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Lula e Brics
Reunião dos Brics na Rússia; na ausência de Lula, o Brasil está sendo representado pelo chanceler Mauro Vieira (de costas, ao centro).| Foto: Alexander Nemenov/Pool/EFE/EPA

O acidente doméstico sofrido pelo presidente Lula o impediu de viajar para a cúpula dos Brics, na Rússia, iniciada na terça-feira, dia 22; sua participação acabou limitada a um discurso lido por meio de videoconferência nesta terça-feira. Como apontaram acertadamente vários comentaristas, o petista acabou se livrando de aparecer sorridente em fotos com Vladimir Putin, o valentão da vez e pária entre as nações democráticas devido à invasão da Ucrânia; ou com o novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, líder de uma ditadura teocrática e financiadora do terrorismo internacional. Não que as imagens de congraçamento fossem um problema para Lula, que se sente muito à vontade nesse meio; mas elas certamente reduziriam ainda mais o já dilapidado prestígio do brasileiro diante do Ocidente.

Estando ou não em Kazan, Lula continua sendo um aliado dos anfitriões russos e dos demais ditadores e autocratas que estão nos Brics desde a sua fundação (como é o caso da China), ou os que acabaram de ingressar na recente expansão do bloco, como o Irã. O petista não precisa aparecer apertando a mão de Vladimir Putin para que o mundo saiba o que o brasileiro pensa sobre o conflito. Afinal, foram inúmeras as vezes em que Lula apelou para a falsa equivalência moral, considerando a Ucrânia e Volodymyr Zelensky tão responsáveis pelo conflito quanto Putin, igualando vergonhosamente o agredido ao agressor; da mesma forma, Lula já manifestou seu apoio ao plano de “paz” proposto pela China, que na prática equivale a uma rendição ucraniana, até mesmo no maior de todos os palcos globais, a Assembleia Geral da ONU.

Estando ou não em Kazan, Lula continua sendo um aliado dos anfitriões russos e dos demais ditadores e autocratas que estão nos Brics

A situação não é muito diferente em relação a um parceiro mais novo de Brics, o Irã. Na falta de uma foto de Lula com Pezeshkian na Rússia, já existe a imagem do vice-presidente Geraldo Alckmin ao lado de representantes da elite do terrorismo mundial na posse do presidente iraniano, em julho. Sem falar nas inúmeras notas do Itamaraty a respeito do conflito no Oriente Médio, em que as ações de Israel costumam ser condenadas nos termos mais duros, enquanto o recente ataque com quase 200 mísseis iranianos contra território israelense foi apenas acompanhado “com preocupação” – mesma expressão usada em abril, quando do primeiro ataque direto do Irã conta Israel, descrito candidamente como “relatos de envio de drones e mísseis do Irã em direção a Israel”.

Quem também está em Kazan é o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. A Venezuela é um dos vários países que pretendem fazer parte dos Brics e conta com o apoio de China e Rússia, mas não está na lista de 12 países que os atuais membros estão analisando para uma possível adesão. Segundo informações de bastidores, seria justamente o Brasil o responsável por Venezuela e Nicarágua estarem de fora. Mas só os muito desavisados veriam na postura brasileira qualquer tipo de movimento para levar democracia aos venezuelanos e livrá-los do ditador. Todos sabem que Maduro jamais entregará os tais boletins de urna, e mesmo assim Lula não dá o passo que entidades supranacionais, os observadores internacionais do pleito de julho e outros presidentes de esquerda (como o chileno Gabriel Boric) já deram: afirmar que houve fraude na contagem dos votos e que a declaração de vitória de Maduro é ilegítima. Lula, que já defendeu o ingresso da Venezuela nos Brics em 2023, pode ter mudado de opinião sobre esse assunto específico, mas continua reconhecendo tacitamente a manutenção do ditador no poder.

Lula não está pessoalmente na Rússia, mas a delinquência moral com a qual ele e seu chanceler de facto, Celso Amorim, dirigem a política externa brasileira certamente se fará presente. Os Brics se tornaram um clubinho de autocracias comandado especialmente pela China e pela Rússia, dedicado ao antiamericanismo e com a intenção de bater de frente com o Ocidente democrático. Um pacote que inclui desprezo pelas liberdades e garantias individuais, imperialismo expansionista e até patrocínio ao terrorismo, e que conta com o apoio, às vezes mais dissimulado, às vezes mais explícito, do Brasil petista.

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