O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou ao Brasil por volta das 6h45, em um voo vindo de Orlando que pousou no Aeroporto Internacional de Brasília. O retorno ao país ocorre após uma temporada de 89 dias nos Estados Unidos, em uma viagem que começou nos últimos dias a frente do governo, no final de dezembro do ano passado.
A chegada do voo que trouxe Bolsonaro, adiantada em 25 minutos, foi acompanhada por muitos apoiadores e jornalistas no aeroporto da capital federal, e o ex-presidente desembarcou pelo terminal junto de outros passageiros, vindo em um voo de carreira.
Bolsonaro passou pelos procedimentos de imigração junto de outros passageiros e saiu do aeroporto por volta das 7h40 por uma saída alternativa com escolta da Polícia Federal para a sede do Partido Liberal, no setor comercial Sul de Brasília. O ex-presidente não falou com a imprensa.
Por outro lado, apoiadores se acumulavam no saguão do aeroporto aguardando a saída do ex-presidente, se manifestando com palavras de apoio a ele e contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A saída dele pela área do desembarque foi proibida pela Polícia Federal, por questões de segurança. Havia o receio de tumultos que comprometessem a saída de outros passageiros e as operações do aeroporto.
Desde o meio da madrugada, os acessos ao terminal eram monitorados pelas forças de segurança do DF para conter possíveis manifestações. Um dos principais acessos ao aeroporto foi fechado pela Polícia Militar nas primeiras horas da manhã, que controlava a entrada à área do terminal.
As primeiras informações do dia apontam que um ônibus com apoiadores que tentava acessar a área do aeroporto foi bloqueado pela PM.
Apoiadores acompanharam a chegada de Bolsonaro no PL
Enquanto Bolsonaro desembarcava no Aeroporto Internacional de Brasília, apoiadores do ex-presidente já começavam a chegar na sede do PL, em Brasília. Políticos e correligionários também, como os deputados Hélio Lopes (PL-RJ), Ricardo Salles (PL-SP) e Eduardo Pazuello (PL-RJ) e os senadores Jaime Bagattoli (PL-RO), Marcos do Val (PP-PI) e Ciro Nogueira (PP-PI), entre outros.
"Eu não tenho dúvidas de que o pessoal está sentindo a falta dele. [O presidente demorou a voltar ao Brasil] pois estava fazendo uma agenda no exterior, como o CPAC, fizemos mais de 30 agendas. Ele, como um líder mundial, foi lá fora falar bem do Brasil", disse Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro.
O policiamento na área do Brasil 21, um complexo de edifícios onde está localizada a sede do PL, a cerca de 1,5 km de distância da Esplanada dos Ministérios, foi reforçado para conter tumultos e manifestações. Apesar da expectativa de apoiadores de terem uma palavra do ex-presidente, a comitiva de Bolsonaro entrou no complexo pela garagem.
O ex-presidente foi recebido pelo presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, pelo secretário de Relações Institucionais do PL, general Braga Netto, pelo senador Flávio Bolsonaro, entre outros parlamentares, além da esposa, Michelle Bolsonaro.
"[Enquanto estive nos Estados Unidos] deu para ter uma visão melhor do nosso país lá de fora. Foi um aprendizado, um acompanhamento do que acontece aqui", disse Bolsonaro aos parlamentares presentes no saguão do prédio que abriga a sede do PL.
O ex-presidente disse, ainda, que o atual governo não vai "fazer o que bem quer [com] o futuro da nossa nação. Nós somos praticamente 20% das bancadas, além de outros colegas nossos e de vários outros partidos, somos a maioria dentro do Congresso. Nós queremos o melhor para o nosso país. Tenho certeza que vocês conduzirão o Brasil para um porto seguro", completou no discurso aos parlamentares.
Bolsonaro afirmou que vai cumprir expediente no PL recebendo parlamentares e líderes, e que deseja eleger pelo menos 60% dos prefeitos nas eleições municipais de 2024.
Em uma reunião reservada com correligionários e aliados, Bolsonaro criticou a falta de um carro blindado na recepção no aeroporto, que teria sido retirado pela Casa Civil do governo. Ele disse, ainda, que, na eleição de 2018, tinha 40 agentes da Polícia Federal disponíveis, o que agora não ocorreu.
"A gente vê essa questão do PCC planejando [atos criminosos], a gente fica preocupado. Eu não tenho peito de aço. Eu vou tentar buscar um carro blindado pra mim. Agora, não é uma atitude racional por parte desse governo que tá aí. Eu nunca persegui ex-presidente nenhum comigo. Tudo o que foi pedido, nós concedemos. Agora, comigo, pela volta anunciam que não tem mais carro blindado. Tão dando recado, eu só posso entender isso aí", disse.
