A fama do clima curitibano precede a cidade. Mesmo quem nunca pisou nestes solos já ouviu falar que aqui chove um tanto, que as variações de tempo são intensas, e, claro, que não há frio igual ao nosso. Viramos até meme por constantemente reivindicarmos o título de capital mais fria do país. E aí, vem a dúvida: qual é a percepção que os curitibanos têm sobre o clima e o tempo da cidade? Como esses aspectos afetam a rotina e os hábitos de quem mora aqui?
Foi em busca dessas respostas que a revista Pinó se lançou ao promover a terceira edição da pesquisa informal “Como você enxerga Curitiba?”, tradicionalmente conduzida às vésperas do aniversário da cidade, celebrado no dia 29 de março. O formulário recebeu respostas entre 7 e 19 de fevereiro.
As 585 respostas, dadas majoritariamente por quem vive aqui (87,4%), revelam um quadro interessante: se, de um lado, se mantém a ideia de que as variações no tempo são as verdadeiras protagonistas do dia a dia na cidade, de outro, a percepção é de que, apesar da fama, o frio de Curitiba já não é mais o mesmo. Por isso, com o resultado em mãos, procuramos especialistas para entender até que ponto a percepção das pessoas corresponde ao que pesquisas e estudos indicam.
Antes de desmistificar algumas ideias ou confirmar outras, no entanto, vale dizer: a questionário foi respondido por curitianos (65%), pessoas de outros estado (18,1%), paranaenses de outros municípios (16,1%) e até quem veio de outro país (0,9%). Pessoas de todas as faixas etárias participaram, com predominância daquelas entre 41 a 50 anos (46%). 29,7% dos entrevistados declararam que são autônomos.
Mito ou verdade?
Curitiba tem "todas as estações num único dia" - VERDADE!
“Cidade camaleão, as quatro estações em um único dia”. Foi assim que 73% dos participantes da pesquisa escolheram descrever Curitiba. A brincadeira tem, de acordo com o engenheiro ambiental e professor da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Alessandro Bertolino, um fundo de verdade. A razão para isso é que a localização geográfica da cidade de fato permite que o tempo mude com muita facilidade.
“Estamos praticamente em uma das regiões mais altas do estado do Paraná, o que nos proporciona uma grande variedade de ventos. Temos a Serra do Mar, que traz umidade, ventos do mar que aumentam ainda mais essa umidade, e também ventos de outras direções que transportam a nebulosidade e umidade para diferentes partes de Curitiba. Portanto, é comum observarmos essas pequenas variações”, explica o professor.
Além disso, a cidade está relativamente próxima ao polo sul, recebendo também influência de massas polares. “Portanto, é comum, sim, às vezes estarmos com calor de 30 graus, chover e a temperatura cair para 16, 18 graus. É comum, porque justamente a maior parte das chuvas aqui da região de Curitiba ou vem do sul, com as massas polares, ou vem da região norte, ali nos corredores de umidade que vem da floresta amazônica. Quando vem do sul, tem quedas grandes de temperatura”.
A capital paranaense é a mais chuvosa do Brasil - MITO
O bom curitibano sabe que guarda-chuva é acessório indispensável. Porém, a verdade é que a capital paranaense não é a mais chuvosa do país – e mesmo quem vive aqui parece ter noção disso: apenas 12% dos respondentes da pesquisa descreveram a cidade como “Chuvitiba, a capital mais chuvosa do Brasil”.
Segundo Bertolino, nas regiões próximas à linha do Equador e à floresta amazônica chove significativamente mais do que em Curitiba. “Belém é uma das capitais do Brasil em que mais chove, variando entre 3.000 e 3.500 milímetros – lembrando que um milímetro representa um litro de água por metro quadrado – acumulados ao longo de um ano. Curitiba, para efeito de comparação, registra em torno de 1.400 a 1.500 milímetros anualmente”, explica.
Então, por que temos a percepção de que chove muito em Curitiba? Conforme o docente, isso ocorre porque há muitos dias nublados e com nebulosidade, além de a chuva ser distribuída ao longo do ano. “A cada dois ou três dias, em Curitiba, temos um dia de chuva. Isso dá a impressão de que chove excessivamente, mas essas chuvas são menos intensas e com menor quantidade de água em comparação, por exemplo, com regiões no norte do Brasil.”
Curitiba já não é mais tão fria - VERDADE
A sensação de que a cidade já não é mais tão fria foi uma percepção de 82% dos participantes da pesquisa. A partir dos dados do Banco de Dados Meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) dos últimos dez anos, observamos que, no período, 2024 apresenta a maior média diária de temperatura no verão. Além disso, a cidade teve dias de temperaturas bastante elevadas, como o dia 8 de janeiro de 2024, quando o Inmet registrou a temperatura máxima de 35,4°, a mais alta dos últimos dez anos.
No inverno, no mesmo período, a média de temperatura teve variações mínimas. “Em geral, a tendência de cidades que crescem é que elas fiquem com o microclima mais quente. Por quê? Porque a gente vai urbanizando, tirando as florestas, as matas. Então, cada vez mais o que chamamos de “ilhas de calor” está se espalhando. Antes, tínhamos a região central como mais quente e as regiões das periferias, mais frias. Porém, aos pouquinhos, essas regiões periféricas também vão esquentando por causa da urbanização”, afirma Bertolino.
O tempo chuvoso impacta o humor do curitibano - VERDADE
Em nosso levantamento, 33,2% das pessoas afirmaram sentir-se indiferentes quando chove, pois já estão acostumadas. No entanto, de acordo com a psicóloga clínica Bernadete Lauter, o tempo chuvoso pode desencadear uma série de efeitos psicológicos nas pessoas, influenciando diretamente o humor. Não é à toa 27,4% dos entrevistados revelaram sentir irritação quando chove muito.
“A falta de luz solar associada a dias chuvosos pode resultar em níveis mais baixos de serotonina, o neurotransmissor responsável pela regulação do humor. Isso pode levar a sentimentos de melancolia, tristeza e até mesmo desmotivação”, explica. Porém, ela ressalta que a relação entre tempo chuvoso e humor varia de indivíduo para indivíduo.
Entre as opções sugeridas por ela para evitar se sentir para baixo nesses dias estão praticar atividades físicas indoor, que liberam endorfinas e melhoram o humor, e focar na nutrição, sono e hábitos saudáveis, que ajudam no fortalecimento da resiliência emocional.
Outros resultados
Nem só de clima e tempo se fez a edição 2024 da pesquisa “Como você enxerga Curitiba?”. Ela mostrou, por exemplo, que a programação preferida de 39,7% dos respondentes para o fim de semana – independentemente do tempo – é ficar em casa, seguida de frequentar parques e praças (19,8%). Quando chove, 50,3% afirmam preferir ficar em casa e outros 42,6% saem, mas vão a lugares fechados.
O questionário também revelou que a fama dos curitibanos por serem mais reservados é verdadeira. Afinal, 43% dos participantes afirmaram que, no elevador, o máximo que sai é um “oi” tímido. Ainda sobre comportamento, os hábitos de levar a japona para todos os lugares, passear no shopping e andar com o guarda-chuva aberto debaixo da marquise foram eleitos, respectivamente, como os mais marcantes de quem mora por aqui.
O pinhão foi apontado por 37,3% como a comida que é a cara do curitibano. No caso das bebidas, a escolhida foi a gasosa (39,7%). Como presente ideal de aniversário para a cidade, 37,9% indicaram o plantio de mais árvores e plantas.
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