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Preço dos alimentos subiu bastante em 2020: arroz e feijão preto estão entre itens com maiores altas
Alimentos, especialmente arroz, óleo de soja e carnes, voltaram a ser os protagonistas do avanço do IPCA em outubro.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Em uma repetição de setembro, novamente os setores de alimentos e transportes, especialmente arroz e óleo de soja, jogaram a inflação para cima em outubro. O IPCA, índice oficial medido pelo IBGE, subiu 0,86%, acelerando na comparação com o mês anterior, quando a alta foi de 0,64%. Esta foi a maior inflação para um mês de outubro desde 2002; no acumulado do ano, o IPCA está em 2,22% e, no acumulado dos últimos 12 meses, é de 3,92%, bem perto do centro da meta de inflação do Banco Central, de 4%.

Apesar da aceleração da inflação em outubro, persiste a avaliação de que se trata de um avanço circunstancial, com causas bastante específicas, e não de um possível retorno da pressão inflacionária que o país viu pela última vez em 2015 e, em menor grau, em 2016. Os produtos que puxaram a alta do mês passado foram basicamente os mesmos de setembro, com diferenças bem pontuais – as passagens aéreas, por exemplo, subiram quase 40% no mês, refletindo uma maior demanda pelo serviço à medida que vão caindo as restrições à movimentação de pessoas por causa da pandemia de Covid-19. O dólar continua bastante favorável às exportações, o que reduz a oferta interna de produtos do agronegócio, e a demanda segue em alta graças a programas como o auxílio emergencial, que ajudam as famílias a manter pelo menos parte de sua renda no pré-pandemia.

O que mais preocupa os membros do Copom não é a trajetória da inflação, mas a questão fiscal

Esta foi a avaliação do Copom, a julgar pela ata de sua mais recente reunião, realizada antes da divulgação do IPCA de outubro. “As últimas leituras de inflação foram acima do esperado, e o Comitê elevou sua projeção para os meses restantes de 2020. Contribuem para essa revisão a continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities e dos programas de transferência de renda”, afirma o documento.

Alguns destes fatores podem mudar em breve. Uma queda substancial do dólar, a ponto de desestimular as exportações, talvez ainda esteja longe de ocorrer, mas a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que no início de 2021, com a colheita da nova safra, o preço do arroz deve diminuir. Além disso, o auxílio emergencial será pago apenas até dezembro deste ano, e o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, disse na sexta-feira que o consumo deve cair entre a população mais pobre com o fim do benefício. Por fim, ainda há muita indefinição sobre o Renda Cidadã, que Jair Bolsonaro deseja implantar.

O Copom também reconhece essas possibilidades em sua ata. “Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade. Por outro lado, espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda”, diz o texto, que explica com mais detalhes os motivos que levaram o Copom a manter a Selic nos atuais 2%.

“Apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção”, continua a ata, acrescentando que a expectativa revisada para o IPCA de 2020 é de 3,1% – mais perto do piso que do centro da meta. De fato, o que mais preocupa os membros do Copom não é a trajetória da inflação, mas a questão fiscal, com o alarmante aumento da dívida pública como porcentagem do PIB e as pressões políticas para que o país escape da trajetória de ajuste fiscal iniciada em 2016. E já não basta o respeito formal ao teto de gastos, pois o Copom afirma que “alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”.

Daí a importância das discussões a respeito do orçamento de 2021, dos projetos de emenda à Constituição que buscam desengessar o gasto público, das reformas que enxuguem o Estado e o tornem mais eficiente. A manutenção da inflação baixa está diretamente condicionada à responsabilidade fiscal; se Executivo e Legislativo realmente estão empenhados em beneficiar os mais pobres, o melhor que podem fazer é manter as contas públicas em ordem, gerando confiança que atrairá investimento e facilitará a retomada econômica com geração de emprego e renda.

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