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Planta da Anhambi, em Pato Branco, que deve ser adquirida pela Cargill: capacidade de produção de ração para suínos será ampliada de 60 mil para 100 mil toneladas.
Planta da Anhambi, em Pato Branco, que deve ser adquirida pela Cargill: capacidade de produção de ração para suínos será ampliada de 60 mil para 100 mil toneladas.| Foto: Divulgação/Anhambi

Uma transação de porte está prestes a acontecer no interior do Paraná, estado que se destaca como o principal consumidor de ração para agropecuária do Brasil. A multinacional Cargill negocia a compra de uma das plantas da fabricante de ração Anhambi Alimentos, em Pato Branco, oeste do Paraná. A Anhambi, por sua vez, não entrou no negócio para ficar com um ativo a menos: a empresa tem planos de construir uma nova fábrica, em um investimento previsto entre R$ 50 e R$ 80 milhões. Um claro sinal de que o mercado de nutrição animal é promissor.

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O valor da aquisição não é divulgado. A solicitação de compra foi protocolada pela Cargill e está sob análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, órgão do governo federal responsável por aprovar fusões, aquisições e incorporações. E a multinacional adianta que, quando concluída a compra, deve investir R$ 15 milhões para ampliar a capacidade da fábrica de Pato Branco.

Em comum, Cargill e Anhambi têm a percepção de que o investimento no mercado de nutrição animal é uma estratégia em potencial. Cada uma dentro do seu segmento, já que este é um setor que abrange desde as rações produzidas para o agro, como alimento de suínos, aves, bovinos leiteiros, de corte e peixes, até o mercado pet.

Produção de rações segue tendência da cadeia da proteína animal

As rações têm uma dinâmica de mercado que segue o desenvolvimento da produção agropecuária. Mais produção de proteína animal significa mais necessidade de produção de alimento para as criações. Este é também um setor pautado por especificidades, como a tendência de evolução de qualidade do produto e ganho em valor agregado.

“Nos últimos anos, a curva de crescimento do mercado de rações no Brasil tem se tornado mais modesta, mas isso porque a inovação e a tecnologia têm se aplicado muito a esta atividade. Se há 15 anos o setor crescia até 12%, hoje cresce de 2% a 4% ao ano”, explica o CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani.

Para Zani, a ciência da alimentação animal, em paralelo ao melhoramento genético dos animais, faz com que a quantidade de ração consumida diminua, mas não no sentido de perda. “A indústria consegue oferecer um produto que pode ser mais bem aproveitado. A demanda por ração segue crescendo, numa velocidade menor, mas por conta do benefício. A alimentação está cada vez mais nutritiva”, esclarece.

Ariovaldo Zani, do Sindirações: potencial produtivo de proteína animal brasileiro demanda também nutrição, que movimenta R$ 180 bilhões ao ano em matérias-primas utilizadas na produção de rações.
Ariovaldo Zani, do Sindirações: potencial produtivo de proteína animal brasileiro demanda também nutrição, que movimenta R$ 180 bilhões ao ano em matérias-primas utilizadas na produção de rações.| Divulgação/Sindirações

Polos de produção e consumo

O Brasil consome cerca de 80 milhões de toneladas de ração todos os anos. Destas, 20 milhões são só no Paraná. E o movimento que se observa é que a indústria tende a seguir o fluxo da melhor logística e priorizar a instalação de seus ativos próximo aos planteis. De preferência, com facilidade de captação de matéria-prima para a fabricação das rações, como milho, farelo de soja e farinhas e gorduras de origem animal, obtidas junto a frigoríficos e abatedouros.

“A questão logística pesa muito, então, embora eu possa ter uma fábrica em Minas Gerais, por exemplo, para atender o sul seria muito melhor se tivesse uma fábrica na região. Essa é outra razão pela qual as empresas buscam colocar suas plantas de nutrição animal mais próximas dos seus polos consumidores”, avalia Zani.

Assim, não é surpresa o Paraná ter posição de destaque nesse mercado, que apenas em movimentação de matérias-primas usadas na produção das rações alcançou R$ 180 bilhões em 2022, segundo dados do Sindirações. Não entram na conta, porém, custos com embalagens, energia na industrialização ou margem de lucro.

Paraná é polo industrial de alimento para as criações

Se o estado concentra a maior produção de frangos do Brasil e é o segundo em produção de suínos, atrás apenas do vizinho Santa Catarina, naturalmente vira um polo industrial de alimento para as criações. E não apenas para estes planteis, mas também para gado leiteiro, outro ponto forte do Paraná. Recentemente, a holandesa De Heus anunciou um plano de expansão para a unidade que mantém em Apuracana, norte do Paraná, onde produz rações para bovinos de leite e de corte.

