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Ministério adia decisão sobre unidade autônoma do Sul para “quando influenza aviária chegar”
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Desde fevereiro, autoridades políticas e sanitárias, aliadas ao setor produtivo da cadeia avícola do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina se debruçam em levantamentos de campo e relatórios técnicos para solicitar ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que a região seja reconhecida como uma unidade autônoma. A proposta é uma tentativa de proteger a produção com a iminência da possível chegada influenza aviária em outros estados brasileiros. O posicionamento do Mapa é de cautela. A pasta diz que ainda vai analisar a medida, caso haja o registro da doença no território nacional. O país nunca confirmou casos de gripe aviária, mas aos poucos países próximos detectam a doença e autoridades sanitárias regionais consideram uma questão de tempo para a patologia chegar ao Brasil. Entre os casos mais próximos estão diagnósticos na Argentina e no Uruguai.

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A unidade autônoma, pleiteada pelos três estados da região Sul, seria uma medida antecipada de proteção sanitária no caso de a doença ser registrada no Norte do país, por exemplo. Juntos, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná respondem por 60% de toda a cadeia comercial da avicultura nacional, com destaque às exportações para mercados como o chinês e em países do Oriente Médio.

Em nota, o Mapa afirmou à Gazeta do Povo que o Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária “está avaliando as possibilidades de zonificação de áreas do Brasil em uma eventual introdução do vírus da influenza aviária no país, considerando as orientações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), da qual o Brasil é signatário”.

A informação preocupa o setor produtivo. Para o coordenador da Câmara Técnica de Sanidade do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), Paulo Vallin, a medida precisa ser analisada com critérios técnicos e atenção de mercado. A entidade reúne cinco das dez maiores cooperativas do agro do Brasil na maior região produtora de frangos de postura e de corte brasileira, na região oeste do Paraná.

Valin acompanha todas as ações sobre gripe aviária e tem participado de fóruns estaduais e nacionais de discussão. O técnico entende que não adotar ações imediatas para proteção de mercado é algo que pode comprometer o status sanitário e, consequentemente, a saúde financeira de municípios inteiros. “Esperar acontecer [ter registro da doença] é preocupante porque a economia do oeste do Paraná, por exemplo, está voltada à avicultura, assim como em boa parte da região Sul do Brasil. E como ficará o mercado internacional? E se fecharem mercados? Teremos de conviver com diversos outros problemas que nos preocupam muito”, reforçou.

Para o coordenador da Câmara Técnica de Sanidade, no caso de registro de influenza aviária, o país terá grandes desafios. Um deles seria a acomodação no mercado nacional de um excedente em carne de frango, em um possível fechamento das exportações, somado à queda iminente no preço da proteína e problemas de estocagem. “Não temos tanto mercado para o produto internamente. Mais oferta implicaria numa redução expressiva dos preços, colocando questões financeiras em risco. Não temos onde estocar um grande volume do produto, porque os abates não vão parar, afinal, o que será feito com os planteis em criação? Precisamos tratar do assunto de forma antecipada”, reiterou.

R$ 33 bilhões de VBP avícola

Estatísticas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná identificam que a renda gerada pelo frango de corte superou R$ 33 bilhões em 2021, um incremento de 13% na comparação com o ano anterior. Os dados correspondem ao Valor Bruto da Produção Agropecuária divulgado em 2022 e que teve como ano base 2021. O levantamento do ano passado ainda está em curso e a versão definitiva será divulgada em agosto.

Segundo o Deral, em 2021, o preço médio de comercialização do produto teve valorização nominal de 43,6% e decorreu principalmente em função das demandas doméstica e externa aquecidas. Para Paulo Valin, isso revela a importância da cadeia para a economia estadual. Naquele ano, o embarque de exportações avícolas aumentou 9% em volume e 22% em valor no estado. A taxa média de crescimento anual do VBP da avicultura foi de 7% em uma década, passando de R$ 19,9 bilhões, em 2012, para R$ 37,8 bilhões em 2021, consolidou o Deral.

Paraná tem 27% do plantel brasileiro

Maior produtor de aves do país, o Paraná responde por 27% dos planteis brasileiros. Os números são de janeiro deste ano, divulgados pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), e totalizavam 428,5 milhões de cabeças. Em todo o Brasil são 1,530 bilhão de animais. Na produção de ovos de galinhas do Brasil, Santa Catarina é o principal destaque, seguido pelo Paraná.

A construção de protocolos de comportamento com parceiros comerciais, também como forma de proteção à influenza aviária, é destacada pelo secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara. De acordo com ele, o governo federal também analisa o comportamento dos compradores quanto a outros mercados fornecedores que já tenham registrado a doença. O secretário destacou que não se tem observado um fechamento de comércio ou restrições dessas aquisições em outros países.

