Em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, os eleitores de Fazenda Rio Grande elegeram um médico para assumir a prefeitura pelos próximos quatro anos. Ex-vice-prefeito e vereador mais votado até hoje na história da cidade, Dr. Nassib Kassem Hammad (PSL) é cardiologista, natural de Altônia, no Noroeste do Paraná, e vive desde 1999 no município, onde trabalha na unidade de pronto atendimento (UPA) municipal, além de atuar também no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul.
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À espera da vacina contra o novo coronavírus, quer implantar um protocolo de tratamento precoce para pacientes com Covid-19, com medicamentos como a hidroxicloroquina. “Melhor os efeitos colaterais do que o óbito”, justifica. Apesar de não ter a eficácia cientificamente comprovada, um grupo de médicos no Brasil e no mundo vem usando o medicamento com base em estudos empíricos.
Sua principal promessa de campanha é a construção de um hospital municipal, que pretende executar por meio de uma parceria público-privada. Aliado de Toninho Wandscheer (Pros), ex-prefeito de Fazenda Rio Grande e líder da bancada paranaense na Câmara dos Deputados, diz que vai buscar emendas federais para investir em infraestrutura, com o objetivo de reduzir a dependência econômica da capital. “Hoje 50 mil pessoas saem de Fazenda todos os dias para trabalhar fora. Vamos fomentar o emprego para as pessoas gastarem aqui, viverem o dia a dia da cidade.”
Na entrevista a seguir, ele fala um pouco sobre os planos para a gestão do município nos próximos quatro anos:
Gazeta do Povo: O senhor é médico, cardiologista, servidor de carreira. Por que decidiu entrar na vida pública e a disputar a prefeitura de Fazenda Rio Grande?
Dr. Nassib: Sou do interior do Paraná. Vim para Curitiba para estudar, porque, na época, minha cidade [Altônia] não tinha segundo grau de qualidade. Logo que me formei em Medicina na [Universidade] Federal [do Paraná], comecei a trabalhar em Fazenda Rio Grande. Fiz concurso, passei na UPA e desde então tenho trabalhado aqui. Era final da gestão do Celso Rocha [1996-2000] e início da gestão do Toninho [Wandscheer, 2001-2009]. Ainda fiz especialização em cardiologia no [hospital] Angelina Caron e trabalho na UTI cardíaca lá também. Depois de um tempo, saí candidato a vice-prefeito. Me escolheram, no último dia, porque eu trabalhava muito com a área social. Era a segunda candidatura do Chico Santos, em 2008, a primeira vez que ele ganhou. Comecei como secretário de saúde e, em seis meses, a gente brigou. Teve um atrito, e eu me afastei porque não concordava com a gestão. Em 2012, ele foi reeleito e, dessa vez, eu saí para vereador da cidade. Fui o mais votado na história de Fazenda Rio Grande, com 1.536 votos. Nessa segunda gestão, o Chico Santos teve o mandato cassado, e aí entrou o Márcio Wosniak, que era o presidente da Câmara. Em 2016 eu disputei a prefeitura pela primeira vez, e o Márcio disputou a reeleição. Ele ganhou da gente; fez 21 mil eu fiz 15 mil votos, mais ou menos. Agora em 2020, veio o Chico Santos de novo, apoiado pelo Wosniak. A gente saiu de novo e eu ganhei com 55%.
O que aconteceu exatamente em 2008 que o levou a romper com Chico Santos?
O nosso trato era que eu ia cuidar da saúde. Já no começo, eu coloquei minha esposa como secretária de saúde e eu fui cuidar do hospital. Temos um hospital aqui, que já gastaram mais de R$ 20 milhões, renovaram, fizeram um monte de coisas, só que está fechado, porque tem um custo para tocar e eles não queriam arcar com ele. Eu seria o responsável. Já que eu era vice, esse dinheiro que seria pago para um diretor não precisaria pagar. Esse foi o primeiro atrito. Eles fizeram os contratos. As renovações, os termos aditivos foram por conta do Chico Santos e, na época, tinha um secretário de administração que não deixou a gente ter contato com a empresa.
