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Manifestação de 16/3

Apostas em impeachment de Lula já ou vitória nas urnas em 2026 dividem direita

Manifestação por impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, na avenida Paulista, em São Paulo
Manifestação por impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, na avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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Uma breve declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante uma entrevista no sábado (15), de que irá à manifestação de 16 de março, no Rio de Janeiro, tendo como foco a anistia para os condenados do 8 de Janeiro, deflagrou uma nova divisão na direita. Pelo menos desde o início de fevereiro, políticos e ativistas de direita têm convocado a população às ruas com outro objetivo: reivindicar o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A diferença nas pautas da manifestação aponta para uma divergência de estratégia mais ampla. Enquanto parte da oposição quer aproveitar a queda abrupta da popularidade de Lula para tentar seu impeachment, outros preferem apostar na deterioração contínua da imagem do presidente para vencê-lo nas eleições de 2026.

Na entrevista ao canal do YouTube Brazil Talking News, Bolsonaro não desautorizou explicitamente os atos por impeachment. “Eu devo estar no Rio de Janeiro. Vai ser o quê? Anistia. E as questões nacionais. Outros vão ser impeachment, outros vão ser outro assunto qualquer. Colabore, participe”, disse. Durante o sábado, no entanto, nas redes sociais, manifestantes começaram a reiterar que o foco deveria ser o impeachment de Lula.

No domingo (16), o pastor Silas Malafaia, amigo pessoal de Bolsonaro, veio a público dizer que a pauta deve ser “Anistia Já” e “Fora Lula 2026” – ou seja, a saída de Lula da Presidência nas eleições, e não por impeachment. À Gazeta do Povo, Malafaia expôs suas razões.

“Bolsonaro vai dar o tom: Fora Lula 2026. É que essa turma da direita, muitas vezes não pensa, não analisa. Quer dizer que a gente vai colocar o Lula para fora para colocar o Alckmin? Tem cabimento uma coisa dessa? Não, tem que derrotar os dois. Não derrubar um para o outro vir com uma conversa de salvador da pátria. Não, têm que ficar lá até 2026. Esse tem que ser o mote do evento. Fora Lula em 2026, anistia já”, afirmou.

Nesta segunda-feira (17), Bolsonaro publicou vídeo anunciando as manifestações “por todo o Brasil”. Disse que estará em Copacabana com Malafaia. “A nossa pauta: liberdade de expressão, segurança, custo de vida, e fora Lula 2026, e anistia já. Eu peço a você que vai participar em outros municípios, procure saber qual é a pauta e quem estará organizando”.

Mobilização pelo impeachment de Lula ganhou força após postagem de Elon Musk

No fim de semana, a mobilização pelo impeachment ganhou força nas redes depois que Elon Musk, dono da rede X e influente na direita, compartilhou post na plataforma sobre as manifestações com foco na saída de Lula. "Wow" ("uau"), publicou o empresário.

Em São Paulo, a manifestação ocorrerá na avenida Paulista e os organizadores querem que o foco seja o impeachment. O ativista Guilherme Sampaio, que idealizou o protesto, deu o recado em vídeo publicado nas redes.

“A gente está indo para a rua por uma pauta única, que é o impeachment do Lula. Nada mais, nada menos. Se você quer ser um vagabundo, ficar em casa, e deixar esse governo destruir com tua vida, acabar com o seu café-da-manhã, com seu almoço, com seu jantar, te cobrar tanto imposto que não sobra dinheiro para você levar seu filho para tomar um sorvete ao final do dia, você fica em casa sentado”, afirmou.

Ele também disse que as pessoas podem se mobilizar nas ruas por anistia em outras ocasiões. “Se você quiser anistia, você pode ir com a gente para a rua, como nos outros dias que a gente já foi, como semana passada, que a gente foi no dia 12 de fevereiro, mostrar para todo mundo que a gente quer anistia. Ou nas outras vezes que a gente for. Mas essa no dia 16 de março, é pauta única: é fora Lula. Se você quiser, você vem com a gente”, concluiu.

