As palavras de uma língua nascem a partir de uma origem (geralmente uma língua anterior muitas vezes bastante antiga), ganham nova ortografia, morfologia e fonética, e passam a ser faladas e escritas na comunicação entre os seres humanos, por meio dos processos de construção de frases, que é o agrupamento de palavras com funções específicas dentro do texto. A comunicação falada e escrita entre as pessoas faz da linguagem uma das mais belas características dos humanos, o único ser com capacidade de exprimir pensamentos, ideias, sentimentos, vontades e informações por esse meio. Toda língua sofre a influência de outras línguas e culturas, de forma que sua riqueza vocabular se amplia de forma inesgotável. A língua portuguesa falada no Brasil é um arcabouço de vocabulário rico que, sem preconceitos, recebeu a influência de dezenas de línguas, entre elas o inglês, o alemão, o francês, o árabe, o italiano e o espanhol.
Porém, ocorre um fenômeno social espontâneo que toma uma palavra e lhe atribui mais de um significado, até mesmo com sentido oposto em alguns casos. Quando uma palavra ou expressão pode ser tomada com sentidos diferentes ou com sentidos opostos, a comunicação fica prejudicada, sendo necessário adicionar notação a respeito do significado que lhe está sendo dado por aquele que a expressa. Há tempo, é isso que vem ocorrendo com a palavra “nacionalismo”, especialmente em cotejo com a palavra “patriotismo”. A confusão requer esclarecimento e definição de seu significado e contexto para que não pareça se estar dizendo uma coisa quando se quer dizer outra diferente.
Enquanto o patriotismo é favorável à integração com o mundo e à abertura internacional, por entender que as elas favorecem o desenvolvimento, o nacionalismo é o oposto: limita a integração e, por isso, priva o país dos benefícios trazidos por inovações e tecnologias
Se “nacionalismo” vem de “nação” e “patriotismo” vem de “pátria”, e considerando que “nação” é um território, devidamente demarcado, que abriga um povo sob a mesma língua (ou línguas), a mesma Constituição, o mesmo governo e afinidades culturais, e que “pátria” é o local onde se nasce e ao qual se pertence como cidadão, parece aceitável definir “nacionalismo” e “patriotismo” com o mesmo significado. Ou seja, “nacionalista” e “patriota” seria alguém que respeita, ama, defende e tem devoção a sua nação, sua pátria... ou seu país (mais uma palavra próxima das outras duas). Essa introdução é necessária para justificar que é até aceitável a compreensão comum de que nacionalismo e patriotismo signifiquem a mesma coisa. Porém, ao aprofundar e refinar os significados, nas disciplinas da Economia, Sociologia e Ciência Política atribui-se uma diferença essencial entre os significados de nacionalismo e patriotismo.
A importância da distinção entre as duas expressões está no fato de que ambas estão sempre presentes nos discursos, propostas e planos de governo, como também no debate público eleitoral. Agora mesmo, em face do 7 de Setembro e sua importância como a data da independência do Brasil em relação ao império de Portugal, acrescido do fato de que o Brasil está completando 200 anos desde sua independência, o nacionalismo e o patriotismo entraram na ordem do dia e nas falas públicas, estimulados por este momento de eleições federais e estaduais.
A diferença essencial se resume em um ponto: o patriotismo é uma característica de quem ama, defende, respeita e faz o melhor pelo progresso de sua pátria (sua nação ou seu país, como se queira), mas sem nenhuma rejeição ou negação do que vem de outras nações, pelo contrário: o patriotismo é “integracionista” e busca ligar a nação com o resto do mundo para compartilhar, comercializar e importar o que for capaz de ajudar a nação a se desenvolver. O patriotismo implica abrir a nação para o exterior, importar e exportar, estimular a vinda de capitais estrangeiros para o país, importar as inovações e as tecnologias modernas necessárias ao crescimento econômico e facilitar o fluxo de mercadorias, capitais, pessoas e operações econômicas em geral. Assim, o patriotismo é essencialmente integracionista, jamais rejeicionista.
Já o nacionalismo passou a constar da literatura política, econômica e sociológica como sendo uma doutrina que prega a defesa da nação, porém rejeitando a abertura ao exterior e fechando o país à integração econômica, financeira, comercial, tecnológica e cultural. Em nome do nacionalismo, há alguns anos chegou-se ao extremo de tentar a proibição do uso de palavras estrangeiras no Brasil, e projetos de lei foram apresentados por deputados federais em momentos diferentes. A Coreia do Norte, país de um comunismo ferrenho, age assim, isto é, rejeitando até mesmo palavras estrangeiras mesmo quando são apenas denominações para máquinas ou tecnologias que o mundo não conhecia. Parece algo sem importância, mas esse tipo de atitude é um dos símbolos do nacionalismo rejeicionista.
Dito isso, enquanto o patriotismo é favorável à integração com o mundo e à abertura internacional, por entender que as políticas feitas com base nesse princípio favorecem o desenvolvimento do país, o nacionalismo é o oposto: rejeita a abertura internacional, limita a integração com o resto do mundo e, por isso, priva o país dos benefícios das inovações e tecnologias inventadas em outras nações. A propósito, a economia brasileira é considerada uma das mais fechadas do mundo e, sob esse aspecto, os governos brasileiros sempre foram nacionalistas, portanto rejeicionistas, especialmente nas décadas de 1950 a 1970, época em que o país poderia ter alcançado o desenvolvimento econômico e social se, depois da Segunda Guerra Mundial, a doutrina abraçada pelos políticos, governo e sociedade fosse o patriotismo sem nacionalismo.
Nos anos 1970, por exemplo, houve uma onda de rejeição e hostilização às empresas multinacionais sob a ação de vários parlamentares federais, principalmente deputados e senadores filiados ao antigo MDB, com viés esquerdista. Essa onda em nada serviu ao Brasil e acabou por afugentar investidores estrangeiros que poderiam ter despejado bilhões de dólares em empresas instaladas no território nacional. A prática rejeicionista já havia prosperado na década de 1950, fazendo que o Brasil, altamente dependente de suprimentos internacionais, seguisse atrasado, com baixo crescimento e perigosamente vulnerável a importações, sem as quais o país entraria em colapso. Tudo isso feito em nome de um suposto “nacionalismo”, palavra bonita usada por governantes e políticos para convencer a população de que eles eram verdadeiros defensores do Brasil, quando sua prática significava dificultar a inserção internacional da economia brasileira e retardar a absorção de tecnologias estrangeiras, políticas que impediram o país de superar o subdesenvolvimento, apesar de suas riquezas naturais abundantes.
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