Outra coisa que aconteceu é que não conhecíamos a empresa que seria contratada. A gente não concordou em assinar algumas coisas, via irregularidades. A gota d’água mesmo foi que trouxeram um outro secretário para tomar conta da saúde. Não dava para concordar. Daí a gente se afastou, em seis meses, mais ou menos. Eu mudei de partido e eles tentaram cassar meu mandato. Mas consegui manter o cargo e a gente continuou trabalhando para a sociedade. Quando eu fui vereador, os caras deixaram a gente na geladeira, não deixaram eu fazer nada. Mas como eu trabalho com medicina, tenho muitos amigos, podia ajudar as pessoas, independente da tentativa deles de me deixar na geladeira. A população queria mudança agora. Uma nova gestão, com novos propósitos, novos objetivos, com uma parceria grande público-privada. Mas já teve outros vice-prefeitos que passaram por aqui que tiveram problema com o prefeito. Agora a gente veio com meu vice, o Marcos Marcondes. Unimos nossas forças para ganhar a eleição.
Uma das suas principais propostas de campanha é exatamente a reabertura do hospital municipal de Fazenda Rio Grande.
Nós temos o hospital que foi fechado há mais de 10 anos e reabriram só a maternidade. Fecharam para fazer uma melhoria na parte do centro cirúrgico, uma reforma, e desde então ficou fechado. Recentemente abriram a parte da clínica médica, mas já fecharam novamente. A maternidade ficou quatro anos fechada. Abriram há um ano mais ou menos, com dificuldade. Nesse período, todas as crianças da cidade nasceram na Lapa, em Colombo, no Nossa Senhora do Rocio [Campo Largo], apesar de fazer pré-natal aqui. São quatro anos, 200 crianças por mês nascendo fora. Fazenda Rio Grande ficou quatro anos sem nascimentos de criança. Agora reabriram porque houve uma pressão popular. Imagina, uma população de 450 mil pessoas. E todos os casos graves de internamento de Fazenda Rio Grande são mandados para fora, para o Rocio, para a Santa Casa [Curitiba], para o Angelina Caron [Campina Grande do Sul]. Aqui não é saúde integral, é só parcial, não tem a parte complexa. Queremos trazer um hospital para cá com uma parceria público-privada. Para que possa dar vazão ao atendimento particular e ao atendimento clínico. Nosso objetivo maior é um hospital que dê humanidade, respeito, carinho. Que trate a população com mais dignidade.
E além do hospital, quais serão as outras prioridades em sua gestão?
No nosso plano de governo vamos dar prioridade para todas as áreas. Nossa educação tem um Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] de 6,5, mas queremos melhorar isso. Eu cheguei onde cheguei por causa do estudo. Se não tivesse chance de estudar não estaria aqui. Qual a qualificação que estamos dando para nossos filhos no ensino fundamental? Quem vai conseguir chegar à universidade? O Japão é uma ilha pequena, mas olha o potencial, olha o PIB deles. Por que não podemos ter isso também? Temos que investir muito em educação. Do jeito que está indo temos que construir muito mais cadeias do que salas de aula. Fazer também um bom trabalho na área social, ajudar a população mais carente, as áreas de invasão. A cidade tem muita gente que não precisa da prefeitura, graças a Deus, mas tem um contingente muito grande de gente que precisa da área social, do Bolsa Família, muitas famílias desassistidas, sem possibilidades. Se você der oportunidade, através da saúde, da educação, as coisas mudam.
E há recursos para isso?
Nosso objetivo é deixar um legado positivo, ajudar a população, trazer projetos, fazer parcerias público-privadas. Nossa receita subiu, mas é insuficiente ainda, pelos custos que a gente tem. Nosso orçamento é de R$ 300 milhões por ano. A quantidade de dinheiro que vem para o município é pequena. Araucária, por exemplo, tem R$ 1 bilhão. Então fica inviável tocar tudo isso se não tiver uma parceria, que traga odontólogos, médicos para beneficiar a comunidade. Queremos trazer as universidades, por meio de convênios: a PUC [Pontifícia Universidade Católica do Paraná], a Tuiuti, a [Universidade] Federal [do Paraná], a Positivo. Muita gente mora aqui, mas não exerce seu título aqui. Fazenda Rio Grande é uma cidade dormitório ainda: 50 mil pessoas saem para trabalhar fora todos os dias.
