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Unidade fabril da General Mills em Pouso Alegre
Planta da General Mills em Pouso Alegre (MG): investimentos de R$ 300 mi para absorver operação do Paraná.| Foto: Divulgação/General Mills

A expectativa de transferência das operações da fábrica da General Mills em Cambará, localizada na região norte do Paraná, mobiliza os governos do município e do estado no sentido de tentar evitar a saída da empresa. No entanto, os investimentos para expansão da planta fabril que vai absorver as operações, em Minas Gerais, já foram oficialmente divulgados pelo Estado: R$ 300 milhões. As licenças ambientais simplificadas para operação foram concedidas em dezembro de 2022 pelo governo mineiro.

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Além da mobilização em Minas Gerais pela absorção do ativo, a mudança remonta, ainda, a decisões estratégicas tomadas anteriormente pela multinacional de alimentos norte-americana. Foi o caso da transferência da unidade que operava no Rio Grande do Sul, em 2021, também para a unidade mineira de Pouso Alegre, que agora recebe as operações da cidade paranaense.

Enquanto a transferência contrapõe interesses dos dois estados, a General Mills, detentora das marcas Yoki, Kitano e Häagen-Dazs no Brasil, não se pronuncia sobre detalhes que a motivaram nessa decisão. A companhia informa apenas que é “uma decisão de negócios”, com o objetivo de “competir de maneira efetiva e acelerar o seu crescimento no mercado brasileiro”. A justificativa foi semelhante à utilizada dois anos atrás, quando a empresa fechou a fábrica que mantinha em Nova Prata, no Rio Grande do Sul, cidade de 26 mil habitantes, mesmo porte de Cambará.

No entanto, a iniciativa da General Mills em concentrar sua produção em Minas Gerais pode ter a ver, também, com incentivos oferecidos localmente. Logo após o anúncio da saída da fábrica de Cambará, o governo mineiro divulgou no órgão oficial de notícias do estado a ampliação das operações em Pouso Alegre.

A expansão, segundo a agência de notícias mineira, “tem recebido apoio por meio da interlocução com a Invest Minas, agência vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado”. Além do investimento de R$ 300 milhões para expansão da fábrica, a expectativa é de geração de 600 empregos diretos e 400 indiretos. A Invest Minas, de natureza semelhante à Invest Paraná, é a agência prospectora de investimentos no estado, responsável por fomentar ações que atraiam empreendedores.

Questionado pela reportagem se houve algum tipo de contrapartida negociada com a empresa que motivasse a transferência das operações, o governo de Minas Gerais respondeu, em nota, que “os dados sobre incentivos fiscais e financiamento são de cunho sigiloso, devido a questões habituais de contrato” e que “todas as informações públicas estão disponíveis no Diário Oficial do Executivo”.

No Diário Oficial, há menções sobre a inclusão de termos aditivos no protocolo de intenções firmado entre a General Mills e a Invest Minas em 2011, porém, sem detalhes sobre as alterações. O termo aditivo, que seria já o segundo desde a assinatura do protocolo de intenções, é de fevereiro de 2022.

Para a expansão da fábrica, em março do ano passado a empresa entrou com pedido de licença ambiental simplificada (LAS) junto ao governo, o qual foi deferido em 20 de dezembro de 2022 pelo prazo de dez anos. A LAS, segundo o Portal Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA), do Ministério do Meio Ambiente, atesta a viabilidade ambiental de um empreendimento em uma única etapa, autorizando a operação e implantação com as devidas medidas ambientais a serem tomadas. É utilizada em casos de empreendimentos que gerem menor impacto ambiental. No caso da General Mills, que fez o pedido na modalidade "cadastro", o processo acontece eletronicamente.

Enquanto isso, no Paraná

Dias após o anúncio da transferência da fábrica da General Mills de Cambará, em 10 de janeiro, o prefeito Neto Haggi se reuniu com representantes do governo e da Assembleia Legislativa do Paraná para traçar uma estratégia que possa convencer a multinacional a permanecer na cidade ou mitigar os impactos da saída, caso a decisão seja mesmo irreversível.

