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Preservação ambiental foi fundamental para amenizar o impacto da estiagem na produção de energia em Itaipu.
Preservação ambiental foi fundamental para amenizar o impacto da estiagem na produção de energia em Itaipu.| Foto: Rubens Fraulini / Itaipu Binacional

A Hidrelétrica de Itaipu comemora nesta sexta-feira (3) o plantio de 24 milhões de árvores na margem brasileira da represa. Ação que faz diferença não só para o meio ambiente, como para a produção da própria usina, responsável por 10,8% da energia elétrica consumida no Brasil. Principalmente neste período de estiagem, a pior no Paraná em 91 anos.

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“Se não fosse todo o cuidado ambiental, teríamos uma queda do nível de água tão grande que poderia impedir a produção de energia”, aponta o diretor de Coordenação do lado brasileiro de Itaipu, o general Luiz Felipe Carbonell, quando questionado qual seria o impacto da seca na hidrelétrica se não fosse o manejo florestal.

Entre julho e agosto desse ano, Itaipu registrou a pior afluência -  quantidade de água que chega ao reservatório - desde que a usina passou a operar há 37 anos. Cenário que obrigou a hidrelétrica a ter apenas oito das 20 turbinas em atividade nesses dois meses. Neste momento, 12 das 20 turbinas estão em operação. “Graças a essa reserva florestal tivemos capacidade de produzir água mesmo na pior estiagem em mais de 90 anos. A mata cria barreiras de contenção e ao mesmo tempo filtra a água”, reforça Carbonell.

Desde o início da estiagem em 2019, Itaipu abriu suas comportas somente uma vez, em maio de 2020. E a abertura não foi por excesso de água na barragem, pelo contrário. Foi para aumentar o volume de água no Rio Paraná para que Argentina e Paraguai pudessem escoar suas safras de grãos.

Mudas de árvores nativas mantidas por Itaipu a partir de sementes colhidas na reserva ambiental da própria usina. Foto: Sara Cheida / Itaipu Binacional
Mudas de árvores nativas mantidas por Itaipu a partir de sementes colhidas na reserva ambiental da própria usina. Foto: Sara Cheida / Itaipu Binacional| Sara Cheida / Itaipu Binacional

O superintendente de Gestão Ambiental de Itaipu, Ariel Scheffer, explica que 18% da água que abastece o reservatório é de rios da região. O que reforça a necessidade do trabalho ambiental. “Por isso esse manejo de árvores é essencial, para que as cabeceiras dos rios não sofram com erosão”, enfatiza Scheffer.

Ao longo dos anos, sedimentos levados pelos rios se depositam no fundo do reservatório, o que exige cuidado especial para que a capacidade de armazenamento de água do reservatório não diminua, o que teria impacto direto na produção de energia. “Se o reservatório deixa de ter vida útil, a perda em termos financeiros seria entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões”, estima Scheffer.

Por ano, cerca de 13,4 mil toneladas de sedimentos se formam na barragem. Praticamente o mesmo montante movimentado na tragédia do rompimento da Represa de Brumadinho, em Minas Gerais, em 2019.

Volume que seria muito maior e colocaria em risco a produção de energia de Itaipu não fosse o trabalho ambiental. “Quanto mais árvores com raízes densas, mais conseguimos segurar água, evitando o assoreamento”, reforça o general Carbonell. "Acredito que em 120 anos teremos que partir para dragagem do lago, o que é extremamente caro. Por isso o manejo florestal traz resposta ambiental, mas também financeira", reforça o diretor de Coordenação de Itaipu.

Refúgio biológico

O trabalho de restauração ambiental de Itaipu começou em 1979, antes mesmo de a hidrelétrica operar, com implantação da floresta ciliar e criação de refúgios biológicos no entorno da represa.

Porém, o ano de 1984 ficou marcado na história da usina não só pela inauguração da primeira turbina, como também pela criação do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), unidade de conservação de fauna e flora referência no setor elétrico. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, Itaipu é a principal responsável por regenerar áreas florestais no Paraná, com quase 30% de recuperação do bioma só nos últimos 30 anos.

Com 1.780 hectares, o RBV é um posto avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) que se estende por 160 km de Foz do Iguaçu à cidade de Guaíra, ligando o Parque Nacional do Iguaçu às áreas protegidas de Itaipu e do Parque Nacional de Ilha Grande, na divisa do Paraná com Mato Grosso do Sul. Nesse trecho estão as 24 milhões de árvores plantadas pela hidrelétrica que substituíram áreas de pastagens e gramíneas.

Também faz parte do refúgio o Zoológico Roberto Ribas Lange, aberto para visitação do público e que abriga 172 animais de 50 espécies, incluindo onças. Com um hospital veterinário, o zoológico abriga não só animais nascidos no próprio criadouro, como os que estão em situação de risco encaminhados por órgãos ambientais, muitos de apreensões.

