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Gustavo Bebbiano fala sobre Bolsonaro
O ex-ministro Gustavo Bebianno afirma que Bolsonaro atrapalha Paulo Guedes e Sergio Moro.| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Antigo braço-direito e hoje desafeto de Jair Bolsonaro, o ex-ministro Gustavo Bebianno não poupa palavras para criticar o presidente que ajudou a eleger. Em entrevista à Gazeta do Povo, Bebianno diz acreditar que o comportamento de Bolsonaro ameaça “ferir a democracia do país”. Também afirma que o Brasil está tendo avanços apesar das ações do presidente. “É só ver como ele atrapalha o [Sergio] Moro”. Segundo o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Bolsonaro “faz coisas que nem o Lula fez”, citando as tentativas de interferência do presidente na Polícia Federal e no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). “Bolsonaro é o Lula com sinal invertido”, resume Bebianno.

A desavença entre Bebianno e a família Bolsonaro começou antes da posse. Em parte, segundo ele, pela influência de Carlos e Eduardo Bolsonaro, filhos do presidente. Bebianno ocupou a presidência nacional do PSL e foi responsável pela distribuição dos recursos do partido durante as eleições de 2018.

"A distribuição era de dois tipos: territorial e por critério pessoal, quando você decide para que candidato vai o dinheiro. A minha participação era na distribuição territorial, além da função cuidar da chapa do presidente e vice-presidente", afirma.

O ex-ministro afirma que o motivo pelo qual foi demitido foi "única e exclusivamente por implicância do Carlos e do Eduardo" e não as denúncias de irregularidade na distribuição de verbas.

Depois de um longo desgaste com os filhos do presidente, a posição de Bebianno no governo ficou insustentável quando foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro. Foi nessa ocasião que ele decidiu divulgar áudios de conversas suas com o presidente. Bebianno acabou demitido e, 18 de fevereiro. Desligou-se oficialmente do PSL em junho. E posteriormente se filiou ao PSDB do Rio de Janeiro.

As ameaças à democracia

Na entrevista à Gazeta do Povo, Bebianno diz que considera Bolsonaro uma ameaça à democracia. Ele acredita o presidente se vê como “um enviado divino, de Deus, com filhos maravilhosos que vai salvar o Brasil, e isso dá uma amostra de uma personalidade absolutista”.

“Paulo Guedes é quem merece aplausos. Ele trabalha; o Jair atrapalha”

Para Bebianno o lado bom da gestão Bolsonaro é “o governo” de Paulo Guedes, ministro da Economia. “Eu mantive o Paulo Guedes ali. Antes da eleição, ele esteve para pular fora... O Jair era contra a reforma da Previdência, tudo que está dando certo no Brasil. No fundo, ele é contra”, afirma. "Paulo Guedes merece aplausos. Ele trabalha; o Jair atrapalha."

O ex-ministro também cita como exemplos de boa gestão os trabalhos dos ministros Sergio Moro (Justiça), Tereza Cristina (Agricultura) e Tarcísio Gomes (Infraestrutura).

O ex-ministro acredita que a população deve cobrar maior lucidez do presidente, já que “o Brasil está tendo avanços apesar do Jair”.

Bebianno comenta o que acha que Bolsonaro faz e vai fazer com Moro

Bebianno afirma que Bolsonaro também prejudica o trabalho de Moro. “É só ver como ele atrapalha o Moro. (...) [O presidente] faz coisas que nem o Lula fez”, diz. Segundo ele, esses são os casos das tentativas de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e no Coaf – dois órgãos essenciais no combate à corrupção. “Bolsonaro é o Lula com sinal invertido.”

Com o maior capital eleitoral do governo, Bebianno diz acreditar que Moro só vai entrar numa chapa como vice de Bolsonaro nas eleições de 2022 “se for muito burro”. Moro presidente e Bolsonaro vice faria mais sentido", diz Bebianno. De acordo com ele, a opinião pública é muito forte a favor do ministro da Justiça.

O ex-ministro lembra que o presidente assumiu um compromisso com Moro para indicá-lo a uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, Bebianno aposta que o presidente não vai indicar Moro. “Como Bolsonaro não tem palavra, ele volta atrás”. Para Bebianno, o escolhido pelo Bolsonaro para a vaga no Supremo deve ser Jorge Oliveira, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República – a quem ele considera despreparado para o STF.

O dilema do fundão eleitoral

Bebianno comenta ainda sobre o dilema do presidente entre vetar e sancionar o fundo eleitoral, no valor de R$ 2 bilhões, que deve financiar a campanha de 2020. Para ele, a atitude de Bolsonaro não passa de uma “cortina de fumaça” .

Bolsonaro argumenta que se vetar o fundo pode sofrer impeachment, por incorrer em crime de responsabilidade. “Sabe por que ele não vetou o fundão? Ele está pensando na reeleição.”

Bebianno pretende processar Bolsonaro por insinuação no caso da facada

Bolsonaro comentou em novembro sobre o atentado que sofreu quando ainda era candidato à Presidência da República. Segundo ele, a investigação está próxima de um desfecho. Disse não ter tido acesso ao processo, mas afirmou em entrevista ao site O Antagonista: “Tem uma linha de investigação [do envolvimento] de possivelmente alguém próximo de mim”.

Gustavo Bebianno acredita que o comentário sobre o mandante ter sido “alguém próximo” é uma forma de tentar envolvê-lo no crime. “O nível de loucura do Jair... ele disse que eu fui o mentor da facada. Amanhã ele mete o Brasil numa guerra. Vou processá-lo”, afirma. De acordo com ele dois generais já tinham comentado que, nos bastidores, Bolsonaro havia relacionado seu nome ao atentado.

“Ciúmes” do filho teria impedido candidato de Bebianno

Bebianno afirma que gostaria de ter sido candidato a deputado federal em 2018, mas que a influência de Carlos Bolsonaro sobre o pai o prejudicou. “Ele enlouqueceu de ciúmes quando soube que eu pretendia sair [candidato] a deputado federal”. Por influência de Carlos junto ao pai, sua pretensão de se candidatar teria sido abortada. “O problema é que o pai é fraco”, diz Bebianno sobre a influência dos filhos do presidente. De acordo com o ex-ministro, para compensá-lo, ele recebeu a proposta de ganhar um cargo na diretoria da Itaipu.

O ex-ministro também comentou sobre as insinuações de que teria trabalhado para ser o candidato a vice de Bolsonaro. “Nunca quis ser candidato a vice-presidente. Eu queria ser deputado federal, mas o Carluxo não deixou”, diz.

Hoje Bebianno comanda o PSDB do Rio de Janeiro. Sobre concorrer a prefeitura da cidade, ele diz que atualmente a pré-candidata do partido é Mariana Ribas. “Hoje eu trabalho pra ela”, enfatiza. Mas reconhece que há quem queira que ele ocupe a vaga.

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