Após a tentativa frustrada de filiação de Beto Richa (PSDB-PR) ao PL para eleição em Curitiba, o partido de Jair Bolsonaro quer virar a página depois da repercussão negativa da reunião entre o ex-governador do Paraná e o ex-presidente na sede do PL, em Brasília, na última quarta-feira (13).
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O risco de divisão do partido em Curitiba, a exposição com trocas de farpas entre deputados e o lançamento de uma nova pré-candidatura na capital do estado apontam que a virada de página não deve ser instantânea e a confusão interna dos últimos dias ainda pode ter repercussões no xadrez político do pleito municipal e também na eleição suplementar ao Senado, caso o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União-PR) tenha o mandato cassado pela Justiça Eleitoral.
O episódio evidenciou que, apesar da nulidade dos processos nas operações Integração, Quadro Negro, Piloto e Rádio Patrulha, imposta pela decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, o passado como investigado pela força-tarefa da Lava Jato deve pesar contra Richa na eleição municipal no berço da principal operação contra a corrupção da história do país. A suspeita de desvios durante os mandatos como governador do Paraná foi o principal empecilho para a confirmação da troca partidária de Beto Richa.
Com aval de Bolsonaro, o presidente estadual do PSDB se reuniu com o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e chegou a assinar a filiação e gravar um vídeo para o anúncio nas redes sociais ao lado do presidente da sigla, segundo fontes ouvidas pela Gazeta do Povo. Mas, o plano de se lançar pré-candidato com a benção de Bolsonaro ficou só no papel. Em silêncio, sem manifestações públicas sobre o caso nos últimos dias, Richa apenas postou uma foto de uma antiga revista com a foto do tucano e a frase “Contra tudo e contra todos”. “Esta manchete nunca esteve tão atual”, escreveu na postagem.
A única manifestação oficial foi do PSDB que informou, em nota, que Richa não teve a troca partidária liberada e preferiu permanecer como deputado federal tucano para não correr o risco de perder o mandato. Isolado, Richa deve manter a pré-candidatura pela Federação PSDB-Cidadania e voltar a cogitar o nome da ex-primeira dama Fernanda Richa como alternativa a sua alta rejeição.
Quem sai mais forte como pré-candidato à prefeito de Curitiba é o ex-deputado federal Paulo Martins (PL-PR), que chegou a anunciar que deixaria o cargo de presidente da executiva municipal do PL após a reunião de filiação de Richa. Na quinta-feira (14), ele colocou o nome à disposição do partido para eleição municipal e teve o apoio confirmado pelo principal articulador do ex-presidente Bolsonaro, o deputado federal Filipe Barros (PL-PR).
“Felizmente superamos essa situação ruim. Temos condições de construir uma candidatura forte, genuinamente alinhada com os princípios do partido e de nossos eleitores e oferecer uma grande proposta para a nossa capital”, disse Martins à Gazeta do Povo.
O novo pré-candidato do PL concorreu ao Senado, em 2022, quando foi derrotado por Moro e terminou o pleito na segunda colocação com 1,7 milhão de votos, que representa 29% do eleitorado paranaense. Ou seja, Martins seria o candidato “natural” do PL para as eleições municipais de 2024, mas a possibilidade de cassação do ex-juiz da Lava Jato por abuso de poder econômico com uma nova eleição suplementar levou o partido a colocar Paulo Martins como pré-candidato ao Senado.
O nome dele foi bancado pelo presidente da sigla no Paraná, Fernando Giacobo (PL-PR), mesmo quando Michelle Bolsonaro (PL-RJ) foi cogitada para a vaga para disputa da eventual eleição. O novo cenário pode até abrir a oportunidade para a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro como postulante à cadeira de Moro.
O nome dela foi sondado em pesquisas eleitorais para o eventual pleito no estado em 2024 e ela também foi saudada pela militância curitibana como "senadora" no evento do PL Mulher na capital. Para isso, Michelle precisaria transferir o domicílio eleitoral para o Paraná, mesmo movimento realizado recentemente pela mulher do senador, Rosângela Moro (União-SP).
Postura crítica sobre articulação enfraquece Arruda no PL Curitiba
A confusão interna do PL após a reunião com Beto Richa também foi o estopim para declarações públicas do deputado estadual Ricardo Arruda (PL-PR), que classificou a articulação política de Filipe Barros como “irresponsável”. Arruda era o único pré-candidato do PL em Curitiba e afirmou que se sentiu traído pela tentativa de filiação do ex-governador com apoio do deputado federal.
“Falei com Bolsonaro e mostrei quem é o Beto Richa no Paraná. Me admira muito o Filipe Barros trazer o Beto Richa para uma reunião no PL. Ele está expondo a imagem do partido e a imagem do ex-presidente”, criticou em entrevista à Gazeta do Povo.
Apesar da reviravolta em torno da filiação de Richa, o deputado estadual cobrou explicações de Barros sobre o episódio. “Agora, temos pré-candidatos de direita e volta tudo a normalidade no PL. O Filipe Barros deu um tiro no pé e a vida pública do Beto Richa acabou. A culpa não é nem do partido e nem do Bolsonaro. O Filipe Barros tem que se explicar para o eleitor de direita.”
Em vídeo postado na quinta-feira sobre a decisão do partido, Barros respondeu que foi criticado injustamente por Arruda e afirmou que ele também foi o interlocutor do deputado estadual em conversas com Bolsonaro. “Ele esqueceu de dizer que foi ao meu pedido que ele estava aqui em Brasília para que ele pudesse conversar com o presidente Bolsonaro”, rebateu.
Ex-ministro e assessor do ex-presidente Fabio Wajngarten saiu em defesa de Barros em postagem na rede X (antigo Twitter) e pediu providências contra Arruda na Comissão de Ética do partido.
“Política tem vez e hierarquia. Não é admissível um deputado estadual, com menos de 2% de intenções de votos, gravar escondido uma reunião no escritório do Presidente e agora atacar um deputado federal, aliado de primeira hora, em virtude da escolha do partido pelo nome do Paulo Martins a pré-candidato em Curitiba. Vou solicitar providências da Comissão de Ética do PL e vou acompanhar o caso de perto”, postou.
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