor a bandeira vermelha nível 1, devido à seca que forçou o acionamento de usinas termelétricas. Ironicamente, o mesmo clima que deixará a conta de energia mais cara neste mês proporcionou uma oferta maior de produtos alimentícios bastante comuns na mesa do brasileiro, como batata, tomate e cebola, todos com quedas acima dos 15% em agosto.

O fato de agosto ter registrado uma ligeira deflação não significa que as razões para manter ou até elevar a taxa Selic desapareceram

Com os olhos todos voltados para a próxima reunião do Copom – a primeira após o anúncio da escolha de Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central a partir de 2025, embora a nomeação ainda não tenha sido aprovada pelo Senado –, é preciso lembrar que a autoridade monetária não age guiada por imediatismos. O fato de agosto ter registrado uma ligeira deflação não significa que as razões para manter ou até elevar a taxa Selic desapareceram, embora possamos dar como certo que ao menos alguns petistas usarão essa linha de raciocínio para pedir a queda dos juros.

Os diretores do BC precisarão, por exemplo, olhar os dados para verificar se o resultado negativo de agosto foi um caso isolado, ou se representa uma tendência. Terão de destrinchar os números, e aí descobrirão que alguns dos números que eles observam com mais atenção seguem preocupando – é o caso da inflação de serviços, que subiu 0,24% e está em 5,18% no acumulado de 12 meses, com elevação na comparação com os 5,01% de julho. A inflação dos preços monitorados, aqueles determinados pelo governo ou por contratos, até caiu no acumulado de 12 meses, mas permanece elevada, em 5,58%. Por fim, o Copom estará atento às chamadas “expectativas de inflação”, que dependem não apenas de um número único, mas de vários outros fatores, incluindo a preocupante trajetória fiscal do país.

O fato é que, neste exato momento, o conjunto dos fatores aponta mais para uma manutenção ou até mesmo elevação da Selic que para uma redução. A mediana das projeções para o fim do ano, recolhidas pelo BC no Boletim Focus, deu um salto: de 10,50% na semana passada para 11,25% no relatório desta segunda-feira, indicando que o mercado financeiro espera que, na virada do ano, tenhamos uma Selic 0,75 ponto porcentual maior que a atual. O IPCA de agosto pode até levar os diretores a optar pela manutenção ou por uma elevação leve dos juros neste momento, mas os riscos e as pressões inflacionárias persistem.

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