A curitibana Ana Wanke largou a carreira de engenheira, com mestrado e tudo, para fazer caminhadas e turismo de aventura pelo mundo - e a trajetória dela ilustra bem um desafio do Paraná no setor. Boa parte dos roteiros dela está no estado – incluindo uma rota por campos de camomilas, em Mandirituba (na região metropolitana de Curitiba), e um passeio em meio a uma plantação de oliveiras com produção própria de azeite de oliva, em Ventania (no centro do Paraná). Isso sem falar na noite de Superagui, no litoral do estado, quando pedacinhos fluorescentes de plâncton se espalham pelas areias e pelo mar, num espetáculo que pouquíssimas pessoas conhecem.
“As pessoas me perguntam: como é que você descobriu isso?”, conta. “São tradições e roteiros que já estão aí, aguardando serem descobertos. O turista quer conhecer o interior do estado, falar com os moradores, comprar o artesanato local, ver as belezas nativas.”
Para Antonio Azevedo, presidente da Abav-PR (Associação Brasileira das Agências de Viagem no Paraná), esse tipo de história mostra que o Paraná tem uma grandeza de atividades turísticas ainda desconhecidas, e que precisam ser divulgadas.
Esse, aliás, é quase um mantra de quem trabalha com turismo no estado: o Paraná precisa se vender. Um processo que, para muita gente, passa por uma busca quase íntima de autodescoberta, de bater a mão no peito e ter orgulho da identidade local.
“Em geral, nós somos autofágicos”, comenta Rafael Andreguetto, diretor técnico da Paraná Turismo. “Não costumamos ter orgulho do que somos e temos. Somos muito autocríticos.” Para ele, a identidade do paranaense é múltipla: caiçara, indígena, quilombola, italiana, japonesa, alemã, ucraniana, entre tantas outras culturas.
Trabalhar com o paranaense como o primeiro turista do seu próprio estado é um dos objetivos do governo. “A gente quer transformar esse paranaense numa mola propulsora”, comenta o secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável e Turismo, Marcio Nunes. Projetos como o retorno da Maria Fumaça entre Morretes e Antonina, a implantação de navios de cruzeiro no litoral e a concessão de parques estaduais e aeroportos estão entre as prioridades da gestão para estimular o turismo.
Nunes também propõe algumas provocações: por que não, sugere, criar um aeroporto em meio à Mata Atlântica paranaense? Perguntado se a ideia não ameaçaria a área de floresta e traria impactos indesejados ao meio ambiente, ele estica um pequeno clips de papel sobre uma mesa de reuniões para dez pessoas. “Nós estamos falando disso aqui [aponta para o clips]. Vamos discutir, apontar caminhos. Não temos medo do debate, porque eu não sou de lado nenhum. Mas acredito que desenvolvimento e meio ambiente podem andar juntos.”
O primeiro passo é que cidades e regiões do Paraná comecem a se posicionar como produtos e destinos turísticos. “É preciso de um pouquinho mais de clareza; que as cidades se posicionem, que tenham gente para receber os turistas. Se você não vende, ninguém compra”, diz Pedro Kempe, dono de uma agência de turismo e vice-presidente da Abav-PR.
Ele recomenda que o empreendedor invista em infraestrutura, formalização e capacitação. Entidades como Sebrae, Fecomércio, Emater, Senar, governo estadual e a própria Abav têm realizado cursos e orientado pequenos empresários, muitas vezes de forma gratuita. Mas o principal investimento demandado pelo turismo é em marketing – para que as pessoas saibam para onde ir. “O turismo tem que ser trabalhado; tem que regar”, diz Azevedo.
O público-alvo, além do próprio paranaense, está nos estados próximos, em especial São Paulo e Santa Catarina. Países vizinhos, como Paraguai e Argentina, também são alvo.
Além dos negócios
O cenário tem animado quem investe. “Eu não posso reclamar, porque minha demanda só tem crescido”, diz a empresária e agente de viagens Bibiana Antoniacomi, que se especializou em roteiros por Curitiba e região. A vocação para eventos e negócios atrai muita gente à cidade – e esses executivos e congressistas só precisam de um empurrãozinho para virarem também turistas de lazer.
“Antes, quando vinha um feriado ou fim de semana, a gente ficava desesperado: ‘lá vem isso para estragar nosso faturamento’”, brinca Paulo Iglesias, presidente do CCVB (Curitiba e Região Convention & Visitors Bureau) e empresário no ramo hoteleiro. “Hoje, mudou completamente. Fim de semana tem ocupação muito boa. Porque, apesar da vocação para negócios, o turismo de lazer em Curitiba vem aumentando ano a ano.”
