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Reforma ministerial

Alckmin vira alternativa de Lula para tentar manter apoio do centro ao governo 

Lula e Alckmin
Presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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Atual ministro do Desenvolvimento e Indústria, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) também deve ser impactado pela reforma ministerial discutida neste momento pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, integrantes do governo ouvidos pela reportagem apontam que Alckmin pode ser deslocado para a "missão de tentar salvar a aliança do PT com partidos de centro", em meio em meio ao desgaste da popularidade do petista. 

Lula aposta na distribuição de cargos para diversos partidos do Centrão para tentar manter o apoio em meio à queda de popularidade de seu governo. Como mostrou a Gazeta do Povo, o petista vai investir na aprovação de medidas como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e a ampliação de programas sociais como Vale Gás e o Pé-de-Meia para tentar viabilizar sua candidatura à reeleição em 2026.

Nesse cenário, Alckmin é visto por governistas como um nome que pode ajudar Lula a manter o apoio de partidos como MDB e PSD. A avaliação dessa ala é de que um desembarque dessas bancadas da base governista nesse momento poderia inviabilizar a aprovação de qualquer projeto do Executivo no Congresso nos próximos dois anos. Por isso, o presidente vem sendo aconselhado por aliados a colocar o vice-presidente em diálogo com os líderes desses partidos.

O temor veio após as pesquisas de diferentes institutos apontarem o "derretimento" da popularidade de Lula há menos de 20 meses da disputa presidencial de 2026. O mais recente levantamento, divulgado na quarta-feira (20), pelo Paraná Pesquisas, mostrou que 55% dos entrevistados desaprovam o governo Lula e 42% aprovam. Em relação à pesquisa feita em janeiro, Lula tinha 50,4% de desaprovação e 46,1% de aprovação. 

No último dia 15, o instituto Ipec apontou que 62% dos eleitores responderam que Lula não deveria concorrer à reeleição. Dias antes, o Datafolha já havia mostrado que a aprovação de Lula é de apenas 24%, o menor patamar registrado nos três mandatos do petista.

O número registrado pelo Datafolha em fevereiro representa uma queda de 11 pontos percentuais em comparação com a pesquisa de dezembro do ano passado, quando a aprovação era de 35%.

"Quero dizer uma coisa para vocês, quem me conhece sabe que nunca levei definitivamente a sério qualquer pesquisa feita em qualquer momento. Uma pesquisa serve pra você estudar, saber se tem que mudar de ação ou comportamento. Quero entregar o país da forma como prometi na campanha eleitoral", minimizou Lula.

Partidos de centro temem desgaste ao manter apoio ao nome de Lula 

Apesar da fala do petista, ministros e líderes governistas de fora do PT admitem reservadamente que o governo precisa fazer um reajuste ainda neste começo de 2025 para tentar reverter a crise. Nos cálculos desse grupo, a "fatura" para ser manter ao lado do petista pode "ficar ainda mais cara" e provocar um desembarque geral de parlamentares preocupados com suas próprias eleições.  

O vice-presidente é cotado para atuar, principalmente, como um nome do governo junto ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A movimentação ganhou força depois que o deputado defendeu em entrevista que Lula estava "refém" de ideologias e falava apenas para sua "bolha". 

“Não adianta Lula fazer o que Bolsonaro fez e ficar o tempo todo falando para uma bolha que o faz errar”, declarou Motta ao jornal O Globo. Segundo ele, o governo precisa entender que “quem mais precisa quer resultado, não discurso”.

O parlamentar afirmou que ainda que a gestão petista tem dificuldades na condução da economia e que a falta de decisões estratégicas tem gerado instabilidade no país. Alckmin e Motta estiveram juntos pelo menos duas vezes na semana passada.

Na quarta, os dois participaram de um evento organizado pelo grupo Esfera em Brasília, evento que contou ainda com a presença da deputada Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT, e do ex-ministro José Dirceu. Gleisi, inclusive, pode ser anunciada ministra da Secretaria-Geral de Lula logo após o carnaval.

Antes disso, Alckmin e Motta se reuniram para tratar sobre as pautas de interesse do Ministério do Desenvolvimento e Indústria. “Terminei o dia recebendo o novo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta. Uma ótima conversa para discutir algumas das prioridades legislativas deste ano", publicou o vice-presidente nas redes sociais. 