“Majoritariamente, para esse consumo, seja no Paraná ou em Santa Catarina, a produção da ração acontece ali mesmo”, diz. Se juntar o Rio Grande do Sul, os 3 estados absorvem cerca de 40% do consumo de ração nacional.

Além da produção para suínos, aves e bovinos leiteiros, também entra na lista a ração para peixes (vale lembrar que o Paraná é líder em piscicultura de água doce no Brasil). Mas a estratégia não para por aí.

Fábrica da Anhambi que pode ser da Cargill produz ração para suínos, um dos planteis fortes do Paraná.
Fábrica da Anhambi que pode ser da Cargill produz ração para suínos, um dos planteis fortes do Paraná.| Ari Dias/Agência de Notícias do PR

Anhambi fortalece mercado pet, mas não abandona o agro

A paranaense Anhambi nasceu em Itapejara do Oeste, onde mantém sua matriz. Possui duas plantas produtoras de rações - uma delas é a que está sendo negociada, em Pato Branco. Na unidade, a empresa já produzia produtos específicos para suínos para a Cargill. “Para a gente era um negócio muito bom, mas estrategicamente não faz sentido ter uma fábrica do lado da outra”, conta o gerente nacional de vendas da empresa, Rainer Fernandes.

As duas cidades ficam a pouco mais de 30 km de distância. “Ao mesmo tempo em que para a Cargill é um bom negócio pegar uma fábrica operando, com todas as licenças para produzir tanto rações normais como medicadas e com qualidade e desempenho de nível multinacional, para nós foi muito interessante fazer essa venda para investir em outra planta, mas em uma região que a gente não atende”, explica.

A indústria comercializa seus produtos em 7 estados brasileiros e exporta para 4 países. Com a venda da fábrica e o novo investimento, pretende ampliar a produção das atuais 10 mil toneladas de ração para 12 mil. O foco passará a ser alimentos para animais de companhia. O que não quer dizer que os restantes não continuarão sendo produzidos.

“Temos solução nutricional para diversas espécies e vamos continuar tendo. Desde aves poedeiras até as de corte, peixes, codornas, mas o foco vai ser o produto pet”, diz o gerente de vendas, destacando o crescimento deste último segmento dentro do ramo. “É um mercado que cresceu 15% no país ano passado e a gente tem perspectiva de aumentar em 80% em 5 anos.”

Queda nos valores dos insumos

Quanto à ração para animais de produção, Fernandes vê como positiva a queda no valor de insumos como o milho. “Resulta em um produto mais competitivo para gerar mais consumo interno e consequentemente aumentar as exportações”, espera. Mas como este é um mercado dinâmico, que acompanha a variação das commodities, trabalhar com multiespécies segue sendo a melhor estratégia, na visão do gerente de vendas.

O lugar onde será instalada a nova fábrica ainda está sendo avaliado pela empresa. “Além de localização vamos levar em conta fatores como mão de obra e matéria-prima disponível. Mas ainda estamos estudando os detalhes.”

Para Cargill, nutrição animal é investimento relevante

A planta que está sendo negociada pela Cargill opera atualmente com uma capacidade de produção de 60 mil toneladas de ração ao ano. Para o diretor geral de Nutrição Animal da empresa, Celso Mello, o negócio vai fortalecer a estratégia de expandir mercados e resultados, focando em setores atrativos como o de nutrição animal. Inclusive no Paraná, onde a companhia já possui duas fábricas, uma em Toledo e a outra em Quatro Pontes, ambas no oeste do Estado.

“A Cargill já prevê investimentos para elevar a capacidade da planta para 100 mil toneladas anuais e ampliar a produção também para a fase de creche dos leitões”, antecipa. A produção será usada para abastecer primordialmente o mercado interno.

Além das fábricas no Paraná, a empresa possui outras 3 em Goianira (GO), Itapira (SP) e Chapecó (SC). “Mas, se considerarmos outros negócios da Cargill, como Agrícola e Ingredientes, temos estruturas em outras cidades paranaenses há décadas, o que demonstra nossa aposta no Estado para avançar com nossa estratégia no Brasil”, ressalta o diretor.

Celso Mello, da Cargill: negócio vai fortalecer estratégia de expandir mercados e resultados em setores como o de nutrição animal.
Celso Mello, da Cargill: negócio vai fortalecer estratégia de expandir mercados e resultados em setores como o de nutrição animal.| Divulgação/Cargill
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