Não é apenas o Investimento Direto no País (IDP), valores que investidores estrangeiros aportam na “economia real”, por exemplo na construção ou ampliação de fábricas ou unidades, que está em queda no Brasil – em 2023, essas entradas caíram 17% na comparação com 2022. O mercado de capitais também está vivendo um momento de saída do dinheiro estrangeiro – foram R$ 7,9 bilhões em janeiro deste ano, segundo dados da B3, a bolsa de valores brasileira. E as políticas intervencionistas do governo Lula estão diretamente ligadas a esse desempenho, de acordo com analistas de bancos e consultorias internacionais ouvidos pela Gazeta do Povo.
É preciso ressaltar que este não é, nem de longe, o único fator que pesou na saída deste dinheiro estrangeiro até então aplicado em empresas listadas em bolsa no Brasil. Os juros nos Estados Unidos e na zona do euro se mantêm em patamares recorde nos dois casos, e ninguém sabe ao certo quando começará o afrouxamento monetário por parte do Fed e do Banco Central Europeu; esse fato, por si só, já alimenta a chamada “fuga para a segurança”, em que investidores deixam de aplicar em países emergentes e preferem obter ganhos menores em economias mais sólidas. Mas a percepção de que o governo Lula quer usar empresas, estatais ou privadas, para impor suas ideias acrescenta motivos para que o investidor estrangeiro pense duas vezes antes de ter ações brasileiras em seus portfólios.
A mão pesada do intervencionismo lulopetista quer até as empresas privadas, tenham ou não sido estatais um dia
Das estatais nem se fala, e não é à toa que o jornal britânico Financial Times escolheu uma foto da Refinaria Abreu e Lima para ilustrar uma reportagem sobre o medo da volta de um “capitalismo de Estado” (outros autores preferem a expressão “capitalismo de compadrio”) no Brasil, já que a unidade da Petrobras localizada em Pernambuco é um resumo perfeito da maneira como o petismo lida com as empresas que controla. Em seu conjunto, as estatais federais voltaram a dar prejuízo em 2023, com um rombo de R$ 656 milhões, o pior resultado desde 2017 – a conta não inclui nem Petrobras nem Eletrobras, que só foi privatizada em 2022.
A mão pesada do intervencionismo lulopetista, no entanto, quer também as empresas privadas, tenham ou não sido estatais um dia. O governo perdeu uma batalha na tentativa de ampliar sua ingerência dentro da recém-privatizada Eletrobras, mas ainda pretende vencer a guerra no STF, onde questiona trecho da lei que privatizou a empresa de energia e prevê que nenhum acionista terá poder de voto superior a 10%, independentemente de quantas ações possua. Na Vale, líder global em mineração, Lula ainda alimenta o sonho de colocar seu ex-ministro Guido Mantega – o pai do desastre econômico causado na primeira passagem do PT pelo Planalto – na presidência da empresa.
Enquanto o petismo não se apropria das gigantes privadas listadas em bolsa, ministros de Estado e aliados de Lula vão assumindo posições em conselhos de administração de outras empresas privadas Brasil afora, mesmo sem as qualificações técnicas necessárias para o posto. Na companhia de gás e eletricidade CEG estão os ministros dos Direitos Humanos, Silvio Almeida; e da Defesa, José Múcio Monteiro; o assessor especial e chanceler de facto Celso Amorim; e o ex-“número 2” do Ministério da Justiça Ricardo Cappelli. A metalúrgica Tupy tem como conselheiros os ministros da Igualdade Racial, Anielle Franco, e da Previdência, Carlos Lupi. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, encerrou recentemente uma passagem pelo conselho da BRQ, empresa de transformação digital. E o assessor especial Giles Azevedo é conselheiro da companhia de tecnologia da informação Quality Soft. Todos eles ocupam cadeiras cuja indicação cabe ao BNDES, que detém participação acionária nessas empresas.
Os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo afirmaram que o Brasil tem, hoje, uma posição privilegiada entre os emergentes, sem guerras, convulsões internas ou caos econômico. Mas o país está desperdiçando a chance de atrair mais investimentos, seja pelas linhas gerais da política econômica petista, obcecada por gasto e avessa à responsabilidade fiscal, seja por ações mais específicas como a ênfase no protecionismo e as tentativas de intervir na governança de empresas, estatais ou privadas. A queda no IDP representa uma diminuição da confiança no país no médio e longo prazos; a saída de estrangeiros da bolsa reflete o mesmo fenômeno, mas no curto prazo. Um estrago dessas dimensões é algo que só o petismo sabe entregar.
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