A relação de desafeto entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, deve ter reflexos nas eleições municipais de 2024, principalmente nas capitais brasileiras. Nas últimas semanas, Bolsonaro subiu o tom das críticas contra Kassab, atual secretário do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), por causa dos votos do PSD pelo indiciamento do ex-presidente na CPMI do 8 de janeiro, em apoio ao bloco governista no Congresso Nacional.
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“Deixo claro: PSD do Kassab eu não apoio ninguém, tá ok?”, afirmou Bolsonaro em um áudio vazado, publicado pelo Estadão. O ex-presidente também fez críticas ao presidente do PSD por integrar o governo Lula, em mensagem compartilhada por meio de uma lista de transmissão. "Para manter seus três ministérios no governo Lula, Kassab se comporta como ventríloquo de toda a podridão da esquerda. A única preocupação desse farsante são seus três ministérios", atacou. A mensagem foi apagada após repercussão na imprensa nacional.
Apesar da boa relação entre Bolsonaro e o governador paranaense Ratinho Junior (PSD), a resistência do ex-presidente pode travar o apoio do PL ao pré-candidato a prefeito de Curitiba Eduardo Pimentel (PSD), atual secretário de Cidades da gestão Ratinho Junior e vice-prefeito da capital do estado.
Um dos principais aliados de Bolsonaro no Paraná, o deputado federal Filipe Barros (PL) revelou que, no ano passado, iniciou uma conversa positiva com o pré-candidato do PSD na tentativa de uma composição com Pimentel com a indicação do vice na chapa para as eleições municipais em Curitiba. A articulação foi suspensa por orientação do ex-presidente, que restringiu as alianças com o PSD, principalmente nas capitais.
“Existe uma predisposição do partido em manter uma candidatura própria nas capitais para marcar posição e defender aquilo que a gente pensa e acredita. Então veja, aquela conversa do ano passado com o Eduardo Pimentel fica prejudicada até que haja uma nova deliberação por parte do presidente Bolsonaro. Por enquanto, fica em stand-by, [o apoio] fica travado”, disse Barros em entrevista à Gazeta do Povo.
Em fevereiro, o deputado estadual Ricardo Arruda (PL) se lançou como pré-candidato a prefeito de Curitiba e chegou a declarar que tem o apoio de Bolsonaro. Mas as principais lideranças do partido no estado demonstram cautela ao comentar as possibilidades para as eleições de 2024, assim como Filipe Barros. Procurado pela reportagem da Gazeta do Povo, o presidente estadual do PL, Fernando Giacobo, respondeu apenas que “nada está fechado” e que a decisão será tomada com base nas pesquisas eleitorais.
Barros reforça que tem atualizado, semanalmente, o ex-presidente sobre as articulações políticas no Paraná e que o momento é de aguardar as orientações de Bolsonaro para o caminho a ser tomado: se o PL terá candidatura própria em Curitiba ou participará da maior coligação do pleito na capital com Pimentel na cabeça da chapa.
“A relação entre Bolsonaro e Kassab não é boa, o que motiva essa orientação de não coligar com o PSD nas capitais. Mas a relação com o Ratinho Junior é diferente. O presidente Bolsonaro tem um carinho muito grande pelo Paraná, em especial por Curitiba. Por isso, tenho relatado os possíveis cenários e desenhado junto com o ex-presidente todas essas possibilidades”, disse Barros.
Questionado se o julgamento do senador Sergio Moro (União), em abril, no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), é aguardado para a decisão, o deputado federal respondeu que o partido “faz política com fatos”. O nome mais cotado do PL para candidatura a prefeito de Curitiba é Paulo Martins, recentemente nomeado como assessor do governador Ratinho Junior. Ele foi o segundo colocado nas eleições ao Senado em 2022.
Se Moro for cassado, Martins desponta como um dos favoritos para a eleição suplementar à cadeira de senador paranaense, no mesmo ano do pleito municipal.
“Nesse momento é um fato que não interfere na composição da eleição municipal. Claro que tudo depende do processo de julgamento no TRE-PR. Apesar de considerarmos a hipótese e traçarmos cenários, hoje isso não é um fato. Fazemos política com fatos e hoje o Moro é senador”, rebateu Filipe Barros.
