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Inteligência artificial é visto como promissora para melhorar eficiência e reduzir desperdício na indústria.
Inteligência artificial é visto como promissora para melhorar eficiência e reduzir desperdício na indústria.| Foto: Divulgação/Sinditrigo

O uso da inteligência artificial para produzir com mais eficiência, menos desperdício, menor custo, menos impacto ambiental e menos consumo de energia elétrica é um dos maiores desafios da indústria de moagem do trigo no Brasil. Depois de ganhos na cadeia produtiva, desde o aumento da produtividade no campo até o avanço tecnológico das indústrias, o passo seguinte é saber interpretar o arsenal de informações disponíveis para impulsionar o fator eficiência e atender as demandas do consumidor - o atual e o do futuro.

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“O novo consumidor, que tem 14, 15 anos, vai ser o comprador daqui a alguns anos. E ele tem um perfil diferente de gerações passadas. É um consumidor com mais informação e mais consciente. É alguém que lê tabela nutricional e quer saber se quem produz o que ele está consumindo respeita o meio ambiente”, destacou o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo-PR), Daniel Kümmel, durante o Workshop Moatrigo 2023, realizado na última semana, em Curitiba.

O evento, que reuniu diretores, executivos e colaboradores da indústria moageira de todo o país, teve como tema central a Gestão 5.0. “Temos que nos preocupar em entender esse novo consumidor e nos preparar para atendê-lo”, disse Kümmel. Para ele, esse consumidor mais exigente pode, em pouco tempo, passar de apenas um nicho de mercado para representar a maioria. O presidente do sindicato da categoria lembra que o trigo é a base da alimentação e está presente em 98% dos lares brasileiros.

Tecnologia acessível com foco em resultados

E, assim como em tantas outras áreas, a preparação do setor para o futuro tende a passar pela inteligência artificial. Para o professor de Transformação Digital, Marketing e Venda da Fundação Dom Cabral, Diocélio Goulart, os moinhos, como a indústria de processamento de alimentos, tem se beneficiado da tecnologia em toda a cadeia, desde o campo, com a agricultura de precisão, a indústria com a automação, a coleta de dados ao longo do processo produtivo, da armazenagem, até as vendas.

"A tecnologia tem se tornado cada vez mais acessível. Hoje temos uma interface que consegue, a partir de uma informação em linguagem natural, gerar um código em linguagem de programação. Um conhecimento que começa a estar ao alcance de um grupo cada vez maior. O ano de 2023 é o ano da produtividade. As indústrias precisam de muita produtividade e a inteligência artificial tem muito a acrescentar nesse ponto", defendeu o professor.

Segundo ele, as indústrias de maneira geral, especialmente as médias e pequenas, que compõem o motor da economia, podem não estar ainda devidamente estruturadas e preparadas para o uso da inteligência artificial. Mas elas não precisam esperar. "Muitas são empresas familiares em que todo o conhecimento e a informação está na cabeça de uma só pessoa ou de poucos indivíduos que atuam na organização. A tecnologia dá acessibilidade às informações e capacidade de empoderar as pessoas para que possam participar do processo de geração do conhecimento", frisou Goulart.

O professor da Fundação Dom Cabral destacou que o Brasil é, mundialmente, associado à questão da segurança alimentar. "Estudos mostram que temos potencial para aumentar a produção de alimentos em 40% até 2025. E esse aumento não se dará apenas na questão técnica no campo, mas no combate ao desperdício, com o aumento da produtividade da indústria. Alimento é perecível, pode estragar. Se eu tiver um melhor monitoramento da cadeia produtiva, consequentemente consigo combater o desperdício", explicou.

Dependência de trigo importado cai para 32%  

O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rogério Tondo, apresentou dados que mostram a redução da dependência externa de trigo. “O Brasil, historicamente, vinha importando cerca de 50% do trigo que consome. No último ano, essa importação caiu para 32%”, informou. Segundo ele, isso se deve ao aumento da produção e, também, à melhoria da qualidade de panificação da produção de trigo, especialmente no Sul do país.

“Os moinhos adquiriram um know how de moagem destes trigos ao longo dos anos, acompanhando a evolução da qualidade de manejo do produtor e interagindo para melhor integração e qualificação da cadeia de trigo. Têm uma comunicação muito próxima com as cooperativas, cerealistas, produtores, sementeiros e pesquisa. Com isso, estão bem posicionados para atender mercados em outras regiões do Brasil”, pontuou.

De acordo com dados da Abitrigo, a região Sul concentra 62% dos moinhos brasileiros e 50% de toda a capacidade de moagem do país. O maior parque moageiro está no Paraná, com 67 moinhos ativos, que representam 30% da moagem nacional. Em 2022, o estado produziu perto de 3,8 milhões de toneladas de farinha de trigo.

Santa Catarina tem 19 moinhos em operação, com capacidade instalada de moagem de aproximadamente 710 mil toneladas ao ano. A moagem em 2022 foi de 579 mil toneladas, correspondendo a 5% do volume nacional. No Rio Grande do Sul são 28 moinhos ativos, que em 2022 moeram 1,9 milhão de toneladas, respondendo por cerca de 16% do volume nacional.

Além das instalações nos estados do Sul, há moinhos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Alguns moinhos, por estarem nas proximidades de regiões portuárias, muitas vezes optam por moer o trigo importado. O Brasil importa o grão dos Estados Unidos, Canadá, Rússia, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Para o presidente do Conselho da Abitrigo, o maior consumo do trigo nacional pode ser estimulado com o incentivo à navegação por cabotagem, que é o transporte marítimo dentro do próprio país, uma forma mais barata para a movimentação de cargas a longa distância em comparação ao modal rodoviário.

"O trigo produzido no Sul do Brasil pode abastecer os moinhos do Norte e Nordeste, sendo transportado por navegação", propôs. Segundo ele, no ano passado, das 2,7 milhões de toneladas que o Rio Grande do Sul comercializou, 300 mil toneladas tiveram como destino moinhos das regiões Norte e Nordeste, o que só foi viabilizado pela cabotagem.

"Seria inviável transportar por caminhão a uma distância tão grande", explica Tondo. Essa forma de transporte foi viabilizada com a aprovação em 2022 da Lei da Cabotagem, a chamada BR do Mar. A expectativa é que, com a regulamentação da lei, o transporte por navegação dentro do país seja mais usado.

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