Em 22 de junho de 2020 a Prefeitura de Cascavel anunciou uma novidade no combate à pandemia de Covid-19: a inauguração daquele que seria o primeiro hospital de campanha do Paraná exclusivo para o atendimento da doença. Contudo, a iniciativa tida a princípio como uma forma mais racional de enfrentamento ao novo coronavírus na cidade não durou muito. Três semanas depois de aberta, a unidade que levava o nome da primeira vítima fatal da pandemia em Cascavel, o empresário Nei Senter Martins, fechava as portas. A reabertura do espaço para atendimento aos pacientes já tinha sido descartada pela Prefeitura, mas, ao responder um questionamento da Gazeta do Povo, a Secretaria Municipal de Saúde informou que ainda considera voltar a operar o hospital de campanha.
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O hospital foi montado no Centro de Convenções e Eventos de Cascavel, e teve parte de sua estrutura física, elétrica e hidráulica bancada pela doação de um empresário – “sem nenhum custo para a Secretaria de Saúde”, frisa o documento enviado pela pasta à Gazeta do Povo. Os equipamentos e instrumentos utilizados pelo hospital não foram adquiridos para serem utilizados naquela estrutura, salienta o documento, e sim foram remanejados de outras unidades de saúde do município.
Na época da inauguração, a ideia era concentrar os primeiros atendimentos da Covid-19 em um só lugar para assim tornar o atendimento mais seguro. “Da forma que estava, nós estávamos muito vulneráveis. Primeiro porque nós temos que ter material de equipamento de segurança em todos os lugares. Segundo: no formato que estava acaba tendo a possibilidade de muitas pessoas, provavelmente com o vírus, estarem em muitos lugares da cidade. Então aqui a gente tem toda uma estrutura, todos os profissionais estão aqui", observou o prefeito Leonaldo Paranhos, quando da abertura do hospital.
A preocupação do prefeito era justificada pelos dados oficiais do município. No dia da abertura do hospital de campanha, Cascavel contabilizava 1.848 casos positivos de Covid-19 e 33 mortes causadas pela doença. A taxa de utilização dos leitos de UTI chegava a 81%.
No período em que esteve aberto, o hospital de campanha Nei Senter Martins realizou 1.514 atendimentos. Por lá também foram realizados 171 testes rápidos de Covid-19 e 761 coletas para exames mais detalhados. A estratégia, porém, foi deixada de lado apenas 21 dias depois da inauguração.
Hospital teria servido a seu propósito em apenas três semanas
Todos os equipamentos médicos e os servidores que lá estavam foram remanejados de volta para o hospital de retaguarda Allan Brame Pinho e para a UPA Brasília, que estava sendo reinaugurada após ter passado por reforma. Na prática, se antes o atendimento vinha sendo concentrado no hospital de campanha para garantir a segurança de pacientes e profissionais de saúde, a partir de 12 de julho de 2020 voltou a ser feito em diversos locais. O secretário municipal de saúde Thiago Stefanello justificou a decisão em pronunciamento nas redes sociais: "Nossa equipe técnica não encontra mais a necessidade da manutenção desse hospital, desse centro de triagem, porque precisamos retornar com todos esses servidores para nossas unidades básicas de saúde, equipar as nossas UPAs e concentrar assim, otimizando servidores, já que nós temos muitos que estão se afastando. Esse hospital serviu a seu propósito, nesse pior momento. Então, agora, vendo essa melhora, essa diminuição dos atendimentos, podemos abrir mão desse centro de triagem, retornando nossos servidores, fortalecendo a atenção primária, fortalecendo as UPAs".
O quadro, no entanto, acabou piorando. Em 4 de março de 2021 o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fez uma visita a Cascavel. A cidade, ao lado de Chapecó (SC), foi citada por ele como um dos epicentros da Covid-19 no Brasil na época. Naquele dia o município já somava 352 mortes por infecção pelo coronavírus – os casos confirmados beiravam os 25 mil e a taxa de utilização dos leitos de UTI atingiu 100%.
A situação não melhorou muito desde então. O boletim de 7 de abril, disponível no site da Prefeitura de Cascavel, apontava 30.638 confirmações da infecção pelo coronavírus. Os mortos por Covid-19 chegavam a 587. A taxa de ocupação dos leitos de UTI caiu, pouco, para 98,2%. Questionada sobre o que mudou no cenário da pandemia em Cascavel desde a declaração de Pazuello até os dias de hoje, a prefeitura informou apenas que não é possível fazer esse tipo de avaliação. Mesmo assim, o documento afirma que “diante da possibilidade de aumento da curva de casos da Covid-19, a reabertura [do hospital de campanha] não pode ser descartada”.
A Gazeta do Povo também procurou a família do empresário Nei Senter Martins, vítima da Covid-19 e tão brevemente homenageado com o nome do hospital de campanha. Por meio de nota encaminhada por meio de assessoria de imprensa, a família disse “não se sentir confortável para falar” sobre o assunto.
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