Entre os maiores desafios das grandes cidades estão otimizar o tempo que as pessoas usam em deslocamentos e descarbonizar o transporte. Mas pensar o futuro da mobilidade urbana é mais do que pensar em modais: é o uso inteligente e integrado entre eles. E isso envolve inteligência de dados e diversificação de meios de transporte, que vão de bicicletas a ônibus elétricos e metrôs. Sem esquecer da preparação da infraestrutura das cidades para que o jeito como as pessoas se deslocam sofra uma mudança de paradigma.
Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp
Empresas provedoras de soluções para a mobilidade e gestores públicos estão debruçados sobre este grande desafio e a inovação vem como ferramenta para tornar possível que o transporte deixe de ser um gargalo. Perder horas no trânsito não está mais nos planos de quem desenha o futuro do transporte urbano. Mas, para isso, vai ser preciso mudar o mindset de gestores e usuários para que, de um lado, o coletivo seja mais atraente ao público e, de outro, se inicie um processo de pensar o transporte individual não mais como uma alternativa da rotina diária, e sim um complemento do deslocamento.
O diretor-executivo de Administração Pública e Saúde da empresa Minsait, Ewaldo del Valle, acredita numa transição lenta, mas inevitável para a mobilidade urbana. “É fundamental para as cidades trabalhar o uso das tecnologias inovadoras transformacionais na gestão do tráfego. Porque em um intervalo curto de tempo não vai ter uma mudança da matriz de transporte de maneira radical. O cidadão vai continuar usando o veículo dele, ciclomotor ou automotor, e o transporte público existente nesse momento”, acredita.
O que muda é basicamente a forma como estes meios poderão ser integrados, com uso da inteligência artificial, assim como a tecnologia aplicada a eles, com a eletrificação. E o uso dos dados como otimizadores de tráfego, “organizando” a teia do trânsito de forma a oferecer a melhor alternativa para o trajeto. “É possível usar recursos como inteligência artificial e outras técnicas para dar mais fluidez ao tráfego, entendendo os pontos de congestionamento e lentidão para o escoamento do trânsito”, explica o diretor da empresa, que atua no desenvolvimento de tecnologias como plataformas de gestão de serviços envolvendo setores diversos, como transporte e logística.
A Minsait é um braço da espanhola Indra Company, que implantou um projeto-piloto na ilha de Las Palmas, na Espanha, capaz de fornecer uma visão ampla dos serviços públicos, em tempo real – entre eles, o sistema urbano de mobilidade. A aplicação Onesait é uma plataforma aberta, com capacidade IoT e big data, que permite integrar e gerenciar dados de múltiplas fontes e dispositivos para gerar informações relevantes para gestores públicos e população.
Os gestores conseguem identificar falhas e possíveis melhorias em serviços que vão da saúde ao transporte. Já os usuários otimizam o uso dos serviços públicos e, consequentemente, fazem uma melhor gestão do tempo e das alternativas de serviços disponíveis.
No que tange ao transporte, a ferramenta permite que os usuários visualizem no mapa quanto tempo os ônibus estão demorando para fazer um determinando trajeto e quais as melhores opções de linhas, por exemplo, além de quantas vagas estão disponíveis em estacionamentos, permitindo saber até mesmo em que momento estas devem ser desocupadas para dar espaço a outro veículo.
A empresa estima que a solução que auxilia os motoristas a encontrarem estacionamentos reduz em até 96 horas por ano o tempo gasto em congestionamentos. Fornece ainda pagamento automatizado e ferramentas de controle, dotadas de uma visão analítica das informações geradas.
“Em uma visão de curto a médio prazo, uma iniciativa importante no Brasil serão estes estacionamentos inteligentes próximos ao transporte de massa. É uma forma também de apoiar a redução do uso do carro, levando parte da população para o transporte público”, estima Del Valle.
Um jeito de estimular, aos poucos, a mudança de cultura do brasileiro de usar o transporte individual no trajeto inteiro, permitindo intercalar o uso de ônibus ou metrô, em distâncias maiores e de fluxo mais intenso, com carros privados ou compartilhados para os trajetos mais curtos e menos centrais.
Além da integração, eletrificação
Ao passo em que as cidades caminham para uma troca paulatina da frota de ônibus a combustão para elétricos, primordialmente, o mesmo deve acontecer com carros, motos e com a mobilidade ativa, como bicicletas e patinetes. Para conversar melhor com o transporte coletivo, o futuro visualiza veículos mais leves e, tanto quanto possível, no modelo de economia compartilhada: o usuário pega em um local, paga pelo uso e devolve em outro. Dali, parte para o ônibus ou o metrô. Algo já bastante difundido em grandes cidades europeias e norte-americanas.