Segundo Andreguetto, da Paraná Turismo, os preços competitivos em relação a outros destinos nacionais, além da exposição da cidade na mídia em tempos de Lava Jato (ainda que de forma inconsciente), ajudaram a tornar a capital paranaense mais conhecida e visitada.
O que é que o Paraná tem
O Paraná possui 14 regiões turísticas mapeadas, cada uma com seus atrativos e peculiaridades. Tem roteiro para todo gosto: ecoturismo, passeios de aventura, destinos religiosos, circuitos rurais, atrações históricas e roteiros gastronômicos. Vai fazer uma viagem a negócios ao Paraná? Está visitando um parente? De leste a oeste, veja o que se pode conhecer no Paraná:
- Litoral: além do passeio de trem pela Serra do Mar e do barreado, a região se destaca por santuários ecológicos como a Ilha do Mel e a Ilha de Superagui. Oferece produtos locais como a bala de banana, a cachaça, a tainha e a farinha de mandioca
- Rotas do Pinhão: no entorno de Curitiba, que se destaca pelo planejamento urbano, parques e museus, há rotas de turismo rural, como o Circuito Italiano de Colombo, e o Caminho do Vinho, em São José dos Pinhais. Também é possível fazer escaladas, rafting e trilhas no parque do Marumbi
- Campos Gerais: situada entre campos e escarpas, a região tem atrativos naturais como o cânion do Guartelá e o Parque Estadual de Vila Velha. Colônias de imigrantes em Witmarsum, Castro e Carambeí vivenciam as tradições alemã e holandesa, com pratos típicos como o pão no bafo, em Palmeira. Túneis ferroviários desativados são usados para passeios offroad
- Norte Pioneiro: uma das portas de entrada da colonização no Paraná, é marcada pela religiosidade demonstrada na Rota do Rosário, que reúne 11 santuários na região. A produção de cafés especiais, o turismo rural e atividades náuticas em represas da região também atraem turistas
- Norte do Paraná: marcada pela imigração japonesa e pela cultura cafeeira, a região oferece vastas paisagens rurais, a Rota do Café e uma das mais altas temperaturas do Paraná. O turismo náutico no rio Paranapanema, com grandes reservatórios, contará em breve com o primeiro hotel da rede Hard Rock no Brasil
- Vale do Ivaí: o principal potencial da região está no turismo religioso, em cidades como Lunardelli e Apucarana, e nas belezas naturais, que são exploradas pelo turismo rural e em caminhadas
- Ecoaventuras, Histórias e Sabores: pousadas rurais e santuários são os principais atrativos do noroeste do Paraná, que também abriga ruínas arqueológicas de uma cidade espanhola colonial, em Fênix, e o tradicional prato do Carneiro no Buraco, em Campo Mourão
- Corredores das Águas: com altas temperaturas no verão, a região é procurada por seus balneários de água doce e atividades como o mergulho de cilindro no rio Paraná, um dos maiores rios do Brasil, para a observação de peixes, tartarugas e até embarcações afundadas a até dez metros de profundidade
- Entre Morros e Rios: cavalgadas, tropeadas e pousadas rurais mantêm viva a herança dos tropeiros. Trechos do lendário Caminho do Peabiru, estrada milenar que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico, também cortam a região e vêm sendo explorados por pesquisadores
- Cataratas e caminhos: terra das Cataratas do Iguaçu, a região tem balneários de água doce ao redor do Lago de Itaipu e alguns parques termais. Rotas religiosas, turismo de pesca e cicloturismo também são opções para o visitante, além da grande área de floresta preservada
- Riquezas do Oeste: polo da agroindústria no Paraná, se destaca pelo Porco no Rolete e por eventos automobilísticos como arrancadões, rallys e fórmulas truck
- Lagos e Colinas: margeada pelo rio Iguaçu, a região tem inúmeros reservatórios hidrelétricos que servem para a prática de atividades náuticas e pesca esportiva
- Terra dos Pinheirais: o destaque natural são as cachoeiras gigantes em Prudentópolis. As colonizações ucraniana, alemã e italiana também marcam a região, que oferece um roteiro da cevada em Guarapuava e a Rota do Vinho, em Bituruna
- Vales do Iguaçu: na divisa com o oeste de Santa Catarina, tem forte colonização italiana com potencial para o turismo rural. O clima frio e as reservas de araucárias marcam o território, que também oferece opção de compras na divisa com a Argentina
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