Além do recado de Motta sobre Lula, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, afirmou recentemente que o PT não era o favorito para 2026 e, posteriormente, disse que Lula pode ainda reverter o cenário até o período eleitoral. O cacique partidário integra o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), um dos cotados para, eventualmente, concorrer como nome da direita contra o petista. Tarcísio, no entanto, já chegou a dizer que não pretendia entrar na disputa pelo Palácio do Planalto no próximo ano e que concorreria à reeleição para o governo de São Paulo.

Antes crítico de uma candidatura do governador contra Lula, o presidente do PSD tem dito aos seus interlocutores que não poderá impedir o aliado se o “cavalo selado” da Presidência passar. Nesse cenário, Alckmin também é visto dentro do governo como um nome que pode facilitar o diálogo entre Kassab e Lula.

Antes de deixar o PSDB e migrar para o PSB para ser vice na chapa com o PT, em 2022, o atual vice-presidente chegou a negociar com o PSD para concorrer ao governo de São Paulo. Desde então, Alckmin mantém contato próximo com Kassab.

Além do PSD, o MDB, que conta com três pastas na Esplanada dos Ministérios, também vive uma pressão para não estar ligado ao PT em 2026. Diretórios das regiões Sul e Sudeste, além do estado de Goiás e o Distrito Federal, defendem o desembarque do governo Lula antes do processo eleitoral.

Atualmente, o apoio dos emedebistas ao governo é garantido pelos diretórios da região Nordeste, como Alagoas e Ceará. O pestista tem ainda o aval da região Norte, como no Pará e no Amazonas. Alckmin também pode atuar como interlocutor junto ao diretório de São Paulo, que terá peso importante nas decisões sobre as alianças emedebistas para 2026.

Lula deixa reforma ministerial em "banho-maria'' 

Apesar das expectativas entre os líderes aliados, Lula tem deixado em "banho-maria" as discussões sobre a reforma ministerial. A pasta de Alckmin, por exemplo, passou a ser disputada, principalmente, pelo Republicanos, partido de Hugo Motta e de Tarcísio de Freitas.

Uma das possibilidades discutidas entre os governistas seria a de indicar o deputado Marcos Pereira para ministério de Alckmin. O parlamentar, que recentemente passou por uma cirurgia no coração, já comandou a pasta da Indústria e Comércio na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e é próximo do segmento evangélico, fatia do eleitorado que Lula tenta se aproximar desde o começo do seu mandato.

Para minimizar os efeitos da perda de espaço para o PSB, partido de Alckmin, a sigla pode ser contemplada com o Ministério de Ciência e Tecnologia, atualmente comandado pelo PCdoB.

Para os que defendem o papel do vice-presidente como interlocutor do governo com o Congresso, uma das opções seria a de transferi-lo para a Secretaria de Relações Institucionais, já que a ida de Alexandre Padilha para o Ministério da Saúde também é dada como certa.

Além de Alckmin, outros nomes como os dos líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), também estão entre os cotados para assumir uma cadeira na Esplanada dos Ministérios.

Petistas ouvidos pela reportagem admitem que Lula ainda tem conversado com todos os partidos aliados para "alinhar o jogo da reforma ministerial". Nessas conversas, o próprio presidente tem falado de cenários diferentes sobre as possíveis trocas, a depender do interlocutor.

Já os assessores do Planalto acreditam que essa estratégia seria uma forma de o petista mensurar a repercussão das mudanças e de tentar identificar o vazamento de informações.

Na semana passada, Lula desconversou ao ser questionado publicamente sobre o assunto. "Eu mudo quando eu quiser. Da mesma forma que eu convidei quem eu queria, eu tiro quem eu quiser, na hora que eu quiser. É simples assim, sem nenhum problema. Ao longo do tempo, que não precisa ser em um mês do ano, pode ser no meio, no final do ano, o presidente vai mudando pessoas na medida que ele entende que tem que mudar as pessoas", disse Lula no Palácio do Planalto.

Metodologia das pesquisas citadas  

O Paraná Pesquisas ouviu 2.010 eleitores em 162 municípios de 26 estados e no Distrito Federal entre os dias 13 e 16 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, com índice de confiança de 95%.

O Ipec entrevistou 2 mil pessoas em 131 municípios entre os dias 6 e 10 de fevereiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança utilizado é de 95%.  

A pesquisa Datafolha ouviu presencialmente 2.007 pessoas, de 16 anos ou mais, entre 10 e 11 de fevereiro. A margem de erro geral do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. 

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