O pré-candidato à Presidência da República Flávio Rocha (PRB) se diz um entusiasta da maior operação anticorrupção do país. Evangélico de discurso moralizador, ele classifica a Lava Jato como “uma bênção” para vida nacional.
O empresário Flávio Rocha, por sua vez, era até bem pouco tempo atrás um homem que tinha fé nos políticos. Nas últimas quatro eleições dinheiro seu e de suas empresas patrocinaram candidatos. Muitos deles foram parar na mira da Lava Jato.
No total, Rocha e seu grupo empresarial gastaram R$ 585 mil com políticos e legendas envolvidos em acusações de corrupção ou caixa dois.
Entre suas apostas eleitorais estiveram Henrique Eduardo Alves (MDB-RN), Rodrigo da Rocha Loures (MDB-PR), José Agripino Maia (DEM-RN) e Paulo Skaf (MDB-SP).
Os repasses foram feitos por meio das empresas Guararapes Confecções e Lojas Riachuelo S/A, presididas por Rocha, e em doações pessoais do próprio empresário. Todas as contribuições foram registradas na Justiça Eleitoral.
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A Riachuelo transferiu também para contas de partidos. Em 3 outubro de 2014, antevéspera do primeiro turno da eleição, a empresa transferiu R$ 100 mil para o comitê financeiro do MDB do Rio de Janeiro. O partido era capitaneado pelo ex-governador Sérgio Cabral e pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje presos pela Lava Jato.
Os candidatos do Rio Grande do Norte também ganharam atenção especial. No estado a Guararapes Confecções controla o maior polo de produção de roupas do país – e também onde enfrenta denúncias do Ministério Público do Trabalho.
Henrique Eduardo Alves (MDB), deputado eleito pelo estado, recebeu apoio financeiro de Rocha nas disputas para a Câmara dos Deputados em 2010 e 2014. A Guararapes doou, respectivamente, R$ 10 mil e R$ 50 mil para sua candidatura. O deputado foi preso em 2017 na operação Sepsis, que apurou fraudes no FI-FGTS. Ele também é citado por delatores da Odebrecht.
A Guararapes injetou dinheiro na campanha vitoriosa do governador Robinson Faria (PSD). Foram doados R$ 70 mil. Depois de eleito Faria acumulou denúncias. Foi alvo de operação que apurou desvio por meio de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa. O governador também foi citado por delatores da Odebrecht e da JBS, tendo recebido R$ 100 mil da empreiteira e R$ 10 milhões do frigorífico.
Agripino Maia (DEM) recebeu R$ 50 mil da Riachuelo em 2010 para se eleger ao Senado. Em 2016, a empresa doou o mesmo valor para eleger o filho do senador Felipe Catalão Maia (DEM). Pai e filho aparecem juntos numa planilha de propinas da Odebrecht. “Pino”, codinome que seria de Agripino Maia, teria recebido R$ 100 mil, e “Pininho”, referente a Felipe, outros R$ 50 mil da empresa.
No Paraná, berço da Lava Jato, Flávio Rocha investiu R$ 10 mil, em 2010, na campanha de Rodrigo da Rocha Loures (MDB), então candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Osmar Dias (PDT).
Sete anos mais tarde, Loures, então assessor especial de Michel Temer, foi filmado por policiais carregando uma mala com R$ 500 mil. O empresário Joesley Batista, acionista da JBS, diz que o dinheiro entregue a Loures era propina para o presidente.
Rocha também financiou o projeto político do amigo Paulo Skaf (MDB), presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), que concorreu ao governo, em 2014. Fez uma doação de R$ 5 mil do próprio bolso e cinco outras pela Riachuelo que totalizaram R$ 160.729,66.
Segundo a delação de Marcelo Odebrecht, Skaf recebeu R$ 2,5 milhões de um acerto envolvendo o PT. O caso foi parar na Justiça Eleitoral. Skaf, assim como os outros citados, nega ter recebido propina.
Outro lado
Procurado, Rocha não falou sobre as doações. Em nota, o coordenador jurídico de sua campanha diz que as contribuições dele e de suas empresas “sempre obedeceram a lei e os limites estabelecidos”. “Rocha e a empresa repudiam qualquer tipo de corrupção e uso de caixa dois em campanhas eleitorais”, diz o comunicado.
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