Com taxa de reprovação de 8,6% na educação básica — índice duas vezes maior que a média registrada no estado do Paraná em 2019 — e dificuldade de aprendizagem de disciplinas como Português e Matemática entre alunos do 1° ao 4° ano, o litoral do estado tem apresentado baixo crescimento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) desde 2015, realidade que piorou devido à pandemia de Covid-19.
“Nosso maior desafio tem sido retomar o processo de aprendizagem, pois ficar quase dois anos ‘fora’ da escola impactou no desenvolvimento dos estudantes”, afirma a secretária de educação de Paranaguá, Tenile Cibele Xavier, ao citar que quase metade dos alunos não resolve exercícios matemáticos propostos para a idade. “E a dificuldade não é só para executar o cálculo, mas também para interpretar o que a atividade pede”, explica.
De acordo com a Associação dos Municípios do Litoral (Amlipa), essa também é a realidade de Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes e Pontal do Paraná. Por isso, eles decidiram unir forças para melhorar a educação básica na região com o primeiro Arranjo de Desenvolvimento da Educação do estado, o ADE Litoral Paranaense.
O projeto é desenvolvido pelo Instituto Positivo (IP) com a finalidade de fortalecer secretarias de educação, colaboradores e estratégias de ensino, visando aumentar a qualidade da educação pública no Brasil. “Como o instituto queria implantar um ADE no Paraná, iniciou uma seleção avaliando indicadores educacionais de todas as regiões do nosso estado”, explicou Marcelo Roque, presidente da Amlipa.
Um dos dados analisados foi o Ideb, índice criado em 2007 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O índice estabelece notas de 0 a 10 a partir de dados referentes à aprovação escolar e avaliações da educação básica, com a meta de que cada município trabalhe para alcançar, pelo menos, 6 pontos — média do sistema educacional em países desenvolvidos.
No entanto, a taxa no Litoral do Paraná estava em 5,6 no ano de 2019, enquanto a média do estado era 6,4. “Este e outros indicadores preocupantes fizeram com que nossa região fosse escolhida para implantação do projeto”, relata Roque, ao estimar que a oportunidade pode angariar melhorias necessárias para a educação no litoral.
Projeto em andamento
Com o território escolhido, especialistas do Instituto Positivo entraram em contato com os dirigentes municipais na área de educação dos sete municípios envolvidos para verificar a viabilidade do regime de cooperação intermunicipal.
De acordo com Cristiane da Fonseca, coordenadora de Implantação dos projetos sociais do IP, todos os gestores demonstraram interesse, e o Arranjo de Desenvolvimento da Educação no Litoral iniciou com reuniões para diagnosticar problemas relacionados ao ensino das disciplinas escolhidas e elaborar um plano de ação para melhorar a aprendizagem.
“Não focamos apenas na melhoria dos dados educacionais, mas na qualidade da educação como um todo durante cerca de três anos”, ressalta a supervisora, ao citar que isso exige fortalecimento do regime de cooperação entre municípios, compartilhamento de experiências entre gestores e equipe e maior visibilidade do território diante do estado. “Inclusive com mobilização de novos parceiros que podem contribuir com recursos humanos, técnicos e financeiros”.
Em todo esse processo, segundo ela, os especialistas em educação do IP direcionam as ações propostas, acompanham o desenvolvimento e auxiliam na captação de recursos para realização dos projetos. “Um apoio essencial, principalmente neste momento atípico pós-pandemia”, avalia a professora Janaina Silva Alves.
Diretora pedagógica do município de Pontal do Paraná, ela explica que os problemas educacionais na região — que já eram preocupantes antes da pandemia de Covid-19 — se intensificaram devido às mudanças emergenciais no setor educacional. “Agora, de volta ao ensino presencial, nos deparamos com um cenário ainda mais desafiador com muitos alunos em defasagem de aprendizado”, afirma, ao citar as primeiras estratégias definidas pelo ADE com foco nesses estudantes.
“Vamos realizar um trabalho de apoio com ampliação de jornada para eles e focaremos no atendimento individualizado”, adianta, ao explicar que o ADE organizará trilhas de aprendizagem e eventos de formação para capacitar os profissionais neste novo contexto. “É algo que ainda está sendo construído, mas que dará resultados no curto, médio e no longo prazo”, finaliza.
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