Apesar de os trâmites já parecerem definitivos e a empresa não sinalizar possibilidades de mudança na estratégia, a primeira tentativa do governo do Paraná será procurar a diretoria da empresa. “Faremos um esforço conjugado com nossos deputados para avaliarmos a possibilidade de criar atrativos para que a empresa permaneça aqui”, disse o vice-governador Darci Piana.

O secretário estadual de Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros, disse que poderão ser estudadas compensações para os custos logísticos da operação da empresa no Paraná; e o presidente da Invest Paraná, Eduardo Bekin, afirmou que, após o diagnóstico dos técnicos da agência sobre a empresa, será agendada uma reunião formal com os empresários.

“Queremos saber se ela pode continuar na cidade, o que é o melhor dos mundos. Mas também já estamos preparados para buscar outras opções para esse espaço de cinco alqueires”, afirmou, antecipando possíveis alternativas, como atrair outra empresa de mesmo porte para o município, aproveitando a estrutura instalada e reduzindo o impacto econômico e social.

A General Mills emprega em Cambará 700 pessoas de forma direta e 180 de forma indireta. E deve operar a unidade até dezembro deste ano.

Unidade da General Mills em Cambará, norte do Paraná
Em Cambará, fechamento da fábrica deve deixar 700 desempregados; governos traçam estratégia para tentar reverter decisão. | Foto: Divulgação/Prefeitura de Cambará| Divulgação/Prefeitura de Cambará

Lições que vêm do sul

Quando recebeu o anúncio da transferência da General Mills da cidade de Nova Prata (RS), em janeiro de 2021, o prefeito Alcione Grazziotin (MDB) ficou perplexo. “Tentamos dissuadi-los de todas as formas, inclusive solicitando orientação do que deveríamos fazer, quem procurar, enfim, tudo o que estivesse ao alcance do poder público para reverter a situação”, lembra. “Mas fomos informados que a decisão havia sido tomada há mais tempo pelos diretores dos Estados Unidos e que não havia maneira de reversão.”

O prefeito conta que, à época, a multinacional justificou que o objetivo era centralizar a produção em Minas Gerais e que isso já vinha sendo encaminhado há alguns anos. Na cidade riograndense, a empresa gerava 270 empregos diretos e respondia por 17% da arrecadação adicional aos cofres públicos.

“Temos número considerável de empresas na região e elas absorveram parte dos empregados. Outros foram trabalhar por conta, abriram seus negócios, ou voltaram para o setor primário. Temos mineração forte de basalto na região”, menciona Grazziotin, que disse ter havido acompanhamento das secretarias de Assistência Social e de Saúde nos meses que se sucederam ao fechamento da fábrica.

Diferentemente do Paraná, em que o governo estadual se envolveu na situação, no Rio Grande do Sul não houve intervenção do estado na pauta. “Para tentar compensar os impactos na arrecadação, encaminhamos ações administrativas de redução de custos, fizemos a verificação da planta de IPTU, aplicamos um pente fino na municipalidade, ações inclusive obrigatórias para evitar renúncia de receitas, e conseguimos contornar a situação”, conta.

O prefeito acrescenta que há poucos meses teve informação por parte da General Mills de que a empresa vendeu os ativos de Nova Prata para outra empresa da região, que estaria em vias de adequar a planta para o funcionamento.

O prefeito preferiu não informar o nome da eventual compradora. A reportagem tentou confirmar a venda do ativo com a General Mills, assim como as informações referentes aos investimentos e possíveis incentivos para a transferência das operações de Cambará para a planta de Minas Gerais, mas não houve resposta.

A General Mills mantém ainda no Paraná uma unidade fabril na cidade de Paranavaí, noroeste do Estado. A reportagem também questionou se existem planos de transferir as operações do ativo para Minas Gerais, sem retorno.

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