A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, concedeu na segunda-feira sua primeira entrevista coletiva depois de ter seu nome aprovado pelo Conselho de Administração da estatal, na sexta-feira passada. Ela substitui Jean Paul Prates, demitido por Lula por não cumprir totalmente as vontades do presidente da República, perdendo uma disputa interna com os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa. Todas as circunstâncias da troca de comando na petrolífera levaram o país a enxergar a nova presidente como uma mera executora das vontades de Lula, o autodeclarado “dono” da Petrobras, vontades essas que seriam extremamente nocivas para o desempenho da empresa. Foi essa impressão que Chambriard tentou desfazer na entrevista, com maior ou menor sucesso dependendo do tema.
Para tentar acalmar investidores, por exemplo, Chambriard adotou um discurso evasivo sobre a política de dividendos, a causadora da primeira grande crise entre Prates e Lula. Falou, por exemplo, em “ser rentável e ao mesmo tempo atender aos interesses dos acionistas majoritários e minoritários”, sem entrar em muitos detalhes sobre quais seriam esses interesses. Ironicamente, o mesmo governo que forçou a mão para reter os dividendos extraordinários, com o argumento de que eles seriam melhor usados se fossem reinvestidos na estatal, agora quer o dinheiro, a ponto de já contar com uma distribuição de 100% em documento recentemente enviado ao Congresso. O giro de 180 graus se explica: incapaz de cortar gastos e sem conseguir arrancar ainda mais impostos dos contribuintes, esses dividendos, estimados em R$ 14 bilhões, ajudarão a atenuar o buraco fiscal em que Lula está jogando o país.
Ambiguidade também foi a marca da resposta sobre o grau de ingerência de Lula na nova administração da Petrobras. “A Petrobras é uma empresa de economia mista. Ela roda com uma diretoria colegiada, da qual eu participo, submetida a um Conselho de Administração, que é conhecido e eu também participo. A lógica empresarial é essa”, afirmou Chambriard. De fato, a lógica empresarial é esta, mas a lógica da Petrobras não é bem a lógica empresarial. Se fosse, a estatal ainda seria presidida por Prates, ou mesmo por algum outro executivo mais disposto a bater de frente com os interesses de Lula quando eles se chocassem com os interesses da empresa.
E bater de frente com Lula certamente não está nos planos de Chambriard, a julgar por sua defesa da retomada dos investimentos no segmento de fertilizantes e em refinarias, bem como os acenos à indústria naval com políticas de conteúdo local. O abandono da política de desinvestimento que pretendia fazer a Petrobras se concentrar em atividades mais lucrativas e que ela executa com excelência – caso da extração de petróleo – é uma decisão de negócios questionável; já a decisão de usar a estatal para re-estimular a indústria naval, que Chambriard disse na coletiva ser uma “obrigação”, além de fazer a Petrobras pagar mais caro para ter o que ela poderia conseguir a preços mais baixos com fornecedores estrangeiros, já se mostrou ser uma porta escancarada para a corrupção, como bem demonstrou a Operação Lava Jato.
A julgar pela repercussão imediata da entrevista, medida pelo desempenho das ações da Petrobras, o mercado financeiro parece ter sido tranquilizado, ao menos temporariamente. No entanto, as futuras ações de Magda Chambriard à frente da estatal é que serão importantes. De nada adianta um discurso apaziguador que não seja efetivamente confirmado em decisões de negócios, sem falar na defesa explícita, feita pela nova presidente, de muitas políticas de investimento que são comprovados retrocessos. É então que veremos qual é o verdadeiro grau de autonomia de Chambriard, e para onde ela – por conta própria, ou sob as ordens de Lula e Silveira – está levando a maior empresa do Brasil.
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