Mesmo muito próximo de passar definitivamente para a gestão privada, o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, ainda vai demorar um bom tempo para fazer jus ao nome e se tornar, de fato, um aeroporto internacional.
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Embora tenha, desde 1996, toda a estrutura para ser um aeroporto internacional, incluindo órgãos como Polícia Federal, Receita Federal, Anvisa e Ministério da Agricultura, de lá não parte atualmente voo direto para destino algum fora do Brasil - nem mesmo para os vizinhos Paraguai, Argentina e Uruguai, atendidos de forma pontual no passado. Voos sem conexão para Miami foram mantidos entre 2013 e 2016, mas desde então estão suspensos.
Concedido ao Grupo CCR no leilão dos aeroportos, realizado em abril último, o Afonso Pena deve passar, em definitivo, para a administração privada no primeiro trimestre de 2022. O contrato de concessão ainda não foi assinado. A expectativa é que isso aconteça ainda este ano. Neste momento, a gestão permanece com a Infraero, que deve em breve iniciar a fase de transição.
“O Grupo CCR já está fazendo tratativas com as companhias aéreas nacionais e internacionais sobre novas rotas e destinos, tanto para passageiros como para o transporte de carga. Ainda não é possível falar quais serão as novas rotas, mas as vocações regionais e os potenciais de movimentação serão cuidadosamente observados nas tomadas de decisões, bem como as demandas dos passageiros”, informa o concessionário por meio de nota.
Tamanho da pista impede voos de longas distâncias
O principal fator que impede voos internacionais partindo do Afonso Pena é o tamanho da pista atual. “A pista principal tem 2.218 metros e o aeroporto está a 911 metros acima do nível do mar. Nessas condições a aeronave não consegue decolar com carga total ou tanque de combustível completo para voos de longas distâncias”, informa o especialista em aviação Wilson Rocha Gomes, professor do curso de pilotagem profissional de aeronaves da Universidade Positivo (UP).
O contrato de concessão do Afonso Pena prevê a construção de uma terceira pista, com 3 mil metros de comprimento, o que viabilizaria os voos internacionais. O concessionário tem 60 meses para entregar a nova pista a partir da assinatura do contrato. Considerando que o contrato deve ser assinado nos próximos meses, a nova pista deverá ser entregue até 2027.
Mas, a pista maior por si só não é garantia para os voos internacionais. “É o pulo do gato, mas não é o que vai virar essa chave”, pontua o professor. Ele explica que há outros fatores envolvidos. “Custa caro viabilizar uma rota internacional”, informa Gomes.
Um estudo feito pela empresa espanhola Aena estimou em 100 milhões de euros anuais o investimento necessário para se manter a rota Madri-Dubai. “Algumas rotas previstas para o Afonso Pena, como Curitiba-Miami e Curitiba-Lisboa devem ter um custo parecido”, acredita o professor. “Para se viabilizar tamanho investimento é preciso que os voos de longas distâncias partam com, pelo menos, 80% de sua capacidade ocupada”, considera.
O professor cita ainda a necessidade de políticas públicas do governo estadual, como a redução do ICMS do combustível, aliadas à política de descontos praticada pelo operador aeroportuário como fatores fundamentais para atrair os voos internacionais para o Afonso Pena. “A atuação conjunta entre o estado e o gestor aeroportuário será fundamental”, observa.
Mercado tem expectativa por voos internacionais
O mercado espera ansioso a viabilização dos voos internacionais diretos partindo do Afonso Pena, tanto para o transporte de passageiros como de carga. “Nosso aeroporto já é um dos melhores do país, mas precisamos ter voos diretos para as capitais europeias e as principais cidades dos Estados Unidos, oferecendo mais conforto aos nossos clientes”, diz Geraldo Zaidan Rocha, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
Para as empresas, os voos internacionais diretos vão garantir menor custo e mais agilidade no transporte de cargas. A cooperativa Copacol, com sede em Cafelândia, no Oeste do Paraná, há um ano começou a exportar tilápia congelada. Pela falta de voos internacionais no Paraná, optou por uma logística que envolve transporte por rodovia até Guarulhos (SP), seguindo em voo para Miami.
O gerente de desenvolvimento cooperativo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) , Flávio Turra, acredita que no futuro o agronegócio poderá se beneficiar dos aeroportos internacionais de carga, especialmente para o transporte de produtos perecíveis, como frutas.
Para o setor industrial, o transporte aéreo vai atender especialmente a importação de cargas de alto valor agregado, em geral itens de baixo peso e volume, apropriados para o transporte em avião. Segundo a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), são principalmente peças e componentes eletroeletrônicos e matéria-prima para indústria química e farmacêutica.
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