O maior sistema cooperativista brasileiro almeja atingir um faturamento de R$ 500 bilhões até o ano de 2030. É no estado do Paraná que se concentram 225 empresas filiadas ao Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) e que respondem por quase um terço da movimentação econômica nacional no setor.
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Os dados compilados do último ano demonstram um faturamento total de R$ 660 bilhões entre as cooperativas brasileiras, dos quais R$ 203 bilhões registrados no Paraná. O novo Plano Paraná Cooperativo (PRC), divulgado nesta terça-feira (30), projeta um faturamento escalonado até R$ 300 bilhões no próximo ano e prevê diversos cenários.
Na perspectiva considerada como "conservadora", as cooperativas do Paraná projetam crescimento de 8,25% ao ano. Já em uma condição caracterizada como "realista", analisando as oscilações e avanços dos últimos anos, são esperados 14% a mais ao ano, enquanto numa projeção tida como "otimista" se espera 16,5% de aumento anual.
O resultado de 2024 depende das movimentações de mercado, com a expectativa de fechar o ano com faturamento variável entre R$ 205 bilhões e R$ 220 bilhões. Para a projeção até 2030 foi dedicado um ano de avaliação e estudos técnicos, conta o superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti. “Atingimos a marca de R$ 200 bilhões de faturamento anual seis anos antes do projetado e isso nos levou, em junho do ano passado, a iniciar este novo planejamento", diz ele.
Com um horizonte promissor, o representante da Ocepar faz um alerta: os novos indicadores são plenamente possíveis, desde que uma série de fatores contribua. "Isso inclui desde o planejamento interno até condições econômicas, abertura de mercado, questões sanitárias, legislação e comportamento de consumo”, elenca Mafioletti.
As cooperativas do Paraná tinham como meta alçar os R$ 200 bilhões em faturamento em 2029, mas o volume foi ultrapassado no ano passado, quando o resultado foi de R$ 203 bilhões. Parte disso vinha se desenhando desde a pandemia de Covid-19, fomentado por um cenário de aquecimento global na busca por alimentos.
O Paraná tem a segunda maior indústria de alimentos e bebidas do país, com um faturamento de R$ 154 bilhões, atrás de São Paulo, estado que faturou no ano passado R$ 282 bilhões.
Cooperativas agroindustriais respondem pro 85% do faturamento do setor
No caso do cooperativismo paranaense, a maior fatia de representação fica com as agroindústrias. Das 225 filiadas à Ocepar, 52 são do agro. Essas empresas somam 143 unidades que respondem por cerca de 85% do faturamento anual do setor.
O Paraná conta com 3,6 milhões de pessoas cooperadas em sete diferentes áreas, a maior parte no ramo crédito com quase 3,3 milhões. As cooperativas paranaenses empregam 139 mil pessoas de forma direta. O plano de expansão do setor considera como cenário possível chegar a 2030 com 7,3 milhões de cooperados e 177 mil empregos diretos.
O planejamento das cooperativas do Paraná está calçado por eixos: representação e defesa aparece como o primeiro tema estratégico do segmento que foca na defesa do ato cooperativo e na gestão tributária, com um alerta que pode impactar, entre outros aspectos, em bitributações ao segmento de acordo com o que prevê a reforma tributária.
Outro eixo temático é a educação política, fomentado por núcleo de inteligência política, certificação de cooperativas em eixos de sustentabilidade, além de debate e busca por formas de financiamentos do cooperativismo. “Ninguém cresce nestes níveis se não houver linhas de crédito, de financiamento e uma política de juros que não torne estes valores proibitivos”, destacou.
Acesso a mercado aparece como outro eixo temático essencial, a exemplo dos modelos de governança e gestão a serem adotados e fomentados pelas cooperativas. O objetivo é estimular a formação de líderes, assim como de executivos, a autogestão cooperativa, a instrumentalização da gestão e focar no desenvolvimento humano.
“As cooperativas são uma potência estadual e nossas principais indústrias são do segmento, mas sofrem com a falta de profissionais em todos os ramos, o que pode levar a um processo de estagnação do setor. É fundamental preparar profissionais, desenvolver mecanismos para atraí-los e mantê-los nas nossas indústrias”, reforçou o coordenador do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Rainer Zielasko.
O POD está na região paranaense que concentra cinco das dez maiores cooperativas do agro do Brasil e, ao lado de outros segmentos da economia, mantém mais de 12 mil vagas de emprego abertas. “Na nossa nova indústria em Assis Chateaubriand esperamos chegar em 2030 com um abate diário de 15 mil/suínos, mas para chegar lá contamos com alguns fatores, como resultados da economia, taxa de juros mais adequadas, abertura de novos mercados e, claro, pessoas para trabalhar”, afirmou o presidente da cooperativa Frimesa, maior player da suinocultura do Paraná e quarto maior do Brasil, Elias Zydek.
A preparação de profissionais do futuro é mais um dos eixos temáticos estratégicos englobados na proposta de crescimento das cooperativas paranaenses, assim como a gestão do conhecimento, cultura da segurança e a identidade cooperativa. Para a Ocepar, a projeção só é factível se houver sucesso nos negócios dos cooperados e por este motivo ele aparece também como um dos eixos que alicerçam o plano.
