Ainda em 2015, quando começou a ser discutida a possibilidade de se construir um complexo hospitalar anexo ao Hospital Erasto Gaertner, a iniciativa parecia distante da realidade. Afinal, como viabilizar um orçamento milionário ecolocar de pé uma nova unidade em tempos de crise e recessão que já assolavam o país? Eis que no dia 1º de setembro de 2020, apenas cinco anos depois daquele então sonho distante, o Erastinho foi inaugurado já como uma referência, sendo o maior hospital para tratamento médico oncopediátrico do Sul do Brasil. Entretanto, toda essa estrutura só foi concebida graças à ação de milhares de pessoas e dezenas de empresas que se uniram de maneira coletiva ou individual em prol da mesma causa: viabilizar um tratamento de referência contra o câncer infanto-juvenil para centenas de crianças e adolescentes não só do Paraná, como de todo o Brasil.
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“Essa mobilização social foi vital. Sem ela, o Erastinho não seria entregue. Sem a colaboração da sociedade ele não seria construído”, garante Adriano Lago, superintendente do Hospital Erasto Gaertner. Empresas do Rio Grande do Sul e também de Santa Catarina aderiram à causa e foram essenciais para a obra. O projeto fomentou até mesmo novas relações comerciais. Um grupo do Paraná, quando soube da campanha de uma empresa do Rio Grande do Sul que destinava parte do valor das vendas do seu produto para a construção do hospital, estabeleceu negócio com esse novo fornecedor para reforçar a campanha de arrecadação. “É um case de mobilização”, reforça Lago. “A sociedade é que acabou entregando esse projeto pra gente”, comemora.
O empreendimento finalizado custou R$ 30 milhões, dos quais R$ 22 milhões foram investidos diretamente na construção do hospital por meio de um convênio firmado com o Governo do Paraná e a Secretaria de Estado da Saúde, que destinou cerca de R$ 11 milhões para a obra. O restante do valor necessário para a conclusão da estrutura foi captado pelo Hospital Erasto Gaertner junto à sociedade civil com a realização de eventos, projetos e doações espontâneas que totalizaram os outros R$ 11 milhões necessários. Outros R$ 8 milhões vieram da Assembleia Legislativa do Paraná e da Câmara Federal, por meio de emendas dos parlamentares paranaenses.
Foram grupos de vários segmentos e organizações envolvidas nessa causa. Desde associações de motociclistas que reuniram milhares de pessoas de 11 estados diferentes e até mesmo de outros países, como Paraguai e Argentina, até shows que juntaram mais de 20 mil pessoas dentro da Arena da Baixada. Dentre todos esses atos de solidariedade, talvez um dos mais simbólicos tenha sido a corrida de rua “The HardestRun”, que arrecadou mais de R$ 2,4 milhões com as inscrições de 22 mil pessoas para as maratonas em prol do hospital. A primeira aconteceu em 2019 e a segunda, que ocorreria neste ano, teve de ser suspensa em razão da pandemia.
De acordo com Marcelo Alves, organizador do evento, a maior conquista, talvez, não tenha sido somente os recursos financeiros arrecadados e sim a visibilidade dada a uma causa tão importante. “Como sabemos que o mundo da corrida é grande, a ideia inicial não era apenas arrecadar o dinheiro e sim botar projeto no holofote. Essa foi a nossa maior vitória. Depois da repercussão da corrida, qualquer pessoa conhece o Erastinho. Nosso efeito foi realmente dar visibilidade ao hospital”, diz. E o resultado foi muito além do esperado. Em apenas oito dias, a segunda corrida conseguiu bater a marca de 12 mil inscrições. O evento ainda não foi realizado, mas isso não desanimou os competidores, uma vez que o principal objetivo, que era colocar o hospital em pé, foi concluído. “Mesmo com todas as impossibilidades de realização da corrida, em razão da pandemia, até agora não tivemos uma única reclamação ou pedido de devolução da inscrição de nenhum atleta. Todos entenderam que o objetivo não era apenas a prova”, comemora Alves, que não esconde a alegria de ter contribuído para juntar 22 mil corredores com o mesmo objetivo.“Hoje as pessoas passam na frente do hospital, tiram fotos e orgulham-se em dizer que um pedacinho daquela estrutura é delas. Então aquele sentimento de conscientizar a cidade e passar um pertencimento nós conseguimos. Todo mundo sabe que fez a diferença para aquilo acontecer”, diz.