“Isso resulta em uma ocupação mais otimizada das vias e, obviamente, em um impacto ambiental muito menor”, acredita o diretor da Minsait. Tecnologias existem para interagir dados e melhorar a integração dos transportes. E os organismos financiadores de programas de mobilidade costumam se interessar por projetos que agreguem sustentabilidade, além da possibilidade de parcerias público-privadas (PPPs).
Curitiba, capital do Paraná, gerou um modelo de transporte coletivo que inspirou 170 países no mundo todo: o BRT, Bus Rapid Transit, que conta com alternativas que agilizam os deslocamentos, como canaletas exclusivas para ônibus, estações-tubo e integração entre linhas. Mas mesmo em uma cidade que se pautou pela vanguarda, a inovação chega para atualizar a mobilidade.
Nesse contexto, a CWBus, hub que busca soluções para a mobilidade urbana em parceria com os entes públicos, está ajudando a desenhar as possibilidades para que a eletrificação dos veículos avance. “Temos que, em curtíssimo prazo, colocar em pé o modelo de transformação do transporte coletivo”, afirma o presidente-executivo, Luiz Alberto Lenz Cesar.
Para isso, não basta colocar os ônibus na rua. “É uma complexidade muito grande, que envolve a composição do ônibus em si. Tem uma bateria, um motor, o chassi, os pneus inteligentes e uma carroceria. Componentes diferentes, de empresas diferentes, que precisam ser trabalhados até que se tenha um composto único, de uma única fabricante”, explica.
Além disso, é preciso olhar para a adaptação das cidades ao receber esses veículos. A infraestrutura não se limita às estações de recarga nas garagens. “É preciso que todo o trajeto deste ônibus seja munido disso”, complementa.
A capital paranaense pretende eletrificar 100% da frota de ônibus até 2050 e pelo menos 30% até 2030. É apenas um exemplo entre as cidades que estão nesse caminho. Entre as cidades brasileiras que fazem parte do C40, rede mundial que agrega grandes municípios comprometidos com o combate às mudanças climáticas e a diminuição das emissões de CO2, estão também São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Na capital paulista, a meta é eletrificar 20% da frota até 2024.
Para que a mobilidade funcione e o transporte público seja atrativo é preciso olhar para as necessidades dos passageiros. “As pessoas buscam um ônibus que tenha mais conforto, mais agilidade e que tenha acessibilidade. Não apenas acessibilidade às pessoas com deficiência, mas a acessibilidade de conectividade. Vamos precisar integrar todas essas células”, adianta Lenz Cesar.
Soluções que vêm por aí
De olho no desafio de fomentar a mobilidade do futuro, empresas se debruçam sobre as soluções. A Enel X, braço da elétrica Enel que atua em desenvolvimento de soluções digitais para a eletrificação do transporte público, vem colocando em prática projetos que vão da aquisição dos ônibus elétricos à definição da infraestrutura para recarga e manutenção.
“Fazemos o investimento na aquisição dos veículos e na estrutura para a operação e aplicamos isso em parcelas mensais, que cabem no bolso do operador e com garantia financeira do poder público”, explica Carlos Eduardo Cardoso, responsável pela área de iCities da Enel X Brasil.
O grande paradigma é que as cidades nem sempre têm viabilidade financeira para implementar a mobilidade elétrica no transporte público. Isso sem contar as inseguranças de como tornar possível a operação e manutenção dos veículos. “Começamos a superar isso nos últimos três anos visitando muitos operadores e muitos municípios. A partir daí iniciamos nosso projeto mais emblemático, em Santiago do Chile”, conta. Desenhado o projeto de mobilidade para a cidade, iniciou-se a operação elétrica com dois veículos. “Hoje são mais de 1,5 mil administrados nesse modelo”.
Da experiência em Santiago, a mira veio para o Brasil, onde a empresa experimenta uma tecnologia chinesa, que deu bons resultados de performance, integrada a uma carroceria produzida no país. A implementação depende de planejamento e testes, que demandam levar em consideração não apenas as necessidades do poder público, mas de fabricantes de veículos e operadores do transporte coletivo.
“Há muitas incertezas, mas o quadro muda quando esclarecemos que se aplica a mesma manutenção para a carroceria que se faz no veículo a diesel”, diz Cardoso. “E a gente propõe assistência técnica, treinamento, capacitação, desenhando projetos que tragam benefícios não só financeiros, mas de redução de ruídos e de emissões de CO2”.
Um ônibus elétrico com capacidade para cerca de 70 passageiros reduz as emissões de carbono em uma média de 118 toneladas em um ano. “Isso com uma autonomia de 250 quilômetros por dia”, completa. A empresa testou um modelo em Curitiba e tem planos de testes em outras cidades brasileiras.
Mobilidade do amanhã
A mobilidade do futuro foi um dos focos do evento Smart Cities Expo, que aconteceu em Curitiba entre os dias 22 e 24 de março, reunindo empresas e gestores públicos na busca de soluções integradas para a formação das cidades inteligentes.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião