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Lavoura de soja no Mato Grosso: bom desempenho do campo se reflete na indústria e no comércio.| Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná

O agronegócio brasileiro esteve no centro das notícias e discussões políticas provocadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023, aplicado aos estudantes concluintes do ensino médio. Em algumas questões da prova, o agronegócio foi criticado de forma clara como sendo causador de desmatamento, explorador do trabalho humano e poluidor. O Enem, assim faz coro ao presidente Lula, que, ainda durante a campanha eleitoral, criticou o agronegócio e chamou os produtores rurais de “fascistas”.

Por mais que o ministro da Educação e os responsáveis pela prova tentem se explicar e dizer que não se trata de doutrinação ideológica, as críticas negativas contra o agronegócio nas questões do Enem não deixam margem para dúvida. O governo ofereceu de forma explícita uma prova sobre a doutrinação esquerdista no sistema educacional público brasileiro. Há doutrinação esquerdista, sim, na estrutura da educação pública em todos os níveis, do fundamental ao superior, e as críticas contidas nas questões do Enem são uma mostra do que ocorre no dia a dia da educação.

O agronegócio é justamente o setor que mais evoluiu, cresceu e ajudou a impedir que o Brasil se tornasse um país miserável no padrão dos mais miseráveis do planeta

Seria honesto da parte dos doutrinadores se confessassem o que está provado materialmente: os formuladores da educação estatal brasileira optaram pela ideologia esquerdista e nem procuram esconder a doutrinação. Se assumissem publicamente o que está provado, haveria uma discussão mais honesta sobre se um governo tem o direito de doutrinar, ou se a educação deve se limitar a alfabetizar, ofertar ensinamentos científicos e técnicos, bem como ensinar as virtudes morais da bondade, da justiça e da cidadania.

Quanto ao agronegócio, é importante esclarecer que não se trata apenas da produção do setor primário (agricultura, pecuária, pesca e extrativismo), mas de algo que vai desde o campo até os consumidores. O produto, o emprego e a renda do agronegócio ocorrem numa longa cadeia produtiva e passam pela zona rural, transporte, indústria, comércio, armazenagem, exportação, a indústria de embalagem, energia, finanças e negócios internacionais.

Além de não ensinar aos estudantes brasileiros o que significa o grande segmento chamado “agronegócio”, as críticas em geral são feitas com base em informações falsas, mentiras e distorções. Desta vez, a edição do Enem 2023 nem tentou disfarçar e foi claro em condenar e acusar o agronegócio, justamente o setor que mais evoluiu, cresceu e ajudou a impedir que o Brasil se tornasse um país miserável no padrão dos mais miseráveis do planeta. Vale mencionar que a população mundial passou de 2 bilhões de habitantes em 1930 para 8,1 bilhões em 2023, ou seja, quadruplicando em menos de 100 anos, e o Brasil tornou-se um país decisivo para resolver o problema de como alimentar uma população que cresceu a altas taxas em tão pouco tempo.

A compreensão da importância do agronegócio requer voltar no tempo e examinar pelo menos as últimas oito décadas da história brasileira. Nos anos seguintes ao fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil seguia altamente dependente de suprimentos internacionais, e o abastecimento interno sofria com as crises cambiais que ameaçavam a capacidade do país de fazer importações. As crises cambiais eram recorrentes e consistiam na falta de moeda estrangeira para pagar as importações, moeda que somente pode ser obtida por uma nação por meio de exportações ou tomada de empréstimos nos bancos internacionais.

Os organismos internacionais criados após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, viam o Brasil como um país fragilizado em termos de segurança alimentar, segurança militar e segurança energética, a ponto de a diplomacia dos Estados Unidos no governo Truman ter alertado para a urgência de o Brasil aprovar legislação de estímulo ao ingresso de capital estrangeiro e a transferência de tecnologia, a fim de aumentar a produção e a produtividade.

A preocupação do governo norte-americano com a vulnerabilidade brasileira deu origem à criação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico, instalada em julho de 1951, sob a liderança do Ministério da Fazenda, e que produziu seus resultados até dezembro de 1953. Essa comissão desempenhou importante papel e marcou a história da economia brasileira, inclusive pelos projetos específicos direcionados ao uso do potencial brasileiro, com destaque para as prioridades nos setores de transportes, energia, componentes industriais e agricultura.

O agronegócio, que não está livre de problemas nem de críticas sérias, foi o setor que chega aos dias de hoje como o melhor exemplo de progresso e importância para o desenvolvimento econômico e social da nação

A partir dos anos 1950, com uma aceleração a partir dos anos 1970, o agronegócio brasileiro percorreu uma sequência de sucesso que, sobretudo nos últimos 50 anos, mudou a face do país em termos de aumento da produção, modernização, aumento da produtividade, abastecimento interno e a geração de excedentes destinados à exportação. O Brasil tornou-se um dos casos de maior sucesso de desenvolvimento do agronegócio e um dos principais países a garantir a segurança alimentar do planeta Terra, invertendo aquele quadro de país vulnerável a suprimentos externos e que era importador de alimentos para a população interna.

Naqueles anos do pós-guerra, mesmo no governo nacionalista de Getúlio Vargas, o Brasil teve a intuição correta do que fazer, mesmo porque os fatos mostravam claramente o elevado nível de vulnerabilidade econômica e os riscos de prosseguir dependente de suprimentos externos. O agronegócio, que não está livre de problemas nem de críticas sérias, foi o setor que chega aos dias de hoje como o melhor exemplo de progresso e importância para o desenvolvimento econômico e social da nação. O que não faz o menor sentido e joga contra os interesses da nação – e também contra as necessidades ligadas ao abastecimento alimentar do mundo – é a crítica leviana, sem base nos fatos e eivada de ideologia esquerdista sem base histórica e científica, sem contar o mal e o prejuízo incutido nas mentes de jovens estudantes no caminho da maturidade e do desenvolvimento educacional.

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