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Canal de acesso

Quem é o consórcio que derrubou os chineses em leilão estratégico ao setor portuário

Porto de Paranaguá passa por leilão para canal de acesso
Calado do porto de Paranaguá aumentará de 13,1 metros para 15,5 metros. (Foto: Rodrigo Felix Leal/Governo do Paraná)

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Na última semana, o consórcio belga-brasileiro Canal Galheta Dragagem (CCGC) venceu o leilão de concessão do canal de acesso ao Porto de Paranaguá (PR) após uma disputa acirrada com a chinesa CHEC Dredging. Realizado na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, o certame terminou com uma outorga de R$ 276 milhões e um desconto de 12,6% sobre a taxa Inframar, paga pelas embarcações para acessarem o porto.

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Em lances por viva-voz, o CCGC superou a concorrente chinesa após 20 rodadas. A CHEC Dredging havia iniciado a disputa com oferta de R$ 86,1 milhões, enquanto o consórcio belga-brasileiro entrou com R$ 160,2 milhões.

O consórcio CCGC barrou o ímpeto da chinesa CHEC Dredging, que tentava expandir operações no Brasil. Em 2023, em conjunto com outra empresa belga Jan De Nul — que também participou do leilão do canal de acesso de Paranaguá —, fez a dragagem do porto do Rio de Janeiro. A chinesa havia tentado vencer a concorrência pela dragagem de Santos (SP) em 2019 e Vitória (ES) em 2021, mas foi derrotada nas duas licitações.

Estrutura societária e papéis no consórcio que conta com a maior empresa de dragagem do mundo

O consórcio vencedor do leilão estratégico ao setor é formado pela brasileira FTSPar, com 30% das ações, e pela belga Deme, que detém 70%. A Deme é considerada a maior empresa de dragagem do mundo e ficará responsável pela parte técnica da operação.

Já a FTSPar, com quatro décadas de presença no litoral paranaense, será responsável pela gestão institucional, o relacionamento com os operadores e o atendimento às autoridades portuária e marítima.

“A gente fez uma aproximação entre quem tem expertise local com uma competência e excelência global, que é a Deme. Com esse entrelaçamento, quem sabe futuramente podemos olhar outras coisas juntos, mas agora vamos focar no canal de Paranaguá”, disse à Gazeta do Povo Luiz Maragliano, diretor-executivo da FTSPar, após o leilão.

Grupo belga tem experiência de dragagem em grandes portos europeus

Parte do consórcio CCGD, o grupo belga Deme realiza trabalhos de dragagem no Brasil desde 1996 sob o nome Dragabras Serviços de Dragagem. No portfólio da empresa no país estão serviços no porto de Santos, o maior da América Latina, em Sepetiba (RJ) e em Rio Grande (RS) — este em consórcio com a também belga Jan De Nul.

Nos últimos anos, o grupo vinha participando de licitações para dragagens em portos brasileiros, mas sem sucesso. No ano passado, entrou na disputa pela dragagem do cais da Gamboa e de Barra Grande, no porto do Rio de Janeiro, mas a brasileira DTA Engenharia venceu o certame.

Apesar de atividades pontuais no Brasil, a Deme carrega décadas de experiência em todo o mundo nesse tipo de serviço, concentrado principalmente na Europa, mas também no Canal do Panamá, na África, Oriente Médio, Ásia e Oceania. Grandes portos, como Antuérpia, Roterdã e Le Havre já contaram com dragagem da Deme.

O grupo belga conta com uma frota de quase 50 embarcações dedicadas para serviços de dragagem. Parte da frota está dedicada à preparação para a construção da cidade flutuante Oxagon, na Arábia Saudita, que integra um complexo industrial e um porto totalmente automatizado.

FTSPar tem 40 anos de operação e expansão contínua

Fundada no Paraná, a FTSPar controla um grupo de oito empresas com terminais em Paranaguá e Antonina, e projeta faturar R$ 600 milhões em 2025, ante R$ 500 milhões no ano passado. A empresa tem ampliado presença no setor portuário por meio de novos contratos de arrendamento e investimentos de R$ 2,5 bilhões.

Entre os principais empreendimentos estão o Terminal Oeste de Exportação (Toex), que começou a operar em junho e possui contratos firmados para movimentar 3 milhões de toneladas por ano pelos próximos 10 anos, e o Par09, no corredor oeste de exportação, com investimento estimado em R$ 1,1 bilhão.

A companhia também administra o terminal de açúcar Fortepar, o pátio privado Fast Fresh e a área Forte Solo Grãos, que será modernizada para abrigar um novo terminal no berço 206. Em Antonina, a empresa controla 70% do Porto Ponta do Félix, com área de 400 mil metros quadrados e movimentação anual de cerca de 2 milhões de toneladas.

Por que o calado do Porto de Paranaguá é estratégico

Maragliano afirma que a motivação para disputar o leilão foi garantir agilidade e previsibilidade à manutenção do calado, ou seja, a profundidade mínima necessária para entrada de navios, que hoje depende de processos públicos lentos e burocráticos.

“Quando está na mão da gestão pública, os processos são mais demorados. Saber que vamos ter controle disso, conseguir ser mais céleres, mais assertivos e garantir a manutenção do calado para os nossos clientes é fundamental”, afirmou.

Ele explica que o calado afeta diretamente os custos logísticos e a competitividade dos portos brasileiros. “Para cada um metro de calado, você tem 7 mil toneladas a mais que pode embarcar. Com um calado maior, você consegue trazer navios com carregamento maior. Quando o navio precisa parar em outro porto para aliviar carga, é um custo a mais. Então, a questão do calado é vital para todos os tipos de segmentos de carga”, afirmou.

Os investimentos previstos para o projeto do canal do Porto de Paranaguá serão realizados de forma escalonada, com os aportes mais pesados a partir do terceiro ano da concessão. O financiamento, segundo Maragliano, será inicialmente privado, com possibilidade de operações de crédito no Brasil.

“Estamos trabalhando bastante, mas por enquanto é privado o dinheiro. Obviamente que a gente vai buscar todas as formas de financiamento que estão sendo estudadas”, disse. A margem de lucro da FTSPar gira entre 28% e 30%, segundo o executivo, resultado da diversificação das operações em fertilizantes, açúcar e grãos.

Concessão do canal de acesso ao Porto de Paranaguá abre novo ciclo portuário

Com a vitória sobre a concorrente chinesa, o consórcio CCGC se torna protagonista do primeiro modelo de concessão de canal de acesso portuário do país, um projeto que transfere à iniciativa privada a responsabilidade pela dragagem e manutenção da profundidade de navegação.

O modelo inaugura um novo ciclo de parcerias público-privadas no setor portuário, combinando capital estrangeiro, gestão local e eficiência técnica. Se bem-sucedido, pode servir de referência para outras concessões semelhantes no Brasil.

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