• Carregando...
Escoamento da safra é preocupação do setor produtivo, rumo ao porto de Paranaguá
Representantes do setor produtivo temem que problemas enfrentados no escoamento da safra de verão se repitam para o transporte rumo ao porto de Paranaguá| Foto: Roberto Dziura Jr/AEN

Depois de uma safra recorde de verão, o Paraná, segundo maior produtor de grãos do país, espera colher mais de 18 milhões de toneladas no cultivo de inverno: 13,8 milhões de milho e outros 4,5 milhões de trigo. Diante desse cenário, entidades temem ter de conviver, mais uma vez, com os problemas periódicos relacionados ao escoamento da produção, rumo ao porto de Paranaguá, no litoral paranaense.

Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp

O temor com possíveis dificuldades no acesso ao porto vem do próprio setor produtivo. Ao menos 75% das cargas, não só do Paraná, mas também do Paraguai e de grandes estados produtores, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegam à área portuária via caminhões. Se considerados apenas os grãos, 87% são transportados por caminhões e apenas 13% chegam ao porto de Paranaguá pelo trem.

“Fico entusiasmado com o potencial dos nossos portos, mas de nada adianta ter uma estrutura gigantesca dentro do porto se a nossa logística e infraestrutura de transporte não derem condições de acessos aos portos, para que a produção chegue até eles”, afirmou o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Luciano Lourenço, durante evento sobre o tema, no último mês, reforçando que os entraves para acesso não são exclusivos ao Paraná.

No estado, no entanto, a dificuldade de tráfego sentido litoral afeta o planejamento estratégico em várias pontas para quem faz o escoamento da safra, salienta o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep/Senar-PR), Ágide Meneguette. Ele avalia que tanto o governo estadual quanto o federal não têm recursos para manter, melhorar e mesmo ampliar rodovias, mas que medidas precisam ser adotadas e que não se pode mais esperar.

“Sou a favor das concessões privadas, ninguém toma café de graça, precisamos ver de perto os processos de cessão e fazer o acompanhamento e fiscalização dos novos contratos, mas precisamos de rodovias com boas condições e duplicadas, com capacidade para escoamento. Não é uma preocupação só do Paraná. O agro fez sua parte, aumentou produção, as lavouras produzem cada vez mais, mas precisamos de condições e de bons acessos ao porto, para escoamento desta produção”, evidencia.

O presidente da Faep lembra que, apesar de se tratar de uma “crise boa e que representa a fartura na produção e das boas safras”, é imprescindível melhorar "imediatamente" as condições de infraestrutura. “É preciso fazer investimentos em rodovias, que facilitem a descida da Serra do Mar. Não podemos ter uma safra tão boa e na hora de descer ao porto ter esse estrangulamento, então precisamos de investimentos, de obras, de melhorias”, destaca.

Responsável pelo escoamento de 58 milhões de toneladas de produtos em 2022, o ingresso prioritário aos portos do Paraná é por terra, pelas rodovias BR-277 e BR-376. A primeira delas conta com faixas de tráfego que não comportam mais o fluxo e a segunda enfrenta problemas estruturais frequentes e que já provocaram recorrentes interdições, sobretudo quando há registro de fortes chuvas na região da Serra do Mar, sob risco de deslizamentos. “E neste ano temos a influência do El Niño, que traz mais chuvas à região Sul do Brasil, o que deixa a situação ainda mais preocupante”, reforça o representante do setor produtivo.

Concessão de rodovias é aposta para resolver grande parte dos problemas com escoamento da safra

O secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, Sandro Alex, tem lembrado que parte dos problemas deve ser resolvida com as obras previstas a partir do início da concessão de rodovias. O primeiro lote foi a leilão na Bolsa de Valores (B3) dia 25 de agosto e o segundo lote está marcado para o dia 29 de setembro.

É neste segundo lote que está contemplada a ligação entre capital e o litoral paranaense. Nos dois, a previsão é que as empresas responsáveis invistam R$ 18 bilhões em obras. Os contratos devem começar a ser assinados em 2024. Ao todo, o Paraná vai licitar seis lotes.

Para Sandro Alex, outro gargalo a ser resolvido, então a longo prazo, diz respeito à estrutura ferroviária, com a viabilização do projeto da Nova Ferroeste, que pretende ligar, sobre trilhos, Maracaju (MS) a Paranaguá (PR), cortando o Paraná de leste a oeste. Esse é outro passo decisivo para o setor produtivo e escoamento da safra que passa pela região.

Antes das obras em estradas, estoques do campo ainda estão lotados

Enquanto as obras das concessionárias não chegam, o agro pede condições raziáveis para escoamento da produção. Isso porque o campo não tem muitas opções. Com estoques ainda lotados, além da safra que está sendo colhida, existem grandes volumes ainda guardados em silos e armazéns do cultivo de verão, impulsionados pela queda no preço das commodities.

“Tivemos muita gente que deixou de vender, lotou os estoques que seguem com bastante produto e essa também tem sido uma reivindicação ao governo federal: mais recursos para a construção de armazéns. Temos notícias que nem silos-bolsas existem mais para serem vendidos em algumas regiões do estado”, alertou o secretário de estado de Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara.

Para o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), coronel Sérgio Malucelli, algumas medidas tomadas desde o início do ano auxiliaram de forma decisiva para a passagem dos veículos rumo ao porto e estão garantindo o escoamento da safra em tempo considerado normal: duas a três horas de descida da serra por caminhão.

Porém, ele destaca que não dá para contar sempre com a expectativa para condições climáticas que não interfiram nas condições da via para o escoamento da safra. “Não dá para ficar esperando que não chova muito, porque se chover muito cai um barranco, a estrada fica interditada. Precisamos de caminhos alternativos para chegar ao porto, além do que já temos. O trem leva tudo o que poderia levar na formatação que temos hoje, as safras só crescem e elas chegam ao porto pelas rodovias. Precisamos de rotas alternativas, e logo. Tomara que parte dos problemas se resolva com os novos contratos do pedágio”, completa.

O presidente da Fetranspar afirma que somente o setor de transportes no Paraná amargou prejuízo de quase R$ 600 milhões no início deste ano com as interdições nas rodovias, com a demora exaustiva para chegar ao porto ou a espera de caminhões para descarregar. “E quem paga essa conta? Todo mundo, todos os consumidores”, completa.

O diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, considera que, mesmo com as travas logísticas de acesso, espera-se movimentar 60 milhões de toneladas até o fim do ano, em uma estrutura que conta com apenas cinco quilômetros de cais. No primeiro semestre, os portos de Paranaguá e Antonina movimentaram 36 milhões de toneladas, aumento nas operações portuárias de 4% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando foram movimentadas pouco menos de 34,6 milhões de toneladas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]