A navegação por cabotagem (o transporte de um porto a outro, dentro do próprio país), ainda incipiente no Brasil, começa a ser realidade neste mês de fevereiro no Porto Ponta do Félix, em Antonina, no Litoral do Paraná. O primeiro carregamento sai nos próximos 15 dias levando trigo paranaense para os moinhos do Nordeste do Brasil.
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É na navegação por cabotagem, além de investimentos em infraestrutura e em segurança, que o porto aposta para crescer 65% este ano em movimentação de cargas, na comparação com 2022. Neste último ano, já houve um crescimento de 30% em relação a 2021. Se confirmada a projeção, Antonina chegará ao fim do ano totalizando 2,5 milhões de toneladas movimentadas.
Brasil transporta só 11% das cargas por cabotagem
De acordo com dados da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), apenas 11% de tudo o que é transportado no país vai por cabotagem. Na China, o modal aquaviário responde por 50% de toda a movimentação de carga. Embora ainda restrita, a cabotagem vem crescendo a uma taxa de 10% ao ano na última década e está presente em praticamente todos os portos brasileiros. É considerada a melhor solução em transporte quando a distância entre a origem e o destino ultrapassa 1500 quilômetros.
Segundo dados do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), cerca de 22 milhões de toneladas de cargas transportadas por estradas poderiam ser entregues por navios, se a cabotagem fosse mais incentivada. Um dos entraves era a exigência, até o ano passado, de a cabotagem ser feita apenas por navios de bandeira brasileira, o que restringia bastante as operações. A Lei da Cabotagem, sancionada no começo de 2022, derrubou essa restrição, o que impulsiona a modalidade com mais ofertas de navios.
Em Paranaguá, cabotagem representa 5%
No Porto de Paranaguá, também no litoral paranaense, a cabotagem representou 5% de tudo o que foi movimentado em 2022, mas essa participação vem crescendo ano a ano. Agora, o Porto Ponta do Félix recebeu a habilitação para a cabotagem e o primeiro lote está sendo formado. Serão 15 mil toneladas de trigo que sairão nos próximos 15 dias do Paraná, com destino a moinhos do Nordeste do Brasil.
“Essa habilitação abre oportunidade para a movimentação de outras cargas que estejam indo de caminhão para outras regiões do Brasil e possam ir de navio”, destaca Gilberto Birkhan, presidente do Porto Ponta do Félix.
Investimentos em infraestrutura
O crescimento da movimentação no Porto de Antonina se deve também a investimentos em infraestrutura. Nos próximos meses, o terminal terá novos armazéns que vão ampliar em 85% a capacidade de armazenagem, passando das atuais 280 mil para 520 mil toneladas, de forma gradativa.
“Em 2022, finalizamos os silos para importações de malte, cevada e trigo, que entram em operação agora em fevereiro”, informa o Birkhan. “Com isso, passamos a ter uma estrutura dedicada, com silos de concreto, para esses produtos que já operamos, mas que agora ganham capacidade de expansão, podendo dobrar o volume, chegando a 200 mil toneladas por ano”, explica.
Mais espaço para fertilizantes
A ampliação no Porto de Antonina vai oferecer mais espaço para o mercado de fertilizantes, um dos principais produtos importados pelo Paraná. Em 2022, segundo dados da Portos do Paraná, foram importadas quase 10 milhões de toneladas do insumo pelos portos de Paranaguá e Antonina.
O volume representa 27,5% de tudo o que o país recebe em adubos. “Os portos paranaenses são as principais portas de entrada dos fertilizantes no Brasil. Aumentando o espaço para armazenar o produto atendemos uma demanda dos nossos clientes”, destaca o presidente do Porto de Antonina.
Cargas diversificadas
Cargas convencionais, como fertilizantes e açúcar ensacado, continuam compondo grande parte da movimentação do Porto Ponta do Félix, mas as melhorias têm viabilizado a diversificação das mercadorias.
Um dos produtos que chega pelo terminal é o carbonato de sódio, conhecido por barrilha, muito usado em vários processos industriais. Além disso, o sal também é importado por Antonina e na exportação são destaque a pellet de cana de açúcar, pellet de madeira e alimentos que têm como destino a Venezuela.
Em 2019, o Porto de Antonina registrou o quinto maior crescimento entre 19 portos brasileiros. “Antonina está trabalhando com novos tipos de carga, o que é algo inédito. Trabalhamos com cargas que não havia precedente de operação no Porto Ponta do Félix. Isso nos consolida como porto complementar e aliado do Porto de Paranaguá", diz Birkhan.
Mais segurança
Neste início de ano, o porto completou os investimentos em novas defensas marítimas, equipamentos que proporcionam mais segurança durante a atracação dos navios. Com as defensas, o impacto do navio com a estrutura de atração é reduzido, preservando a embarcação.
A expectativa é que as melhorias atraiam mais navios para Antonina. O presidente do porto já fala em construção de um novo berço de atração. Seria o terceiro em Antonina. “Entendemos que vamos precisar de um maior espaço para atracação. É uma decisão que vamos tomar nos próximos 60 dias, mas existe a possibilidade de dar início ao projeto ainda este ano”, sinaliza o presidente.
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