Em 48h, todos os pacientes foram transferidos para novo hospital
A capacidade da nova unidade será de até 17 mil consultas, 500 cirurgias e mais de 85 mil procedimentos por ano. O complexo de 4.800 metros quadrados possui 43 leitos de internamento privativos e semiprivativos, recepção, lobby, atendimento ambulatorial, hospital-dia, centro cirúrgico e alas de internação (clínica, cirúrgica, TMO e UTI).
Menos de 48 horas após a inauguração oficial, todos os pacientes já foram transferidos para o novo complexo. Crianças e adolescentes que eram atendidos na ala pediátrica do Hospital Erasto Gaertner passaram a ter um espaço exclusivo. Um dos primeiros foi o pequeno Bernardo, de 10 anos, que luta há sete meses e meio contra um linfoma de burkitt. Vanessa, mãe do garoto, conta que eles vieram de Guarapuava para realizar o tratamento e que, desde então, o hospital passou a ser a nova casa da família. Ela afirma que os dois ficaram surpresos com a nova estrutura e que a impressão é de que eles não estão mais em um hospital e sim em um hotel. Vanessa diz que todo o projeto foi pensadopara o conforto e o bem estar não só dos pacientes, mas também dos pais, que na maioria das vezes precisam ficar 24 horas ao lado dos filhos neste ambiente. “Proporcionaram um local gostoso para as crianças ficarem durante um tratamento tão rigoroso e tão difícil”, diz ela, que já chegou a permanecer 57 dias ininterruptos ao lado do filho, sem sair do hospital. Na noite em que Bernardo foi transferido, o garoto voltou ao quarto tarde da noite, tamanha era a emoção em poder se divertir na nova brinquedoteca. “Vimos o brilho nos olhos das crianças. Elas esquecem por um momento que estão dentro de um hospital”, emociona-se Vanessa.
Estrutura foi pensada no bem-estar de pacientes e profissionais
O Paraná registra, em média, 600 novos casos de câncer em crianças e adolescentes todos os anos. Com a conclusão do Erastinho, a expectativa é de atender pelo menos 50% desse número na nova estrutura, além de receber pacientes de outros estados para procedimentos específicos como transplante de medula óssea. De acordo com Mara Albonei Pianovski, diretora do Hospital Erastinho e atual chefe do Departamento de Pediatria do Hospital Erasto Gaertner, essa estrutura diferenciada deve ter impacto não só no acolhimento dessas crianças, adolescentes e familiares, mas também no bem estar de todos os profissionais que vão atuar nesse espaço, o que, como consequência, deve se refletir em um atendimento ainda melhor aos pacientes. “A ideia principal é desviar o foco dos desafios do tratamento para um clima de bem estar que evoca a vida e a alegria”, diz. Ela conta que uma das primeiras crianças que foi acolhida no Erastinho disse em tom de admiração para a mãe que aquilo não parecia um hospital e sim uma casa. “Esse é o nosso objetivo, que se sintam em casa”.
Segundo a diretora, tecnicamente, embora o essencial já viesse sendo desenvolvido com qualidade, a disponibilidade de mais equipamentos e melhores condições de trabalho também irá estimular e será um facilitador para o crescimento constante tão necessário nessa especialidade. “O reconhecimento da sociedade ao serviço prestado pelo Hospital Erasto Gaertner foi fundamental para o sucesso desse empreendimento e seremos eternamente gratos a todas as manifestações de apoio. O Erastinho é de todos os paranaenses e está aberto a todos os brasileiros”, comemora.
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