No primeiro mandato de Lula como presidente da República, de 2003 a 2006, Antônio Palocci foi nomeado ministro da Fazenda. Para surpresa de boa parte da sociedade, o governo anunciou que seguiria a política econômica implantada no governo anterior de Fernando Henrique Cardoso, cujas bases eram o tripé macroeconômico (metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante), as imposições da Lei de Responsabilidade Fiscal e a privatização de quase três dezenas de bancos e instituições financeiras estatais estaduais e federais. Lula assumiu o governo refém de suas próprias palavras e compromissos, sobretudo o conteúdo da “Carta aos Brasileiros” que ele houvera divulgado em julho de 2002, na qual prometia não seguir a pregação estatizante e anticapitalista constante dos documentos do PT.
Palocci conduziu a gestão macroeconômica conforme anunciado e os resultados foram bons em quatro áreas importantes: contas externas, contas públicas, inflação e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Ao comportamento responsável da gestão Palocci na economia, juntou-se o quadro internacional favorável, com longa sequência de aumentos dos preços das commodities exportadas pelo Brasil. Esse começo positivo se deu nos três primeiros anos do PT na Presidência, mas no último ano o governo já estava chafurdando na onda de corrupção que desembocaria, anos depois, nas condenações pelos crimes do mensalão.
Na economia, as bases do governo Lula nestes dez meses são um conjunto de erros que, se mantidos, custarão muito caro ao país
Enquanto as autoridades econômicas e monetárias, com Henrique Meirelles no Banco Central, tratavam com responsabilidade a política fiscal, a política monetária e a política cambial, inclusive não cedendo às críticas constantes do vice-presidente José Alencar contra a taxa de juros, a corrupção corria solta. No fim do primeiro governo Lula, o PT já protagonizava o naufrágio da ética pública e da decência política. Apesar disso, Lula foi reeleito para o segundo mandato, de 2007 a 2010, cuja gestão apresentou declínio e abandono da responsabilidade fiscal, coincidindo com a saída de Palocci do governo em março de 2006, em meio ao escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, que havia feito denúncias contra o ministro; Seu substituto foi Guido Mantega, que abandonou as bases da política econômica de seu antecessor e contabilizou vários desastres.
O sucesso inicial na gestão econômica do primeiro governo Lula, a reeleição para o segundo mandato – mesmo com a lama moral do mensalão já pesando sobre as costas do presidente e do governo petista – e a eleição de Dilma Rousseff, sem carisma e sem histórico político, criaram na personalidade de Lula a crença de que ele tudo podia, dentro ou fora da lei, de que nada de ruim lhe aconteceria, bem como a convicção de se achar imbatível em termos eleitorais. Foi assim que Dilma conseguiu se reeleger; mais uma vez, a vocação para o crime de corrupção se apresentou em proporções nunca vistas, e o governo petista ofereceu ao país o que é tido como o maior esquema de corrupção da história mundial: o petrolão. Dilma acabou sofrendo impeachment pelas estripulias orçamentárias conhecidas como “pedaladas fiscais”.
Com o andamento dos processos de combate à corrupção, Lula acabou julgado, condenado e preso, mas, graças a reviravoltas da política e a distorções do sistema judiciário, Lula foi reabilitado pela canetada de um único ministro do Supremo Tribunal Federal, cuja sentença foi depois confirmada pelo colegiado do STF. Tornado ficha-limpa, venceu a eleição de 2022, mas o Lula 3 dá mostras de não ter aprendido nada em termos de política econômica com os 20 anos decorridos desde sua primeira posse, como também não aprendeu com a experiência de seu primeiro mandato. Voltando agora com ódio aumentado e sabedoria diminuída, sua gestão é desastrosa em quase todas as áreas do governo; um dos sinais é a perda de muitos dos apoios que recebeu durante a campanha.
Na economia, as bases do governo Lula nestes dez meses são um conjunto de erros que, se mantidos, custarão muito caro ao país. Entre as ações erradas de seu governo estão: 1. o abandono da lei que impunha teto aos gastos, revogada com o voto do Congresso Nacional; 2. desprezo pelo controle nas contas públicas, resultando em déficits fiscais elevados; 3. inchaço exagerado da máquina pública, a começar pelo excessivo número de ministérios, que vem causando gastos administrativos excessivos; 4. tentativa de revogar a autonomia do Banco Central, conquistada por meio de lei; 5. críticas renitentes ao presidente do Banco Central e à política de juros aprovada pelo Conselho de Política Monetária (Copom); 6. ameaça de aumento de tributos em várias frentes, verbalizada o tempo todo pelo ministro da Fazenda; 7. baixo investimento, especialmente em infraestrutura física, em função do crescimento da dívida pública, conforme foi denunciado pelo presidente do Banco Central; 8. pressão para o Congresso aprovar uma reforma tributária com aumento da carga tributária; 9. ameaça de revogar parcialmente a reforma trabalhista (como o exemplo da volta do imposto sindical); 10. ameaça de propor revogação parcial da reforma da Previdência.
Esse decálogo, que é apenas parte dos erros, tem elevado potencial para que o terceiro mandato de Lula seja uma espécie de alavanca às avessas, capaz de frear o crescimento econômico, impedir o desenvolvimento social e contribuir para mais uma década perdida. Os resultados somente poderão ser aferidos ao término do mandato, mas, como o mundo conhece bem a receita do fracasso econômico e social, os erros apontados indicam que o Brasil caminha rumo ao atraso.
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