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A descoberta de fósseis da espécie Mesosaurus brasiliensis interrompeu a pavimentação da rodovia PR-364, no interior do Paraná. O achado ocorreu em um trecho entre Irati e São Mateus do Sul, no centro-sul do estado.
O lagarto aquático viveu há cerca de 280 milhões de anos — muito antes dos dinossauros — e é da mesma espécie que ajudou a comprovar a existência de um antigo supercontinente na Terra. Para a obra, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) analisa soluções técnicas e legais para retomar os trabalhos ou redesenhar o projeto.
A interrupção ocorreu depois que o Instituto Água e Terra (IAT) cancelou a licença ambiental, atendendo a uma recomendação do Ministério Público Federal (MPF). De acordo com o MPF, o IAT teria emitido a licença sem análise do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Segundo o órgão, essa omissão “caracteriza falha no processo de licenciamento ambiental”. A procuradora da República Monique Cheker recomendou o cancelamento imediato da autorização. “A recomendação do MPF destacou a necessidade de anular a licença e condicionar qualquer continuidade da obra à prévia manifestação do Iphan, além da realização de estudos arqueológicos e paleontológicos adequados”, afirmou o MPF.
Obra da PR-364 é esperada há 50 anos
O DER-PR informou que a obra na PR-364 atingiu 52,72% de execução. O trecho paralisado contempla 1,6 km, inclui um viaduto no entroncamento com a BR-153 e representa R$ 23,7 milhões em investimentos. Agora, o tráfego segue por uma via municipal que liga as rodovias.
A portaria de cancelamento entrou em vigor em 10 de outubro. A conclusão do trecho da obra estava prevista para 28 de novembro, mas o DER-PR comunicou que “o cronograma será atualizado após a situação ser superada”.
Os trabalhos de pavimentação da PR-364 começaram no entroncamento com a PR-151, em São Mateus do Sul, nas proximidades da BR-476, e seguem até o perímetro urbano de Irati. O projeto inclui a construção de uma nova ponte sobre o Rio Turvo, com 12 metros de extensão, acostamento e calçada, na área urbana de São Mateus do Sul. Além disso, o plano prevê a implantação de uma ciclofaixa de cerca de três quilômetros no trecho inicial da rodovia, também em São Mateus do Sul.

Pesquisadores analisam fósseis mais antigos que dinossauros na região
Pesquisadores da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) analisam os fósseis encontrados no local. O estudo reforça a teoria de que América e África formaram um único bloco continental. Diversos exemplares de Mesosaurus já surgiram nos dois continentes, o que para os especialistas da área confirma o vínculo geológico entre eles.
Na região da PR-364, a primeira descoberta dos fósseis foi em maio de 2025, durante uma outra obra, na BR-153. Por isso, o MPF solicitou que o Iphan realize uma vistoria técnica para avaliar possíveis danos ao patrimônio histórico e natural.
A descoberta também desperta interesses científico e ambiental. O caso evidencia o debate acerca da preservação de sítios paleontológicos antes da execução de obras públicas. Assim, os fósseis de Mesosaurus brasiliensis passam a ser prioridade, pois revelam parte da história da Terra.

Fósseis mais antigos que dinossauros: quem foram os Mesosaurus brasiliensis
Os pesquisadores da Unicentro confirmam o achado de pelo menos 30 peças. “Eles nos reportaram e nos trouxeram algumas peças. No início, foram oito peças de fósseis. Escolheram a universidade como fiel depositária desse material”, conta o professor de Geografia Luiz Carlos Basso. Desde então, o número de amostras aumentou para 30.
Os pesquisadores identificaram os fósseis em camadas de folhelho betuminoso, uma rocha comum na região que age como esponja, absorvendo matéria orgânica. O Mesosaurus brasiliensis aparece com maior frequência nas amostras analisadas.

“Ele é um réptil já extinto. Pela literatura que nós conhecemos, media em torno de 40 centímetros, é mais antigo do que os dinossauros, e é como se fosse um lagarto. Você encontra nas patas deles como se fosse uma película. Naquela época, a predominância de seres vivos estava nos oceanos”, explica Basso.
Em 1908, cientistas reforçaram a hipótese de que os continentes americano e africano já estiveram unidos. “O Mesosaurus é um exemplo típico e comprobatório disso, porque é encontrado lá na África e aqui também”, explica Basso. Assim, o achado no Paraná fortalece as evidências dessa conexão entre os continentes.
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