“Temos adotado todas as medidas de vigilância ativa e passiva, construção de soluções e plano de ação caso haja confirmação, tudo em consonância com as autoridades brasileiras e estados produtores”, reiterou Ortigara, ao afirmar que a separação do Brasil em blocos não deixou a pauta reivindicatória.

“O Brasil está jogando um pouco duro com potenciais compradores e entendendo protocolos de países que também são grandes produtores concorrentes que continuam exportando a carne. O Brasil precisa jogar direito. Temos realizado dezenas de reuniões, analisado inquéritos sorológicos, com investigações e planos de contenção. Chegou-se até a discutir a vacina, mas ela manteria o frango vivo e transmitindo a enfermidade”, completou ele.

Ortigara destacou ainda que tanto o ministro Carlos Fávaro quanto o secretário de Defesa Agropecuária Carlos Goulart têm uma visão similar a das autoridades sanitárias regionais. “De negociar protocolos com outros países, se vai se adotar medidas retaliatórias caso tenhamos o problema, atuando firmemente nas medidas de prevenção. E na mesa de negociação segue a possibilidade de separar o Brasil em dois, até três blocos de acordo com as ligações regionais de produção”, disse.

O secretário paranaense defende a estreita cooperação técnica entre países vizinhos e de transparência de informações. “Não queremos medidas fogo de palha, de fato precisamos entender se os países não vão retalhar na origem de importação de outros mercados com casos da doença. Se em países grandiosos como os Estados Unidos, que têm influenza, não se derruba status sanitário, por que o Brasil seria retalhado?”, pontuou, ao destacar que o risco está em a doença chegar a aves comerciais, dentro das granjas.

Mapa elenca medidas de contenção e de pronta-resposta contra a influenza aviária

O Ministério da Agricultura reforçou à reportagem da Gazeta do Povo que toda a estrutura da pasta e do Serviço Veterinário Oficial do Brasil estão em alerta constante para realizar as ações em vigilância e, se necessário, de controle da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP), “com adoção de todas as medidas pertinentes e de acordo com o cenário epidemiológico atual”.

Ainda de acordo com o Mapa, o Plano de Vigilância de Influenza Aviária está implantado em todos os estados, "o que aumenta a capacidade de detecção precoce de casos suspeitos e de comprovação da condição de livre da doença”.

Estão sendo reforçados os procedimentos de atenção a emergências zoossanitárias, caso seja detectada a doença no Brasil, com a promoção de treinamentos teóricos e práticos sobre as ações de prevenção e atuação emergencial no controle da doença, quando necessário, reiterou a pasta. “Em paralelo, está sendo finalizado um plano de comunicação dirigido a todos os públicos envolvidos com aves, visando alertar para o risco de introdução da influenza aviária e para promover o engajamento das partes interessadas em ações de prevenção, em aves silvestres, aves de companhia, de criação comercial e de subsistência, bem como para ampliar a notificação imediata ao serviço veterinário oficial em casos de suspeita de doença”, complementa o órgão federal.

Além de reforçar procedimentos e alertas a todos os Órgãos Estaduais de Sanidade Agropecuária (OESA) e Superintendências Federais de Agricultura (SFA), o Mapa disse que tem mantido interações por meio de notas e reuniões com as autoridades nacionais da saúde e do meio ambiente, visando promover ações conjuntas e cooperação para prevenção e controle da doença, principalmente para aumento da vigilância em locais de pouso de aves migratórias.

“A rede de Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA), que possui laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) para diagnóstico da influenza aviária em Campinas-SP, está treinando e capacitando profissionais de diferentes países no diagnóstico de influenza aviária, bem como tem se dedicado a reforçar sua capacidade para o aumento da demanda de diagnósticos no Brasil”, esclareceu.

O Mapa alertou ter reforçado a interação com os órgãos estaduais de sanidade agropecuária e o setor privado da avicultura, além de contar com a colaboração da Embrapa, universidades e outros atores.

Além de Argentina e Uruguai, outros países próximos ao Brasil que já registram casos da doença são: Colômbia, Peru, Venezuela, Bolívia, Chile e Equador. Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde confirmou a primeira morte humana em decorrência do H3N8.  A mulher que morreu por complicações da infecção morava em uma província no sudeste da China e tinha 56 anos. Casos da doença são registrados em humanos desde o aparecimento da doença, em 2002. Nas aves, a infecção provoca sintomas gripais, com elevada mortalidade e de contágio bastante rápido, podendo comprometer planteis inteiros.

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