É no zoológico que Itaipu obteve um dos resultados mais bem-sucedidos no trabalho de conservação ambiental: a reprodução em cativeiro de 56 harpias. Maior ave de rapina do Brasil, podendo pesar até 9 kg, a harpia é símbolo do Paraná, com a imagem no brasão oficial, mesmo extinta na natureza não só no estado como na maior parte do país. Uma das poucas regiões onde a harpia ainda é avistada no país é a Amazônia.

Até o trabalho de criação de harpias em Itaipu, nenhuma outra unidade de conservação do mundo havia conseguido reproduzir a ave em cativeiro. O processo começou em 2001, quando chegou o primeiro casal de aves. Mas a primeira reprodução só aconteceu oito anos depois, em 2009. Em 12 anos nasceram 56 harpias - média de quase cinco por ano -, mas apenas 35 sobreviveram

Refúgio ambiental de Itaipu é o único que conseguiu reproduzir harpias em cativeiro, animal que consta no brasão oficial do estado do Paraná. Créditos: Sara Cheida / Itaipu Binacional e Governo do Paraná
Refúgio ambiental de Itaipu é o único que conseguiu reproduzir harpias em cativeiro, animal que consta no brasão oficial do estado do Paraná. Créditos: Sara Cheida / Itaipu Binacional e Governo do Paraná| Sara Cheida-Itaipu Binacional / Governo do Paraná

Algumas das harpias nascidas na RBV foram cedidas para zoológicos e unidades de conservação de outros países, como França, Alemanha e Estados Unidos, para preservação de material genético. Isso porque as condições ambientais ainda não permitem a soltura das aves na natureza.

O médico veterinário Pedro Telles, da Divisão de Áreas Protegidas de Itaipu, explica que o ecossistema tem que estar preparado para receber a harpia. Isso porque a ave consome um volume grande de animais de grande porte em um curto raio de distância, de aproximadamente 10 km a partir do ninho.

“A harpia precisa de acesso fácil às presas, com uma estrutura florestal grande. Se tiver de buscar o dia todo, ela perde muita energia. E vale lembrar que nem sempre que ela dá o bote consegue capturar a presa”, explica Telles. “Por isso costumamos dizer que o ciclo total de recuperação ambiental só vai estar completo quando pudermos soltar as harpias na mata”, avalia o veterinário.

Cinturão verde

O trabalho de preservação ambiental que mantém a produção de energia de Itaipu também envolve colaboração dos agricultores das propriedade no entorno do lago.

A Fazenda Santa Maria, criadora de gado e soja na cidade de Santa Terezinha de Itaipu, cedeu há 20 anos uma área de 4 km de extensão por 60 metros de largura para criação de um cinturão verde. Técnicos de Itaipu plantaram nessa área mudas nativas para fazer a ligação florestal de duas importantes microbacias: a do Rio Apapú, que corre para o Parque Nacional do Iguaçu, e do Rio Bonito, que desagua na represa de Itaipu.

Cinturão verde criado dentro da Fazenda Santa Maria a partir do plantio de árvores feito por Itaipu. Crédito: Jarbas Teixeira / Itaipu  Binacional
Cinturão verde criado dentro da Fazenda Santa Maria a partir do plantio de árvores feito por Itaipu. Crédito: Jarbas Teixeira / Itaipu Binacional| Jarbas Teixeira / Itaipu Binacional

Nessa área de 73 hectares foram plantadas 128 mil mudas que são protegidas por 76 km de cercas instaladas ao longo do corredor. Além desse maciço vegetal, a fazenda conta ainda com uma área de 906 hectares preservados há 70 anos. A floresta na Fazenda Santa Maria é a segunda maior área de Mata Atlântica no interior do Brasil, fica atrás apenas do próprio Parque Nacional do Iguaçu. O espaço recebeu da União no início dos anos 1990 a outorga de Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), o que proíbe por lei a derrubada desta mata.

“Antes do corredor verde, tínhamos muito problema de caça na região. Agora a gente vê os animais livres. Quando o corredor começou, a gente via revoada de 20, 30 passarinhos. Hoje não dá nem para imaginar quantos são de tantos passarinhos. Tucano a gente via uma vez por ano e olha lá. Agora vejo tucano todo dia”, ilustra a dona da fazenda, Giovanna Machado.

Além do impacto ambiental, Giovanna ressalta que a preservação traz também resultado na produção da fazenda. “A principal questão é a água, que não deixa o solo arenoso. Tem terreno que você joga água e a terra chupa de uma vez. Aqui não. A absorção leva mais tempo”, explica.

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