De acordo com o conselheiro da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), Basílio Rodriguez Perez, mesmo com a colaboração da empresa americana, Cloudflare, o novo bloqueio à rede social X determinado pela Anatel será parcial.
Nesta quarta-feira (18), após quase 20 dias do bloqueio ordenado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a rede social X voltou a funcionar no Brasil.
Apesar do retorno, o X somente pode ser acessado por meio do aplicativo instalado em celulares. O acesso dos brasileiros ao X foi restabelecido depois de uma atualização no aplicativo, que passou a usar o serviço conhecido como “proxy reverso” da empresa americana Cloudflare.
Ainda na quarta-feira, a Anatel enviou uma notificação para 20 mil operadores e provedores de internet determinando novo bloqueio do X.
Em nota enviada à Gazeta do Povo, a Anatel disse contar com a colaboração da Cloudflare para seguir com o bloqueio à rede social no Brasil.
“Com o apoio ativo das prestadoras de telecomunicações e da empresa Cloudflare, foi possível identificar mecanismo que, espera-se, assegure o cumprimento da determinação, com o restabelecimento do bloqueio. A conduta da rede X demonstra intenção deliberada de descumprir a ordem do STF. Eventuais novas tentativas de burla ao bloqueio merecerão da Agência as providências cabíveis”, diz a nota enviada pela Anatel.
O X nega afronta à decisão judicial que baniu a rede social. Segundo a plataforma, o retorno é "temporário" e o X deve ficar indisponível novamente nos próximos dias.
Novo serviço do X dificulta mecanismos de bloqueio
A Cloudflare é um serviço de nuvem que oferece proteção de servidores de grandes empresas contra ataques cibernéticos. Ao todo, a empresa atende cerca de 24 milhões de sites no mundo todo.
Segundo explica a própria Cloudflare em seu site, o “proxy reverso” é um tipo de intermediário do tráfego de internet entre o usuário e o servidor de um site. Além de melhorar a velocidade e a segurança, ele também mascara o IP real do servidor.
Com o novo serviço, o X passou a usar IPs dinâmicos, que mudam sempre que é feito o login no site ou a cada intervalo de um tempo determinado. Essa camada extra de proteção, praticamente, inviabiliza o método de bloqueio tradicional.
Uma ordem de bloqueio total do serviço poderia derrubar os sites de outros clientes que usam a Cloudflare no Brasil, a exemplo de bancos, do governo federal e do próprio STF.
Segundo o conselheiro da Abrint, a Anatel informou que a Cloudflare isolou os IPs do X para que o bloqueio não atinja outros sites. Apesar da estratégia, a medida parece não ser tão simples e a Anatel pediu aos provedores que, durante os bloqueios, tomem cuidado com eventuais efeitos colaterais.
Bloqueio não será 100%
Apesar de a empresa americana estar trabalhando com a Anatel para fazer cumprir a ordem de censura contra o X, o novo bloqueio não será completo e, segundo Perez, a rede social continuará disponível no Brasil mesmo após o cumprimento da determinação da Anatel.
“De qualquer forma, não é uma solução definitiva para tirar o X do ar porque não é só a Cloudflare que está lá, tem outros dois serviços. E sobre esses dois serviços, a Anatel não pediu nenhum bloqueio porque, acho que se ela pedir, pode bloquear muita coisa que não poderia”, explicou Perez.
Na prática, segundo o conselheiro, a ordem de bloqueio dada pela Anatel tem potencial apenas para prejudicar um pouco o funcionamento do X, mas a rede social “não vai sumir 100%”.
“Pelo menos, com essa ordem de hoje, não dá para sumir tudo. É um bloqueio parcial”, completou Perez.
Novo bloqueio do X coloca internet brasileira em risco
Procurado pela Gazeta do Povo para comentar sobre o caso, o especialista em armazenamento de dados e Ph.D em Ciência da Computação, Lorenzo Ridolfi, falou sobre os riscos envolvidos na determinação da Anatel.
“Para que os IPs fixos destinados ao X no Brasil não sofram ataques ou outros tipos de interferência, a Cloudflare e o X dependem diretamente das operadoras de telecomunicações do Brasil para que bloqueiem esses IPs de maneira adequada. Caso contrário, o serviço fica vulnerável a ataques de negação de serviço (DDoS) ou mesmo à instabilidade da rede”, explicou o especialista.
“Por outro lado, se a Cloudflare não fizer o isolamento correto desses IPs, a situação se agrava ainda mais. Isso porque a internet no Brasil pode virar um verdadeiro caos, com bloqueios aleatórios afetando vários outros serviços online que compartilham a mesma infraestrutura da Cloudflare. Serviços que nada têm a ver com o X, mas que utilizam os mesmos IPs ou a mesma CDN, podem ser interrompidos, gerando um efeito em cadeia”, completou.
Censura ao X
O banimento da rede social aconteceu depois que a plataforma não atendeu uma determinação de Moraes que pedia a indicação de um responsável legal no Brasil.
A decisão faz parte de um inquérito que envolve o empresário Elon Musk, sócio do X.
Em abril, Alexandre de Moraes determinou que Musk fosse investigado pelos crimes de obstrução à Justiça, organização criminosa e incitação ao crime.
Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que a decisão do ministro do STF viola leis e cria nova espécie de ato jurídico, expondo o Brasil ao “ridículo internacional” pela forma como foi feita a intimação que originou a derrubada da plataforma.
Musk tem denunciado "ordens ilegais" de Moraes para censurar perfis da rede social. Ainda, segundo Musk, com ajuda de ex-funcionários da rede social, Moraes também teria interferido nas eleições de 2022.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF
Deixe sua opinião