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Reforma Ministerial

Além de manter orçamento com PT, Padilha chega com missão de construir marca para Lula na Saúde

padilha e lula
Ministro Alexandre Padilha e o presidente Lula (Foto: EFE/ Andre Borges)

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Escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o Ministério da Saúde, Alexandre Padilha chega ao novo cargo com a missão de "arrumar uma marca" para o governo petista nessa área. Além disso, a troca foi desenhada pelo chefe do Executivo como uma forma de manter sob o controle do PT um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios.

A demissão de Nísia Trindade, confirmada nesta terça-feira (25) pelo Palácio do Planalto, foi a segunda mudança feita por Lula dentro da reforma ministerial discutida pelo Executivo desde o final do ano passado. A primeira ocorreu ainda em janeiro, com a saída de Paulo Pimenta e a entrada de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação (Secom).

A troca na Saúde já vinha sendo discutida há semanas e a gestão de Nísia era alvo constante de críticas por parte de aliados no Congresso, dentro do governo e até mesmo por parte do próprio presidente. Com a queda de popularidade de Lula neste momento, petistas defendem que Padilha foi incumbido da missão de apresentar e implementar políticas públicas que resultem em mais visibilidade e capital político para o presidente. 

A aposta de integrantes do PT é de que Padilha amplie, por exemplo, o programa "Mais Acesso a Especialistas". A modalidade tem o objetivo reduzir filas e ampliar o acesso da população a exames e consultas especializadas nas áreas de oncologia, cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia. Com isso, os petistas acreditam que o programa será uma vitrine para recuperar a aprovação de Lula junto ao eleitorado. 

"Fortalecer o SUS continuará sendo a nossa grande causa, com atenção especial para a redução do tempo de espera de quem busca cuidado na rede de saúde. Esse é o comando que recebi do presidente Lula e ao qual vou me dedicar integralmente", afirmou Padilha em nota divulgada após o anúncio da demissão de Nísia Trindade. 

Padilha também chega ao ministério com a missão de rever pontos que foram críticos na gestão de sua antecessora, entre eles a explosão dos casos de dengue do ano passado e a administração do estoque de vacinas. Dados do próprio governo mostraram um crescimento de 400% nas mortes resultantes da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti em 2024, na comparação com 2023.

Além disso, um levantamento do jornal O Globo mostrou que, sob a gestão de Nísia Trindade, a pasta precisou descartar quase 59 milhões de doses de imunizantes vencidos no final do ano passado. A medida representou um desperdício de R$ 1,75 bilhão aos cofres públicos.

À época, a pasta argumentou que parte das perdas se deu pelo recebimento de doses próximas do vencimento, medida herdada da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ministério da Saúde tem o terceiro maior Orçamento da Esplanada 

Além de arrumar uma "marca" que sirva de propaganda para Lula na área da Saúde, Padilha vai ser responsável por controlar o terceiro maior orçamento da Esplanada dos Ministérios. A peça orçamentária para 2025 ainda não foi aprovada pelo Congresso Nacional, mas, segundo o projeto enviado pelo governo, a pasta terá controle sobre R$ 241,6 bilhões neste ano.

O montante fica atrás apenas do Ministério da Previdência, com R$ 1,03 trilhão – o valor inclui o pagamento de aposentadorias, pensões e outros benefícios pagos pela Previdência Social; e da pasta do Desenvolvimento Social, com R$ 291 bilhões.

A indicação de um nome do próprio PT para o cargo foi vista dentro do Palácio do Planalto como uma forma de Lula manter o controle sobre essas verbas. Desde o início do governo, o petista vem tentando blindar a pasta do interesse dos partidos do Centrão, que é alvo de cobiça justamente pelo orçamento e pela possibilidade de entregar diversas políticas públicas pelo país.

Por ser um político, diferente de Nísia, a gestão petista espera que Padilha consiga transformar, por exemplo, a entrega de leitos, hospitais e as campanhas de vacinação em eventos que resultem em capital político para o presidente e sua base aliada.

Além disso, a mudança ocorre depois que Padilha virou alvo de críticas por sua atuação na Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela articulação do governo com o Congresso, ao longo dos últimos dois anos.

A troca abre margem para que Lula tente uma composição com outros partidos do Centrão, justamente para tentar um ajuste no ministério responsável pela interlocução com os congressistas, como forma de tentar aprovar os projetos de seu interesse no Legislativo.

Além do senador Jaques Wagner, que é do PT e líder do governo no Senado, o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e o ministro de Porto e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), estão entre os cotados para o posto que era ocupado por Padilha.

Padilha comandou pasta da Saúde no governo Dilma 

A posse de Padilha está marcada para 6 de março e esta será a sua segunda passagem do pelo Ministério da Saúde. Médico infectologista, doutor em Saúde Pública e professor universitário, ele já comandou a pasta entre 2011 e 2014, na gestão Dilma Rousseff (PT). 

A principal vitrine do político em sua primeira passagem pela Esplanada dos Ministérios foi o lançamento do programa Mais Médicos, que previa a contratação de profissionais cubanos para atuar em cidades do interior do país. O programa se tornou uma vitrine do PT e foi reembalado pela atual gestão de Lula em um novo formato, dessa vez sem estrangeiros.

“Ter sido ministro da Saúde durante a gestão da Dilma Rousseff é uma das coisas de que mais me orgulho de carregar em minha trajetória. Juntos sonhamos em levar saúde pública para todos os brasileiros e materializamos com a construção do Mais Médicos, que levou profissionais para os quatro cantos desse país”, publicou Padilha nas suas redes sociais. 

Apesar disso, o Mais Médicos foi alvo de críticas, principalmente, por trazer cubanos sem a mesma qualificação profissional que os médicos brasileiros e de ser uma forma de o PT financiar a ditadura de Cuba. À época, a maior parte dos salários pagos aos profissionais cubanos (até 75%) ficava com o governo do país caribenho. Também houve denúncias de trabalho escravo. 

Ainda sob a sua gestão, a pasta da Saúde criou incentivos para a abertura de novos cursos de Medicina pelo país, gerando críticas de órgãos como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB), que questionaram a falta de controle de qualidade na formação dos profissionais.

Padilha também foi responsável por criar um programa que concedia o abatimento no valor de 1% do que é devido ao imposto de renda para atendimentos, pesquisas e financiamentos do tratamento contra o câncer ou de pessoas com deficiência. Essa foi uma forma de incentivar mais clínicas particulares a atenderem pacientes com câncer ou com deficiência, além de levar as empresas a financiar pesquisas e aumentar atendimentos nessas duas áreas. 

"Como médico infectologista, professor e pesquisador do SUS e ex-ministro da Saúde, sei do desafio que isso representa, sendo o Brasil o único país do mundo com população maior que 100 milhões de habitantes com um sistema de saúde público, gratuito e universal", disse Padilha. 

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