Arte em Curitiba

Uma explosão vermelha: obra de Tomie Ohtake na porta do MuMA chama a atenção pelo tamanho e pela cor vibrante

Patrícia Sankari
26/02/2024 16:48
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Com 11 metros de altura, um formato que lembra ondas em seu topo, uma gota vazada ao centro e uma tonalidade vibrante de vermelho, uma escultura se destaca em meio a exuberante paisagem verde da Praça Professora Hildegard Schmah, próxima ao Terminal do Portão, na zona oeste de Curitiba. É uma obra monumental assinada pela artista plástica japonesa naturalizada brasileira Tomie Ohtake – a primeira dela a ser instalada em Curitiba, em 1996.
A escultura foi criada exclusivamente para estar na entrada do Museu Municipal de Arte de Curitiba (MuMA) e marcar um momento de renovação do local, a pedido da Fundação Cultural de Curitiba. Ohtake aceitou a encomenda, concebendo, inicialmente, o projeto e uma maquete que, posteriormente, foram transformadas na escultura.
“[A escultura] foi instalada em frente à praça em 22 de agosto de 1996, marcando um momento em que o Museu Municipal de Arte e o Centro Cultural Portão passaram por uma fusão, se tornando, na época, o Museu Metropolitano de Arte de Curitiba”, explica Felipe Tkac, historiador e pesquisador da coordenação de pesquisa histórica da diretoria de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba.
Lembrando um grande coração, obra celebra<br>amizade entre Brasil e Japão.
Lembrando um grande coração, obra celebra<br>amizade entre Brasil e Japão.
Ao buscar compreender as influências e inspirações que motivaram a escultura, Felipe relata a dificuldade de encontrar manifestações diretas da própria Tomie Ohtake sobre a obra. A artista, reconhecida por sua trajetória que abrange também pinturas e gravuras, adotou uma abordagem mais abstrata em suas criações a partir dos anos 1970. A falta de documentação detalhada ou declarações explícitas da artista cria uma lacuna interpretativa em relação à escultura – o que não impede leituras
diversas. A mais comum é a obra se assemelha a um grande coração.
O que se pode afirmar, no entanto, é que ela celebra o centenário da amizade Brasil-Japão. A informação vem do livro “Curitiba: Luz dos Pinhais”, de autoria do prefeito Rafael Greca – que também estava no cargo na época em que a escultura foi encomendada à Ohtake.
“O Rafael Greca era o prefeito na época em que essa escultura foi encomendada pela Fundação Cultural. Em seu livro, ele comenta que, para celebrar o centenário da amizade Brasil-Japão, comprou para o acervo artístico uma escultura ‘colossal’ de 11 metros de altura. Isso aparece também em outras informações da prefeitura de diferentes anos, então, baseado nas evidências, podemos dizer que, sim, foi uma obra pensada para celebrar esse momento. Mas, não temos nada dela falando, apenas relatos de outras pessoas. Inclusive, em um livro que ela escreveu em 2008, essa escultura não está entre as obras citadas por ela, então acho que ela deixou uma lacuna para a gente”, explica Felipe.
Croqui da obra e registro da inauguração.
Croqui da obra e registro da inauguração.

A preservação da obra

Desde que foi inaugurada, em 1996, juntamente com um painel de Poty Lazzarotto que fica no mesmo local, passaram-se 28 anos. Para manter a obra em boas condições, a Fundação Cultural de Curitiba realiza análises preventivas e periódicas, além de intervenções. De lá para cá, foram duas, que incluíram a restauração da cor e a manutenção da pintura.
“Por ficar exposta ao tempo, como o sol, chuva e tudo mais, a manutenção que fazemos nesta obra é especificamente a manutenção da pintura. Ela [Tomie Ohtake] deixou registrado como deveria ser feita essa manutenção, qual tinta usar e como fazer, então seguimos a base das instruções dela”, explica a conservadora e restauradora de bens culturais da Fundação Cultural Ane Elize Pereira.

Sobre a artista

Tomie Ohtake foi uma renomada artista plástica japonesa, naturalizada brasileira. Nascida em Quioto, no Japão, em 1913, e falecida em 2015 em São Paulo, Ohtake deixou uma marcante contribuição para o mundo das artes visuais.
Ela se mudou para o Brasil em 1936, mas só começou a pintar aos quase 40 anos, construindo uma trajetória única. Ao longo de sua carreira, desenvolveu um estilo singular e inovador. O trabalho de Tomie Ohtake é marcado por cores vibrantes, formas abstratas e uma exploração expressiva de texturas. Ela transitou por diversas técnicas, incluindo pintura, escultura e gravura.
Figura importante no cenário artístico brasileiro, participou ativamente do movimento abstracionista. Sua influência e legado são evidentes não apenas por suas obras – 27 das quais fazem parte da paisagem urbana de cidades brasileiras, mas também por sua contribuição para o desenvolvimento e reconhecimento das artes plásticas no Brasil.
Em Curitiba, são duas as obras da artista: a escultura que fica junto ao MuMA e a escultura instalada na Praça do Japão, que recebe o nome da cidade. Ambas foram incorporadas ao patrimônio da cidade durante gestões de Rafael Greca e celebram as relações entre Brasil e Japão. No caso da obra “Curitiba”, instalada em 2018, a homenagem foi à imigração japonesa no Brasil.