Como lidar com esse cenário?
A gente quer fomentar emprego, trazer indústrias, empresas, para as pessoas gastarem aqui, viverem o dia a dia da cidade. Esse é o nosso objetivo. Ajudar pequenas e médias empresas, que rendem. Também vamos dar prioridade para o esporte, dando isenção fiscal para empresas que incentivem a prática. Eu digo que nesses oito anos que ficarmos na Fazenda, vamos ter um campeão de MMA daqui. Queremos fazer a diferença. Vamos deixar um legado. O pessoal até agora só pensou em crescimento, mas sem estrutura. A cidade cresceu sem infraestrutura. Agora vamos buscar mais colégios, escolas, creches, o hospital municipal. Nossa meta é melhorar todos os setores, trabalhar com a população, trazer os benefícios que a gente puder. Fazer parcerias com o governo estadual, com o governo federal. Temos um deputado federal que é do município, o Toninho Wandscheer. Vamos buscar trazer emendas, projetos e colocar pessoas que são capazes, de cada setor, para buscar um resultado melhor.
A questão da infraestrutura é o maior desafio para a cidade nos próximos quatro anos?
O maior desafio é a infraestrutura e a questão econômica. Com a pandemia, o aporte financeiro deve cair e ainda precisamos atender toda a população. Precisamos melhorar e fazer com que a cidade cresça com infraestrutura. Hoje temos sete dentistas no serviço público, nas unidades básicas, dos quais dois fazem parte do administrativo, então só temos cinco dentistas para uma população de 450 mil habitantes. Por isso temos que fazer essa parceria com as universidades. É o que vai ajudar a dar um incremento importante no desenvolvimento da cidade. Porque nós não temos dinheiro suficiente para arcar com todos os custos. Se não tiver aporte do governo federal, estadual, com emendas, projetos bons, dificilmente vamos conseguir fazer uma boa gestão.
Como médico, como o senhor avalia as políticas adotadas pela gestão anterior no combate à pandemia do novo coronavírus?
Eles fizeram o que estava no entendimento deles, dentro das possibilidades. Mas acredito que se tivéssemos partido para a prevenção, se tivéssemos um rastreamento maior, uma cobertura maior, os índices poderiam ser menores. Primeiro teria que ter uma equipe maior de médicos, para fazer um rastreamento maior do vírus e, segundo, bater no sentido da prevenção. Porque muitas vezes as pessoas chegam nos médicos em uma fase já avançada da doença, quando a Covid já está no quinto dia de evolução, por exemplo. Quando você chega com falta de ar é porque o vírus já tomou conta do seu pulmão com uma certa gravidade. Então você tem que orientar as pessoas a procurar um médico assim que começarem os sintomas, a fazer um exame. As pessoas às vezes esperam o último momento para procurar o médico. Aí está o erro. Nesse caso, quanto mais precoce você procurar tratamento, melhores são os resultados. Você não pode deixar chegar com uma saturação de 80%, 70%, 40%, quase não conseguindo respirar. Se está sentindo mal, já procura um médico. Pode ser uma gripe, nada grave, mas pode ser uma coisa avançando. Se você tivesse abertura maior para mais médicos, mais atendimentos, teria uma redução importante. E você orientar a não esperar para procurar o médico.
O grande mal é não existir vagas de UTI. Os pacientes, quando vão para o respirador, vão ficar 14 dias entubados. Se tivesse o número adequado de respiradores, e o quadro não fosse tão abrupto, tão intempestivo, você conseguiria ter um controle melhor.
O senhor faria algo de diferente no enfrentamento à doença?
