Parte da propina paga pelo empresário Vicente Malucelli ao presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano (PSD), foi parar na conta do dono de uma oficina mecânica de Francisco Beltrão, reduto eleitoral do deputado. O detalhamento do caminho do dinheiro está entre as provas do caso divulgadas pela RPC TV e pelo G1, e que seguem sob sigilo judicial.
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A sugestão para que o valor fosse depositado na conta do mecânico partiu do próprio Traiano, de acordo com as gravações feitas por Malucelli. “Eu posso mandar da conta da TV mesmo?”, perguntou o empresário. “Sim, não tem problema nenhum. É uma empresa de mecânica lá”, sugere Traiano na gravação.
Na delação premiada, Malucelli afirmou que parte dos pagamentos foi feita dentro do prédio da Alep, em dinheiro vivo no gabinete de Traiano (R$ 50 mil), e em cheques, dois de R$ 20 mil e um de R$ 10 mil, entregues no prédio onde o deputado mora.
Cheques foram emitidos sem a identificação do portador a pedido de Traiano
O Ministério Público do Paraná (MP-PR) rastreou o caminho dos cheques e identificou que dois deles foram depositados na conta do mecânico de Francisco Beltrão. O outro foi compensado na conta de uma empresa de transportes de Curitiba. Nem o mecânico nem a empresa são investigados no caso.
Na delação, Malucelli explicou aos promotores que Traiano pediu que os cheques fossem entregues sem indicação do portador. O empresário confirmou ter preenchido apenas os campos de valor e assinatura. “Ele [Traiano] pediu para que deixasse [o nome do portador] em branco”, afirmou Malucelli.
Registros da J. Malucelli confirmam visitas de Plauto Miró à sede da empresa
Plauto Miró foi até a J. Malucelli para receber sua parte da propina, aponta o MP-PR. Entre as provas colhidas durante as investigações, os promotores identificaram duas visitas de Miró entre os registros de acesso à sede da empresa.
O então deputado estadual recebeu sua parte na propina em dois cheques de R$ 50 mil entre os meses de setembro e outubro de 2015, conforme os documentos anexados pelo MP-PR ao processo. Os pagamentos foram feitos pessoalmente por Georgete Soares Bender, responsável por parte das finanças do grupo J. Malucelli.
“Uma vez o Vicente disse que ele [Plauto Miró] estava indo a Ponta Grossa e ia passar ali na empresa e já ia pegar esse montante, R$ 50 mil. Ele chegou na recepção, se anunciou, daí eu fui buscá-lo. Levei até a minha sala e entreguei o pacote com R$ 50 mil. Depois, em um outro período, aconteceu a mesma coisa”, disse Georgete, em depoimento ao MP-PR.
Os registros de acesso à sede da J. Malucelli mostram que Miró esteve no local no dia 24 de setembro de 2015 entre as 11h28 e as 11h38. A placa do carro usado pelo ex-deputado e o nome dele estão preenchidos na planilha de controle da empresa. O nome de Georgete aparece no mesmo registro.
Provas seguem sob sigilo mesmo após o fim das investigações
Após ouvir suspeitos e testemunhas e analisar dados de quebras de sigilos bancários, o MP-PR afirmou terem se esgotado as investigações por lavagem de dinheiro. Os indícios da prática de corrupção passiva por Traiano e Miró, porém, levaram à proposição dos Acordos de Não Persecução Penal com os deputados.
Uma das exigências era que os deputados assumissem a autoria dos crimes, o que foi confirmado por ambos. Com o acordo homologado pela Justiça, Miró e Traiano deixaram de ser processados criminalmente após a confissão e o pagamento de R$ 187 mil cada a título de reparação. As provas seguem sob sigilo da Justiça, mesmo após a homologação do acordo e o fim das investigações.
O que dizem os citados na reportagem
Em nota, a defesa de Ademar Traiano afirma que considera o caso como encerrado. “O deputado Traiano reafirma que formalizou um acordo junto ao Ministério Público, o qual foi homologado pelo Poder Judiciário e plenamente cumprido por sua parte. Conforme a legislação em vigor, o assunto está encerrado”, destacou a assessoria de Traiano.
À RPC, o ex-deputado Plauto Miró enviou uma nota idêntica à de Traiano, na qual também considera o caso de corrupção como encerrado.
A defesa de Vicente Malucelli disse que as ações foram pautadas por ordens de superiores hierárquicos no grupo J. Malucelli. Os advogados de Joel Malucelli e do grupo J. Malucelli disseram que não têm nada a declarar.
Georgete Bender não se manifestou sobre o caso. Em declarações anteriores, a colaboradora afirmou que em razão do caráter sigiloso das investigações, apenas esclarece que a participação dela nos fatos se limitou ao estrito cumprimento de ordens.
Para o Ministério Público do Paraná, a homologação do acordo com os deputados Ademar Traiano e Plauto Miró e seu cumprimento “encerram o caso no que toca ao seu teor”. O MP-PR reforçou que os áudios e vídeos estão em segredo de Justiça “por determinação legal e ordem judicial”, e que a celebração dos acordos “guarda completa sintonia com o previsto no ordenamento jurídico”.
O Tribunal de Justiça do Paraná disse, em nota, que não se pronuncia sobre julgamentos e confirmou as provas exibidas pela RPC TV e pelo G1 como ainda sigilosas.
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