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Apesar da recente sinalização feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que pode não concorrer à reeleição em 2026, integrantes da cúpula do PT e membros de outros partidos que integram o governo não acreditam na desistência do petista neste momento. Para os aliados mais próximos, apenas uma eventual piora no quadro de saúde ou um péssimo desempenho da gestão nos próximos dois anos poderia resultar em um recuo de Lula sobre a disputa eleitoral.
Quatro assessores do Palácio do Planalto, ouvidos pela reportagem, admitiram que Lula confirmou aos ministros presentes na reunião ministerial da última segunda-feira (20) que sua candidatura depende do seu estado de saúde. Contudo, o próprio petista afirmou que estava 100% recuperado da cirurgia que realizou no começo de dezembro para tratar uma hemorragia intracraniana.
"Vocês estão percebendo que nem chapéu eu estou usando, para mostrar que meu cabelo vai ficar melhor do que o do [Geraldo] Alckmin e melhor que o do [Ricardo] Lewandowski. Eles vão ficar com inveja do meu cabelo", disse Lula durante a reunião. Desde a realização das cirurgias, Lula vinha aparecendo em público apenas de chapéu para esconder os curativos na cabeça.
O presidente terá 80 anos na campanha eleitoral de 2026 e completará 81 em 27 de outubro daquele ano. Nos últimos dois anos, problemas de saúde atrapalharam a rotina de Lula e o impediram de viajar para cúpulas internacionais.
Dentro do PT, líderes do partido acreditam que a fala de Lula que condicionou sua candidatura à reeleição ao seu quadro de saúde em 2026 é uma coisa "óbvia". Além de admitirem a falta de outros quadros políticos dentro da sigla, os petistas mais próximos ao presidente avaliam que as movimentações feitas pelo próprio Lula até o momento indicam que ele será o candidato do campo da esquerda.
No discurso de abertura do encontro com seus ministros e que foi transmitido à imprensa, Lula disse querer eleger um governo em 2026 para que o Brasil “siga com a democracia”, sem a volta do “neonazismo”. Disse, na ocasião, que é preciso deixar essa vontade em “alto e bom som” para não “entregar” o país “de volta ao neofascismo, ao neonazismo e ao autoritarismo”.
Lula vai rodar o Brasil para mensurar apoio ao longo de 2025
Na mesma reunião ministerial, Lula disse publicamente que a disputa eleitoral de 2026 "já começou por parte dos seus adversários". Apesar de indicar que ainda não está em campanha, o Palácio do Planalto já organiza uma série de viagens do presidente pelo país no intuito de tentar ampliar a popularidade do governo.
"O que eu quero dizer para vocês é que 2026 já começou. Pelos adversários, a eleição já começou. É só ver o que vocês assistem na internet para vocês perceberem que eles já estão em campanha. E nós não podemos antecipar a campanha porque nós temos que trabalhar", disse Lula no encontro.
A ideia é de que essa agenda pelos estados comece ainda em fevereiro com foco em entregas das áreas sociais. Durante o encontro com os ministros, o próprio Lula cobrou que a equipe trabalhe ainda mais e viaje pelo Brasil nas entregas de cada pasta.
“A ideia é que o presidente seja mais presente, fale mais com a imprensa e que esteja mais presente nos estados”, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após o encontro.
A estratégia faz parte do plano apresentado pelo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, que chegou ao Planalto com intuito de reestruturar a imagem de Lula e do governo. A proposta do marqueteiro envolve a ampliação dos canais de diálogo com a população e um monitoramento das redes para que o governo se antecipe aos debates em crises com a mais recente que envolveu o monitoramento das transações por Pix.
"Eu não vejo nenhum sinal nele de que ele não queira ser candidato em 2026 e, na minha opinião, o candidato desse grupo aqui em 2026 vai ser o Lula. Ele está muito determinado, muito obcecado para fazer o melhor pelo país", defendeu o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
Antes disso, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também já havia refutado a possibilidade de Lula não ser o candidato da esquerda em 2026. "O presidente Lula é o favorito para a disputa eleitoral do ano que vem. Não é hora de ele pendurar as chuteiras e ele estará em campo, não ficará no banco de reservas. O presidente chegará em 2026 com muita vontade de defender o que está fazendo em termos de crescimento econômico, redução da desigualdade e reposicionamento do Brasil no mundo", disse o petista em entrevista à revista Veja.
PT teme debandada de partidos da base governista
Outro ponto visto como crítico por parte de senadores e deputados petistas seria o desembarque de diversos partidos da base caso Lula confirmasse sua desistência à reeleição neste momento. A avaliação interna é de que partidos como PSD, MDB e União Brasil, por exemplo, embarcariam em uma candidatura da direita, por exemplo.
Por outro lado, a cúpula do PT acredita que o próprio Lula possa conseguir amarrar o apoio desses partidos por meio da reforma ministerial discutida no Palácio do Planalto para os próximos meses. Apesar do otimismo em relação à reeleição do atual presidente, a expectativa é de que o partido discuta internamente nomes alternativos ao Palácio do Planalto.
Além do nome do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o atual chefe da pasta da Educação, Camilo Santana, é apontado internamente como uma outra aposta do PT para o "pós-Lula". Além de sucessivas vitórias em seu reduto eleitoral, o Ceará, Santana conta com o aval da ala ligada à atual presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), um dos desafetos de Haddad dentro do partido.
Pesquisa Ipec de dezembro mostrou que a educação é avaliada positivamente por 37% do eleitorado, como regular por 27% e como ruim ou péssima por 34%. Essa foi a única área do governo Lula, entre todas as nove pesquisadas, em que a avaliação positiva supera a negativa. No mesmo levantamento, o combate à inflação, missão da pasta de Haddad, foi apontado como ruim ou péssimo por 47% dos entrevistados, por exemplo.
Gleisi Hoffmann vai deixar a presidência do PT até julho deste ano e o ex-prefeito Edinho Silva é o mais cotado para assumir o posto. A indicação é bancada pelo próprio Lula e a movimentação é vista internamente pelos petistas como uma forma dele próprio influenciar nas alianças do PT para disputar à reeleição.
Senador da oposição diz que eleição presidencial pode ocorrer sem Lula e Bolsonaro
Em entrevista à Veja, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro no governo de Jair Bolsonaro, avaliou que Lula não deve disputar a próxima eleição presidencial e que o indicado do PT deve ser o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele chegou a citar o ministro da Educação, Camilo Santana, como um nome possível da esquerda, mas afirmou que ele não deve ter o respaldo do Partido dos Trabalhadores para a disputa.
Segundo ele, como Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há a possibilidade de o pleito de 2026 ser disputado sem os "dois maiores atores", nas palavras deles, de seus respectivos campos políticos.
“Nessa próxima eleição, tem muita chance de não ter Lula e Bolsonaro, mas com certeza eles serão os dois maiores atores. O poder de transferência deles é muito grande, tanto do Lula quanto do Bolsonaro", afirmou Nogueira à revista.
Para o senador, caso Bolsonaro não possa concorrer, os nomes mais forte da direita em 2026 seriam Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, ou um dos filhos do ex-presidente, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).