Tem uma cidade em São Paulo, Porto Feliz, onde instituíram um trabalho e não houve mais nenhum óbito por Covid [na verdade, houve 25 óbitos por Covid em Porto Feliz entre 1º de agosto de 2020 e 7 de janeiro de 2021]. O prefeito [Dr. Cássio (PTB)] é um médico, que se reelegeu com 92% dos votos. O que ele fez? Ele já começou com tratamento precoce e teve um resultado fantástico. Os hospitais estão sobrecarregados. Se o governo do estado já tivesse deixado respirador para cada município... mas a transferência demora, não é rápida. Minha visão: se tiver mais gente cuidando de saúde, um aporte maior, uma orientação melhor e o tratamento precoce, você pode evitar um monte de casos. Quando sua vida está em jogo, você vai fazer de tudo. Se disserem para tomar tal remédio, você vai tomar. Melhor os efeitos colaterais da hidroxicloroquina do que o óbito. As pessoas dizem: “Ah, mas a parte científica não deixa”. Mas você vai esperar quantas pessoas morrerem para tomar uma atitude? Ou só quando for a sua pele que estiver em risco que você vai aceitar a hidroxicloroquina? Só dando um exemplo. O que quero dizer é que não podemos deixar as coisas chegarem no extremo para tomar uma atitude. É o que vamos tentar implementar na Fazenda Rio Grande, na nossa gestão. Um treinamento do pessoal, tratar o pessoal precocemente, se necessário. Quando estiver com sintomas, entrar com medicação.
O município está preparado para a vacinação contra a Covid, assim que o imunizante estiver disponível?
Já temos um corpo clínico capacitado para isso. Agora estamos na dependência do governo federal e estadual, porque o município sozinho não tem condições de comprar as vacinas. Vemos a vacina com bons olhos, mas achamos que ela sozinha não vai resolver todos os problemas. Temos que saber da efetividade, da qualidade, se vai precisar de duas, três doses, para ser eficaz, fazer com que o sistema imunológico reconheça o vírus. Os estudos estão demonstrando que em alguns casos pode ser eficaz, mas podem ser necessárias mais doses. De qualquer forma, a cidade está preparada. É uma saída que vai ajudar muito o município, como vai ajudar todos os países, a saírem dessa crise do coronavírus. Porque temos que pensar na parte econômica também. Você vê quantos países estão quebrando por causa do coronavírus. E tem também outros países que estão se aproveitando dessa situação.
A questão sanitária é o problema mais urgente a ser resolvido?
Nosso pensamento é trabalhar com qualidade, respeito e humanização ajudando todos os setores, integrados, e que um setor possa dar aporte para o outro. Não vamos trabalhar isoladamente. Saúde vai estar vinculada com educação, que vai estar vinculada com comércio, com trabalho, que vai estar vinculado à área social e com todos os demais setores. Um trabalho que vai honrar o ser humano.
Como deve ser a política de integração com a capital e com os demais municípios da região metropolitana?
Nós tivemos uma conversa com o vice-prefeito de Curitiba em dezembro. Temos o objetivo de trabalhar em parceria com Curitiba, porque sabemos que é uma cidade responsável por um grande número de empregos, e tem a atenção que dão para a saúde; tem muita gente que vai da região metropolitana para ser atendido na capital. Queremos fazer essa parceria, como se fosse um irmão que ajuda o outro, sendo nós o irmão menor. Temos intenção de fazer o Armazém da Família, que é um projeto do município de Curitiba. Queremos trazer mais indústrias, que as empresas venham para melhorar nosso parque industrial. Mas vai depender dessa parceria e também da parceria com o governo estadual e federal. Estamos no PSL, que tem uma bancada muito grande de deputados, tem o Felipe Francischini que vai nos ajudar nessa caminhada.
Em síntese: queremos fazer o melhor. Amanhã ou depois não vamos mais estar aqui, mas vamos nos perguntar qual a melhoria deixamos na vida das pessoas. Talvez eu diga que não fiz muita coisa, mas que o pouco que fiz mudou a vida das pessoas.
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