Nas redes sociais, a discussão esquentou e chegou a deputados federais. Ricardo Salles (Novo-SP) insistiu que a manifestação deve ser pelo impeachment de Lula.

“É fora Lula, não tem essa palhaçada de Fora Lula 2026 coisa nenhuma. Se der para tirar esse cara o quanto antes, melhor. Se não der, seja por causa do apertado calendário eleitoral ou qualquer outra razão inerente à política, paciência, daí a gente tira pelo voto em 2026, beleza. Mas o Brasil não aguenta mais essa turma aí não. Chega, já deu.”

Nikolas Ferreira (PL-MG), que desde janeiro defende manifestações pelo impeachment, rebateu o argumento de que uma eventual entrada de Alckmin na Presidência dificultaria a volta da direita em 2026.

“Graças ao movimento de impeachment da Dilma, o Bolsonaro ganhou ainda mais força. Não dá pra cravar o futuro assim. Não to entendendo o porque não deixar as pessoas manifestarem sua indignação nas ruas… o poder pelo jeito não emana do povo”, publicou nas redes.

"Intergalácticos" vs. "Pragmáticos"

No entorno mais próximo de Bolsonaro, Salles e Nikolas são tachados com a pecha de “intergalácticos”, como políticos que buscam pautas inalcançáveis e que são refratários a acordos com o Centrão. Eles foram criticados por terem se colocado contra, por exemplo, a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e por não terem aderido com entusiasmo à eleição do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara, e do senador Davi Alcolumbre (União-AP) para o comando do Senado.

O grupo de políticos mais próximo de Bolsonaro, apelidados de “pragmáticos”, se apresenta como mais experiente nas negociações políticas e propaga a ideia de que, com acordos com o Centrão, a direita terá mais poder e condição de aprovar pautas mais factíveis, como a anistia para os condenados do 8 de Janeiro e até a reversão da inelegibilidade de Bolsonaro. Por trás do discurso, há o interesse político em manter Bolsonaro como “líder da direita” e único nome forte eleitoralmente para derrotar Lula ou o PT nas eleições de 2026.

Nas redes, o mais proeminente político desse grupo é o deputado federal Mario Frias (PL-SP). No fim de semana, ele criticou organizadores da manifestação em São Paulo que supostamente comemoraram a ausência de Bolsonaro no ato.

“Os deputados ditos bolsonaristas, que estão fazendo propaganda do trio desses caras, em São Paulo, fazem sabendo que os mesmos almejam eliminar a liderança política do Presidente Bolsonaro? Se não sabem, informarei pessoalmente a vocês, cada um que assuma, depois, a responsabilidade de promover essa turma. Só não vale dizer que não sabiam, pois irei procurá-los pessoalmente”, postou Mario Frias.

De ambos os lados, há distintas estratégias políticas. Defensores do impeachment de Lula acreditam que “deixar o presidente sangrar” até 2026 vai piorar a situação do país, e que retirá-lo logo do poder é necessário para interromper a alta na inflação e nos impostos. Além disso, seria um golpe fatal no PT, já carente de nomes fortes para suceder Lula na Presidência.

Já os que defendem a saída de Lula em 2026 apostam numa derrota certa do petista na disputa. Além disso, veem o impeachment como algo improvável, por não verem disposição do Centrão nem da cúpula do Congresso para um processo que exige ampla maioria política e a formação de um novo governo e nova coalizão, para cumprir um mandato-tampão.

Desde o início do terceiro mandato de Lula, pedidos de impeachment têm sido aventados, mas o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) sempre descartou a abertura de um processo. Nos bastidores, seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), não deu sinais de que poderia aceitar uma denúncia contra o petista. Também não há clareza e consenso sobre o ingrediente jurídico, ou seja, qual o crime de responsabilidade seria imputado ao presidente.

Na semana passada, perdeu força um dos motivos cogitados: a manobra do governo para pagar a bolsa mensal para estudantes do ensino médio, no programa Pé-de-Meia, fora do Orçamento. O Tribunal de Contas da União (TCU) liberou a retomada dos pagamentos, desde que o governo corrija o problema, encontrando uma nova fonte dos recursos.

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