Infraestrutura é campo desafiador para crescimento das empresas
Pesquisa e inovação fomentada por novas alianças está em destaque no planejamento estratégico das cooperativas paranaenses. Um dos principais desafios, no entanto, não dependerá do segmento: infraestrutura e logística. “Temos muitas dificuldades no Paraná desde o transporte rodoviário até o ferroviário, precisamos da Nova Ferroeste e de trechos operantes, que possam colocar nossos produtos no porto e nos centros consumidores do país”, destaca Zielasko.
O tópico destaca ainda a necessidade de ampliar a capacidade de armazenamento da produção, problema de décadas enfrentado pelo setor produtivo estadual com a falta de silos e armazéns. Conectividade rural também está entre os destaques daquilo que precisa ser aprimorado para os próximos anos. “Temos máquinas e equipamentos incríveis, com tecnologia embarcada, mas de nada adianta se não tivermos sinal de internet na propriedade, no meio da plantação”, avaliou o diretor-presidente da Coopavel, Dilvo Grolli.
A gestão de energia é outro item dos eixos prioritários. Há mais de uma década o setor produtivo reclama de interrupções no fornecimento, sobretudo em áreas rurais. Mais do que fornecimento, os produtores pedem qualidade no serviço de energia.
“Não podemos pensar no crescimento de uma indústria que com frequência sofre com quedas de energia, algo que é básico em infraestrutura. Equipamentos milionários podem se perder, além de travar a produção. No campo há o risco de se perder plantéis inteiros. Para o desenvolvimento é indispensável termos a infraestrutura necessária”, avalia o presidente do POD.
Os produtores usam a eletricidade de forma intensiva e precisam de fornecimento praticamente ininterrupto para climatização de locais como aviários, resfriamento de produtos e oxigenação de tanques. Para atender a essa demanda específica, a Copel tem desenvolvido o programa Paraná Trifásico, que nasceu com a premissa de ser o maior programa de modernização da energia rural no país. A promessa é de concluir 25 mil quilômetros da nova rede até o fim de 2025.
O segmento cooperativista também quer avançar com as alianças e a intercooperação focados na agroindustrialização. O estado é o segundo maior produtor de grãos do Brasil, atrás do Mato Grosso; segundo maior em produção de suínos, na esteira de Santa Catarina; e líder nacional na produção de tilápias, frango e ovos.
Para avançar, o segmento arquiteta que é indispensável, além da abertura de novos mercados, ampliar alianças entre as próprias cooperativas. Um ponto atrelado à abertura de mercados diz respeito à sanidade agropecuária. O Paraná é certificado como área livre de aftosa sem vacinação desde 2021. Porém, mais de três anos após o reconhecimento por organismos internacionais, alguns países e blocos ainda não se abriram para os produtos do estado.
“É o caso do Japão, que esperamos com ansiedade para o setor de suinocultura. O país está entre os maiores compradores da carne no mundo, esperamos a certificação há muito tempo. Acreditávamos que ocorresse no primeiro semestre, mas ainda não avançamos. O setor depende desses novos compradores para garantir crescimento e expansão”, afirma Zydek.
Cinco cooperativas paranaenses estão entre as maiores do mundo
Neste mês, a divulgação do ranking mundial das cooperativas reforçou o fortalecimento do setor no Brasil. O World Cooperative Monitor 2023 levou em consideração o faturamento registrado em 2021 e apontou 12 cooperativas brasileiras entre as 300 maiores do mundo, entre as quais cinco são paranaenses. No levantamento anterior, o Brasil aparecia com oito cooperativas.
A mais bem colocada entre as brasileiras é o Sistema Unimed (saúde) na 34ª posição. A Copersucar (açúcar e etanol) está na 43ª posição. As duas nasceram em São Paulo.
A paranaense Coamo (agroindústria) está na posição de número 121ª, enquanto as gaúchas Sicoob e Sicredi (crédito) aparecem na 124ª e na 130ª posição, respectivamente. A Aurora (agroindústria) do Rio Grande do Sul aparece em 142ª e as paranaenses C.Vale e Lar em 148ª e 154ª.
Completam a lista das brasileiras as cooperativas Comigo (agroindústria), de Goiás, na 155ª colocação; a paranaense Cocamar na 245ª; a Coopercitrus de São Paulo na 278ª e outra paranaense, a Copacol, em 284ª.
As cooperativas brasileiras faturaram em 2021, ano-base do levantamento, US$ 60 bilhões – cerca de R$ 300 bilhões. Somente o Sistema Unimed teve um faturamento de US$ 15,6 bilhões, enquanto o total da Copersucar ficou em US$ 13,88 bi e o da Coamo em US$ 4,4 bi.
“Nossa maior indústria do Paraná é uma cooperativa, a Coamo, de Campo Mourão. Assim como ela, temos outras com faturamento expressivo”, lembrou o superintendente da Ocepar. Das paranaenses que aparecem no ranking das maiores do mundo, a C.Vale registrou em 2021 faturamento de US$ 3,49 bilhões (mais de R$ 17 bi); a Lar somou US$ 3,23 bilhões (R$ 16 bi); a Cocamar US$ 1,68 bilhão (R$ 8,4 bi); e a Copacol US$ 1,38 bilhão (R$ 7 bi).
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