A conectividade digital ainda é um percalço em uma das regiões mais produtivas e estratégicas do Brasil, onde se concentram os principais plantéis da avicultura, suinocultura e piscicultura paranaense, bem como cinco das dez maiores cooperativas do agronegócio brasileiro. Levantamento encomendado pelo Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), que reúne setores produtivos, academia, desenvolvimento integrado e entidades públicas, revelou que 40% do território do oeste paranaense está completamente desprovido de acesso à internet. A região abrange 50 municípios onde vivem aproximadamente 1,2 milhão de pessoas.
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O presidente do POD, o industrial Rainer Zielasko, expressou surpresa diante dos resultados. "Jamais imaginávamos que teríamos esse resultado, diante de tudo o que produzimos e do potencial econômico que temos. Nunca passou pela nossa cabeça que 40% da região não tivesse cobertura de internet". Os impactos dessa lacuna tecnológica são particularmente prejudiciais ao setor agrícola, comprometendo a utilização de tecnologia de ponta em máquinas e implementos milionários.
A ausência de conectividade impede leituras em tempo real da eficiência, produtividade e detecção de doenças nas lavouras por meio de drones.
Muitos produtores, segundo Zielasko, captam informações no campo, mas precisam esperar para chegar em casa ou encontrar um local com acesso à internet para verificar e analisar os dados. Diante desse cenário, os estudos encomendados pelo POD visam não apenas fornecer dados concretos sobre a situação, mas também auxiliar na elaboração de relatórios técnicos que embasem a formulação de políticas públicas.
Além disso, a intenção é reivindicar junto às operadoras uma maior cobertura e acesso à internet, para mitigar as dificuldades enfrentadas pelos habitantes e, especialmente, pelos produtores rurais. Zielasko destaca que os locais com maior fragilidade estão no interior, em propriedades rurais, evidenciando a urgência de soluções para promover a conectividade digital nesses pontos críticos.
Caos digital no cenário nacional
Nacionalmente, um levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) corrobora o problema: somente 27% das propriedades rurais no Brasil têm acesso à conectividade.
Algumas das principais fabricantes de máquinas e implementos agrícolas presentes no país destacam o ponto crucial que é incluir tecnologias conectadas no campo. As indústrias reforçam a integração de máquinas conectadas que permitem ao produtor rural a coleta de dados valiosos durante as operações agrícolas, possibilitando a produção de mapas detalhados em todas as fases da safra. Essa abordagem simplifica a visualização das operações, proporcionando um olhar abrangente e estratégico da produção.
As empresas têm incorporado a discussão sobre conectividade com frequência em eventos especializados, como o Show Rural, realizado em Cascavel (PR), um dos maiores eventos do agronegócio na América Latina. O tema deverá ser um dos principais na programação da próxima edição da feira, em fevereiro de 2024.
Se falta conectividade, não faltam iniciativas
Apesar dos desafios de acesso à tecnologia no campo, o oeste do Paraná se destaca como um polo de criação e implementação de soluções tecnológicas para o setor agrícola. O empresário Sérgio Altavini, executivo do Acic Labs, ressalta que, mesmo com entraves tecnológicos, a região tem se firmado como referência na inovação voltada para o agro. O programa, vinculado à Associação Comercial e Industrial de Cascavel, tem cobertura regional.
A trajetória do Acic Labs teve início em 2017, quando um grupo de gestores visitou renomados polos de conhecimento tecnológico pelo mundo, incluindo o icônico Vale do Silício, nos Estados Unidos. Inspirado por essas experiências, o grupo retornou com a missão de implementar iniciativas semelhantes na região.
Em 2021, um dos projetos dedicados à tecnologia agrícola recebeu reconhecimento do Ministério da Agricultura, conquistando prêmios e certificações pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para os desafios históricos do setor. Entre essas conquistas estão equipamentos destinados à alimentação e monitoramento constante em aviários, uma contribuição significativa para a região que é a maior produtora de aves do Brasil.
Da parte do poder público em resposta à lacuna da cobertura digital, o Ministério da Agricultura e o das Comunicações trabalham para priorizar o atendimento às propriedades rurais por meio do Plano Nacional de Inclusão Digital, utilizando o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O governo federal calcula que aproximadamente 25 milhões de brasileiros, predominantemente nas áreas rurais, sejam beneficiados pela iniciativa. Ainda não há um prazo definido para implementação.
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