Estado líder na produção de frangos, o Paraná é responsável por 34,5% dos abates do Brasil e vem colecionando recordes ano a ano. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado teve um 2023 bastante produtivo no setor de avicultura. Nos três primeiros semestres, o Paraná abateu 1,6 bilhão de cabeças de aves. O volume de carne produzida, com o peso total das carcaças, foi de quase 3,5 milhões de toneladas. Os bons índices do estado paranaense também têm reflexo do mercado internacional, com ampliações de vendas à China e abertura para o mercado de Israel.
As principais notícias do Paraná no seu WhatsApp
Somente com exportações, o setor de avicultura do estado movimentou US$ 3,2 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Porém, o lucro não tem chegado no bolso do avicultor, que sente os altos custos de produção.
Segundo levantamento feito pelo Sistema Faep/Senar-PR, que representa o setor produtivo paranaense, o saldo sobre o custo total foi negativo em quase todas as regiões do estado. Os principais custos dos avicultores foram com energia elétrica e combustíveis.
Energia elétrica aumentou 17% para avicultores
Os custos para os avicultores foram altos em 2023. O levantamento do Sistema Faep/Senar-PR avaliou oito comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (CADECs) dos principais polos de avicultura do Paraná: Avenorte (Cianorte), BRF (Dois Vizinhos), JBS (Campo Mourão), Vibra (Itapejara do Oeste), BRF (Toledo), JBS (Jacarezinho), JBS (Jaguapitã) e JBS (Santo Inácio).
O levantamento aponta que custos com aquecimento, lenha e pellets ficaram estáveis nos últimos meses do ano. Ainda assim, foram fatores de peso para a produção. “A guerra na Ucrânia elevou o preço da lenha e encareceu o produto no Brasil. Na Europa teve muita demanda do Brasil, mas estávamos plantando menos e havia muita demanda. Dessa forma, o que aconteceu foi um aumento dos produtos derivados da lenha”, explica Fábio Mezzadri, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR.
O levantamento mostra que as maiores altas nos custos foram com a energia elétrica. Das oito regiões, seis apresentaram altas. “A gente observou a maior alta na energia elétrica, em torno de 17% a 20%, na maior parte das regiões. Tarifa aumentou para o produtor rural e isso encareceu bastante. O avicultor usa muita energia elétrica para ventilação. O aviário é todo automatizado e tem um gasto grande”, pontua Mezzadri.
Os produtores que têm energia fotovoltaica conseguiram ter uma redução nos custos da produção por não usarem energia elétrica. Mas não é o caso da maioria dos avicultores que não conseguiram nem cobrir os custos e, dessa forma, não têm potencial para fazer novos investimentos. “Na maior parte das regiões avaliadas, o produtor ficou no vermelho. Em muitas, só cobriu o custo variável e não cobriu os custos fixos. O produtor que quer fazer um investimento maior não consegue. Na região sudoeste, o custo não cobriu nem os variáveis”, afirma o técnico.
Avicultor encontra desafios com alto custo e falta de mão de obra
Avicultor há 16 anos, Juarez Pompeu encontra dificuldades para seguir no ramo em Chopinzinho (PR). O produtor abate em torno de 340 mil aves por ano e está buscando inserir tecnologia na granja. Para continuar na avicultura, Pompeu também se dedica a outras atividades, como milho, soja e trigo.
“A gente sempre está com dificuldade. A maioria está trabalhando no vermelho. A maior dificuldade que sentimos é a mão de obra. Tem muitas instituições financeiras que também não auxiliam o produtor. A mão de obra, energia elétrica, aquecimento com pele ou lenha, tudo isso aumentou”, enumera.
Ele pontua a dificuldade das instituições financeiras no auxílio ao produtor com boas condições de créditos. “O agricultor investe, por exemplo, R$ 2 milhões em uma granja. No seguro para duas granjas minhas pediram R$ 34 mil por ano. Já estamos com dificuldade e tirar esse valor é muito alto. Se a indústria fizesse um seguro coletivo com o integrado sairia mais barato, mas as empresas não querem se envolver”, acrescenta.
O avicultor espera uma melhora para o setor em 2024. “Esperamos que o setor tenha uma estabilidade melhor, que possamos trabalhar com um resultado melhor. Esperamos que a indústria olhe para o avicultor, para o integrado. A margem hoje é muito pequena, com granjas no vermelho”, afirma Pompeu.
Indústria batendo recordes e produtor no vermelho
Diener Santana, presidente da Comissão Técnica de Avicultura do Sistema Faep e avicultor, diz que o ano de 2023 foi marcado por dois extremos que envolvem a classe produtora e a classe industrial. “Para a classe industrial, foi um ano de recordes de produção; teve um curto período complicado. Mas a classe produtora teve um aumento de custo devido a exigências do próprio mercado externo com requisitos de segurança alimentar”, destaca.
Segundo Santana, os produtos que faziam aviários conforme a capacidade da propriedade precisam, com o aumento de produção, ampliar os galpões - e os custos. É uma conta que impacta a vida do pequeno produtor, pois o custo por ave é maior em locais pequenos. “Esse aumento de custo está impactando diretamente os pequenos produtos. Os maiores também, mas em um outro nível. Inúmeras propriedades estão sendo vendidas pela inviabilidade da atividade. Isso é uma realidade”.
A remuneração é o principal ponto que precisa ser revisto, de acordo com os técnicos do Sistema Faep. “O que pode ser feito é remuneração. O dólar tem se mantido. Soja e milho abaixou. Os insumos da ração diminuíram. Isso acarreta um custo de produção menor na indústria. Queríamos que tivesse uma melhor divisão de remuneração e uma participação melhor nos lucros”, ressalta Santana.
Ele aponta que a remuneração paga para o produtor não acompanha o sucesso das exportações do Paraná. A Faep, juntamente com a Comissão de Avicultura do estado e as Cadecs, está organizando uma reunião para negociar com a indústria e expor a situação da remuneração dos avicultores. “O negócio tem que ser viável, mas tem que dar lucro também. Os pequenos produtores que dependem exclusivamente disso têm passado dificuldades”, ressalta.
Dados do IBGE mostram que cerca de 1,6 bilhão de cabeças de aves foram abatidas no Paraná no ano de 2023. Com isso, o volume produzido desta proteína no estado, somado o peso total das carcaças, chegou a 3,5 milhões de toneladas e não 3,5 bilhões de toneladas, como havia sido informado de forma errada.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião