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Multinacional troca modal aéreo por marítimo e reduz custo na importação de peças
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A multinacional alemã Gemü, fabricante de válvulas industriais em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, conseguiu reduzir o custo de importação de peças e matérias-primas da Europa com a mudança do modal aéreo pelo marítimo. Na importação de peças, vindas da matriz na Alemanha, a redução foi de 23% e na importação de lençóis de borracha vindos da França, para serem usados no processo de fabricação das válvulas, a economia chegou a 76%. A mudança de modal começou a ser planejada em 2021 e se consolidou ao longo do último ano.

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"Precisávamos baixar nossos custos e começamos a estudar o que seria possível fazer", conta a gerente de suprimentos da empresa, Ureo Pereira. Ela diz que a Gemü trabalhou por cerca de 40 anos exclusivamente com o modal aéreo para trazer peças da matriz. Com o tempo, a produção da fábrica do Paraná aumentou bastante e, para dar conta, mais peças passaram a ser importadas. "Nossas cargas começaram a ficar muito grandes para vir de avião", conta. E não foi só isso. Diminuiu o número de voos cargueiros vindos da Europa para o aeroporto internacional Afonso Pena, de São José dos Pinhais. E, consequentemente, este frete ficou mais caro.

Para viabilizar a nova forma de transporte, no entanto, a empresa teve que fazer ajustes e muito planejamento. Enquanto a carga vinda de avião leva cerca de uma semana para sair do destino e chegar na fábrica, na região de Curitiba, de navio são 50 dias. "Tivemos que prever esse tempo a mais e passamos a trabalhar com estoque", explica Pereira. No caso das peças, isso foi possível porque são itens que têm um consumo padrão. "Não precisamos mais esperar o pedido ser feito para definir uma compra. Antecipamos a compra e fazemos estoque para ter a peça para entrega rápida ao cliente", diz.

A importação da matéria-prima (os lençóis de borracha) passou pela mesma migração, mas neste caso a empresa teve que recorrer a contêineres refrigerados, os mesmos usados no transporte de carnes, já que os lençóis não podem ser submetidos a ambientes quentes. "Dentro de um contêiner comum, a variação de temperatura é grande. Por isso, nesse caso tivemos que recorrer ao contêiner reefer [refrigerado]", esclarece a gerente. A mudança compensou, com uma economia de 76%.

Com o custo menor na importação, foi possível segurar o reajuste anual das válvulas para o cliente. "Não conseguimos dar desconto, porque tivemos muito aumento de custo em geral, mas pelo menos conseguimos conter o reajuste anual, o que acabou beneficiando o consumidor", destaca Pereira.

As válvulas são usadas em vários setores. Praticamente todo o processo industrial onde há um fluido, seja líquido ou gasoso, precisa de uma válvula para controlar o fluxo. São muito usadas pela indústria farmacêutica, na fabricação de vacinas e remédios, na biotecnologia, na indústria de alimentos, além dos setores de siderurgia, mineração, fertilizantes, na integração de sistemas de geração de energia e no tratamento de água, entre outros. A fábrica da Gemü de São José dos Pinhais fornece válvulas industriais para empresas de todos os estados brasileiros e exporta para a América Latina.

Transporte aéreo é mais caro, mas manter estoque não é barato

O gerente de assuntos estratégicos da Federação das Indústrias do Paraná, (Fiep), João Arthur Mohr, que é especialista em logística, diz que o transporte aéreo é, de longe, o mais caro. Por isso, optar pelo marítimo é uma boa solução. Porém, não é sempre assim. "É importante avaliar se há tempo suficiente para esperar a carga chegar, se há espaço para manter um estoque e qual o custo financeiro disso", observa.

"Tudo depende da urgência e da capacidade de armazenagem. Para as empresas que trabalham no modelo 'just in time' (quando as compras de suprimentos são feitas só quando há a demanda, sem a manutenção de estoques), isso não funciona porque não é possível esperar tanto tempo para receber a mercadoria", explica o especialista.

Para Mohr, o principal benefício do modal aéreo é o tempo. E também a não necessidade de manter um estoque. "Muitas vezes, a compra antecipada e a manutenção do produto parado durante muito tempo pode não compensar a redução do custo do frete. A conta é de cada um, se houver espaço para armazenar e tiver condições de bancar este custo financeiro pode, sim, haver uma redução, mas tudo tem que ser avaliado", orienta.

A direção do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), informa que os fretes marítimos estão em baixa, após terem sofrido elevações durante a pandemia. Em contrapartida, os fretes aéreos estão em alta devido a fatores globais, como o aumento dos preços dos combustíveis, a inflação e as altas taxas de juros. Essa situação torna o modal marítimo mais competitivo para cadeias de suprimentos internacionais.

Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada no final de 2022, apontou o custo logístico como um dos principais gargalos da indústria brasileira. Entre os entraves para a expansão do comércio exterior, os mais citados são o custo do transporte internacional, as tarifas elevadas cobradas pelos portos e o custo do transporte doméstico.

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