Dependendo das decisões do PL, o partido de Bolsonaro pode entrar em rota de colisão com o PP do Paraná, liderado por Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde no governo Temer e atual secretário da Indústria e Comércio do governo do Paraná. Além do cacique do PP também aparecer entre os mais cotados para o Senado, se Moro for condenado, a deputada estadual Maria Victória, filha de Ricardo Barros, é um dos principais nomes para compor a chapa de Eduardo Pimentel como candidata a vice na capital do estado.
Procurado pela Gazeta do Povo, Pimentel respondeu que acredita no "processo de construção" de uma frente ampla com a participação do PL em Curitiba, independente da relação entre Bolsonaro e Kassab.
"Nas últimas eleições, o PSD Paraná, assim como o governador, trabalhou pela reeleição do Bolsonaro. Então, espero que não haja veto do PL ao PSD e que a gente possa fazer essas construções em cada local do país, dentro da sua realidade. Em Curitiba, temos um alinhamento forte entre a prefeitura e o governo e a população ganha com essa paz política. Torço para que isso seja revisto e que o PL possa fazer a aliança com o PSD", declarou o pré-candidato, que esquivou-se ao ser questionado sobre o espaço que o PL e o PP teriam na chapa, sendo que apenas um partido pode indicar o vice.
"O cargo de vice vai ser uma das últimas definições e não existe nenhuma garantia [se a vaga ficará com o PL ou o PP]. Temos vários nomes e partidos com bons quadros. Isso ainda não está em discussão. Será uma composição que passará pela minha avaliação e do meu grupo político", respondeu Pimentel.
Em nota, o PSD Paraná afirma que a relação entre Kassab e o ex-presidente Bolsonaro não é de competência da esfera estadual. “Este tipo de deliberação tramita nas instâncias nacionais dos partidos e até onde é de nosso conhecimento, não houve nenhuma deliberação formal da direção do PL sobre o respectivo tema”, declara o partido do governador Ratinho Junior.
Efeito Kassab: novo pré-candidato em Londrina pode impactar PSD e PP
Na última semana, o PL de Londrina anunciou a filiação de Bruno Ubiratan, presidente da Companhia de Habitação (Cohab) na atual gestão do prefeito Marcelo Belinati (PP), que ainda não anunciou o nome do pré-candidato a sucessor que pretende apoiar ao final de oito anos de mandato na segunda maior cidade do Paraná.
Ubiratan estava no PP e migrou para o PL a convite de Filipe Barros, deputado federal londrinense que tem na cidade uma das suas principais bases de apoio no estado. O PL deve seguir em Londrina a recomendação do ex-presidente Bolsonaro e lançar candidato próprio com o partido à frente de uma coligação.
Barros lidera as últimas pesquisas eleitorais para prefeitura de Londrina e se abrir mão da candidatura pode lançar o nome de Ubiratan e ser o principal cabo eleitoral do candidato durante as eleições municipais deste ano. “Em Londrina, o posicionamento do PL está em linha com as orientações nacionais do partido. Ou seja, como venho salientando desde 2023, certamente teremos candidato a prefeito em outubro, e hoje nosso pré-candidato é o Bruno Ubiratan”, anunciou o líder do PL na cidade, em nota.
“O Bruno tem se destacado em Londrina tanto pela capacidade política quanto pelos atributos técnicos. Ao ocupar diferentes cargos de primeiro escalão no município, demonstra notória capacidade de articulação com o setor produtivo e ampla compreensão dos problemas locais. Estamos a todo vapor montando um time de primeira para construir um sólido projeto de desenvolvimento para a cidade”, acrescentou. O presidente da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), Marcelo Ogido, também deve se afastar da gestão Belinati para se filiar ao PL de Filipe Barros.
A candidatura própria do partido de Bolsonaro em Londrina pode dificultar os planos do PSD de Ratinho Junior e Gilberto Kassab, que apostam suas fichas no deputado estadual Tiago Amaral (PSD) como pré-candidato à prefeitura da maior cidade do interior do Paraná. Amaral parece na segunda colocação das últimas pesquisas eleitorais e também existia a possibilidade de uma coligação entre PL e PSD na cidade sem a disputa eleitoral entre os aliados pela prefeitura de Londrina.
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