Da linha de frente à retaguarda, do atendimento direto aos pacientes até a realização de pesquisas científicas, em Curitiba, a área da saúde é composta principalmente pelas mulheres. Na Secretaria Municipal da Saúde (SMS), elas representam 84% do total de servidores, somando 5.459 dos 6.528 servidores.
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São enfermeiras, engenheiras, médicas, recepcionistas, administradoras, fisioterapeutas, psicólogas, e várias outras profissionais, das mais diversas áreas, responsáveis por planejar e manter toda a estrutura de atendimento à saúde na cidade, em meio a uma crise sanitária sem precedentes.
A proporção supera a média mundial: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, em 2020, elas representaram 70% da força de trabalho neste setor em todo o mundo.
Não apenas na linha de frente, as mulheres demonstraram protagonismo também na pesquisa científica, que subsidia atualmente o trabalho diário de quem lida com a Covid-19, uma doença até pouco tempo desconhecida. No Instituto Butantan, responsável pela produção da Coronavac, 71% dos pesquisadores são mulheres.
Em Curitiba, à frente de uma rede de quase 50 cientistas ligados à Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) está Cristina Baena, fisioterapeuta doutora em Ciências da Saúde. Ela foi a articuladora da união entre a pesquisa realizada nos laboratórios da Universidade e o trabalho diário realizado nos hospitais Marcelino Champagnat (HMC) e Cajuru, ligados à instituição.
“No começo todo mundo achava que o coronavírus iria evoluir de forma parecida com a H1N1, mas logo percebemos que era algo muito diferente. Eu, que estava no hospital, comecei a perceber dos intensivistas uma demanda por respostas, então foi quando comecei a fazer essa ponte com os projetos de pesquisa da universidade”, lembra.
Com a ajuda de outra mulher, a professora Lúcia de Noronha, que coordena o laboratório de patologia externa da PUC-PR, foi possível iniciar um estudo do tecido pulmonar e cardíaco de pacientes que haviam falecido. Em pouco tempo, confirmou-se aqui também o que pesquisadores de todas as partes do mundo vinham descobrindo: que a doença não era uma simples condição respiratória, mas sim sistêmica, pois causava trombos também em vasos do coração.
Para a coleta dos tecidos analisados, mais uma mulher tomou a frente da situação. Em um momento em que as formas de transmissão do coronavírus ainda eram incertas, a cirurgiã Anna Flávia Miggiolaro foi quem se voluntariou para realizar as biópsias.
"Eu não era uma médica de linha de frente. Mas vi a necessidade de termos o material para estudo e eu reunia as características necessárias pro trabalho, que eram a técnica e, claro, a coragem pra fazer esse procedimento que podia significar uma alta exposição ao contágio”, lembra.
Os resultados dos estudos não apenas se tronaram publicações em revistas internacionais, como também são compartilhados, desde o primeiro achado, por meios menos ortodoxos no campo científico, como o Whatsapp, para grupos de profissionais que atuam diariamente com a Covid-19.
"A possibilidade que a gente teve, lá no início, de trazer informações pros médicos aqui de Curitiba mesmo, da linha de frente, pra que eles conseguissem lidar melhor com a doença já no início de abril, é isso que nos motivou”, afirma Anna Flávia.
Os estudos foram responsáveis por mudar protocolos de ventilação mecânica e de anticoagulação ainda no início da pandemia. Atualmente as pesquisas ajudam a responder questões como o que leva os pacientes a óbito, o que faz com que fiquem mais tempo internados, o que faz o paciente piorar durante internação, a necessidade de intubação, além de estudos epidemiológicos.
Estrutura e planejamento
No Hospital Marcelino Champagnat, 86% dos profissionais são mulheres. No Cajuru, 84%. “Tradicionalmente a área assistencial de enfermagem e técnicos é composta por mais mulheres. Mas notamos que esse número cresce também na área médica e de outras especialidades”, conta a gerente assistencial do HMC, Jhosy Gomes.
Elas estão presentes também no planejamento da estrutura para o atendimento da saúde. A administradora Elaine Costa lidera um trabalho que envolve milhões de reais, centenas de pessoas e infinitas complexidades: coordenar as obras de expansão de um hospital, sem fechar as portas em meio a uma pandemia.
“Sempre tive o desejo mas também um certo receio de entrar nessa área essencialmente masculina, de liderar um projeto tão grande. Imaginei muitos entraves pela frente, mas hoje sou grata por ver que tudo está correndo tão bem. Trabalhamos para garantir que tudo esteja funcionando perfeitamente para que o profissional da saúde desempenhe seu papel de salvar vidas”, relata.
O profissionalismo, a solidariedade e o comprometimento das mulheres também estão presentes no voluntariado do Hospital Cajuru. Com participação nos grupos de palhaços, apresentações musicais e confecção de máscaras e bonecas de pano, as mulheres representam mais de 70% dos voluntários da instituição.
Protagonismo de Curitiba ainda não é a regra mundial
Na pesquisa, segundo Cristina Baena, grande parte dos cientistas são também enfermeiros, médicos, farmacêuticos, que além do atendimento diário nos hospitais, decidiram também encarar a coleta e análise de dados científicos. “Com o agravamento da pandemia, as que são mães tiveram também que lidar com a sobrecarga da nova rotina dos filhos em aula remota.”, afirma.
“Para mim, é um ato simbólico como o de alimentar. Quando faço pesquisa, estou tentando alimentar a sociedade com mais conhecimento e informação. Corremos riscos, algumas comprometeram a própria saúde buscando respostas. Mas tenho o prazer de conviver com mulheres muito corajosas”, completa.
Apesar dos incontáveis exemplos de protagonismo feminino na área da saúde, e embora em Curitiba a secretaria seja liderada por uma mulher, a enfermeira Márcia Huçulak, este não é o padrão encontrado na área pelo mundo.
"Feita por mulheres, liderada por homens" é a tradução para o português do estudo feito pela ONU, que apontou que 70% dos trabalhadores em saúde no mundo são mulheres. O mesmo estudo apontou também que, apesar da grande presença no setor, apenas 25% dos cargos de direção são ocupados por elas no mundo.
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