A Polícia Federal disse, à Gazeta do Povo, que não se pronuncia sobre "declarações feitas por outras pessoas.
Já a Casa Civil informou à reportagem que "nenhum ex-presidente tem direito a utilização de carro blindado", segundo estabelece a Lei no 7.474/1986 (veja na íntegra).
"Os ex-presidentes têm direito a dois veículos oficiais e os respectivos motoristas. Nenhum ex-presidente utiliza veículos blindados cedidos pela Presidência da República. Reforçamos que os dois veículos oficiais foram disponibilizados e estão sendo utilizados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro", completou.
Correligionários e aliados acompanharam com apoiadores
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) disse que "hoje o Brasil acordou mais forte. Tá lindo, todos os deputados aqui, senadores, líderes, aguardando o capitão chegar", enquanto aguardava a chegada de Bolsonaro a sede do partido.
Alden Silva (PL-BA), deputado federal, posou para fotos com o ex-presidente e disse que "o melhor presidente que este país já viu está de volta". Declaração semelhante à do deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), que disse que "nosso presidente Jair Bolsonaro de volta pelo melhor do nosso Brasil sempre". O ex-deputado federal Paulo Martins (PL-PR) deu as boas-vindas pela volta do ex-presidente ao Brasil.
Ainda de acordo com o partido, não está previsto qualquer evento ou fala do ex-presidente nesta quinta (30). Ele recebeu cumprimentos de parlamentares do PL e de outras autoridades num espaço reservado do complexo, com acesso restrito. O encontro é fechado, mas Bolsonaro acenou pelo menos duas vezes aos apoiadores reunidos em frente ao prédio.
Para o farmacêutico Joabe Bispo, que chegou na frente do complexo por volta das 6h40, hoje foi um "dia importante para o Brasil, estamos curiosos para saber o que vai acontecer agora com a volta do Bolsonaro e qual vai ser a reação da esquerda".
"Acredito que existe uma estratégia pelo tempo que Bolsonaro ficou fora, também a respeito dos atos de 8 de janeiro, que eu participei e estava muito tranquilo. A quebradeira foi manipulada. Tenho esperança que alguma coisa venha por aí, pelo menos impeachment [deputados entraram com um pedido de impedimento do presidente Lula, nesta quarta (30)]. Estamos aqui fazendo o nosso papel de patriotas", disse.
O empresário André Luis Batista, que também acompanhou a chegada de Bolsonaro à sede do PL, disse que estava lá por "patriotismo", criticando duramente o governo Lula e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). "A gente ainda tem alguma esperança", completou.
"Os próximos 15 dias serão decisivos para a instalação das comissões de inquérito [dos atos de 8 de janeiro no Congresso]. O retorno do Bolsonaro ajuda [na condução das comissões] com a bancada dele, que é expressiva e forte", disse.
Na semana que vem, Jair Bolsonaro assume formalmente a função de Presidente de Honra do Partido Liberal e deverá despachar normalmente em seu escritório, diz o partido.
Bolsonaro no Brasil
Pouco antes de embarcar de volta ao Brasil ainda em Orlando, Bolsonaro disse à CNN Brasil que viajou aos Estados Unidos dias antes da posse de Lula por um “sentimento muito forte no Brasil de indignação sem ninguém fazendo uma oposição”, disse.
Nestes primeiros dias em Brasília, Bolsonaro deve se dedicar à família e começar a trabalhar na oposição com o PL a partir da semana que vem. A expectativa é de que ele percorra o país em uma agenda de viagens e se reúna com prefeitos, governadores, empresários e com parlamentares das bancadas do partido e da oposição na Câmara e no Senado. Por ora, contudo, ainda não há datas ou maiores definições estratégicas de suas atividades.
Governo minimizou volta de Bolsonaro ao Brasil
Embora as autoridades de segurança do Distrito Federal tenham montado um forte esquema de policiamento desde a chegada de Bolsonaro ao aeroporto até a sede do PL, com monitoramento inclusive da Esplanada dos Ministérios, o governo minimizou o retorno do ex-presidente ao Brasil.
O ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, disse que o governo "não tem que ver nada" quando foi questionado por jornalistas sobre como vê a volta do ex-presidente. A declaração foi dada na manhã desta quarta (29) após uma reunião com Lula no Palácio da Alvorada.
Segundo Padilha, o governo não tem que se pronunciar sobre o ex-presidente e que compete a ele se pronunciar sobre acontecimentos como o 8 de janeiro e os presentes recebidos pelo governo saudita.
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