A série de viagens realizadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo do primeiro semestre demonstrou sua habilidade em mobilizar a base conservadora e fortalecer o partido para as eleições municipais deste ano, inclusive em estados onde ele foi derrotado nas eleições de 2022, a exemplo do Pará, onde esteve no começo desta semana. Analistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo destacam que, além de projetar a própria imagem e o partido nacionalmente, o ex-mandatário busca manter a direita nos holofotes regionais.
Seu principal adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também intensificou as viagens pelo Brasil nos últimos meses, de olho nas eleições municipais, mas sua equipe tem buscado evitar exposição em eventos em redutos tradicionais da direita.
Na semana passada, o petista cancelou um compromisso em Rondonópolis, Mato Grosso, onde lançaria o Plano Safra – o anúncio oficial acabou ocorrendo nesta quarta (3), em Brasília. Nesta semana, a agenda de Lula, divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), previa uma viagem a Goiás na quinta (4), para visitas a obras em andamento, mas o compromisso foi cancelado. Em vez disso, o presidente irá a Campinas, no interior de São Paulo.
Além disso, causou ruído na imprensa a informação, atribuída a aliados de Lula em Santa Catarina, de que o petista teria desistido de uma viagem a Itajaí, no litoral norte do estado, que estaria agendada para o sábado (6) – mesmo dia em que Bolsonaro estará no estado para a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), realizada em Balneário Camboriú. A Secom, porém, negou que a viagem constasse na agenda de Lula.
Bolsonaro visitou 17 estados em 2024
Na primeira metade do ano, Bolsonaro visitou São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Acre, Rio de Janeiro e Santa Catarina – todos estados em que obteve mais votos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última disputa presidencial.
O ex-presidente também tem incluído em sua agenda viagens a estados onde a direita é minoritária, mas que são estratégicos para o PL nestas eleições municipais, a exemplo das recentes passagens pelo Tocantins e pelo Pará, em cujas capitais os pré-candidatos da legenda têm se mostrado competitivos.
Em Belém (PA) no começo desta semana, Bolsonaro confirmou a pré-candidatura do Delegado Éder Mauro (PL-PA) à prefeitura da cidade. Ao continuar sua viagem pelo estado, foi alvo de um bloqueio em rodovia, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em protesto à sua visita ao Pará – ação classificada por apoiadores do ex-presidente como um "ato de desespero".
Segundo o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, a expectativa da sigla é eleger entre mil e 1.500 prefeitos em todo o país.
Além de Éder, o PL também buscará lançar nomes da bancada de deputados federais para municípios considerados estratégicos, como Carlos Jordy (PL-RJ) em Niterói e Alexandre Ramagem (PL-RJ) na cidade do Rio de Janeiro. O partido também aposta nas candidaturas dos deputados Abilio Brunini, em Cuiabá (MT); Bruno Engler, em Belo Horizonte (MG); Junio Amaral, em Contagem (MG); Rosana Valle, em Santos (SP); e Sargento Gonçalves, em Natal (RN).
Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, Bolsonaro está dando uma condução pessoal para muitas candidaturas, seja para prefeito ou vereador.
“Ele está articulando uma estratégia nacional em torno do conservadorismo, em torno da sua liderança e, claro, do PL, para tentar promover o maior número possível de candidatos, tanto para vereador quanto para prefeituras. A ideia, na minha opinião, é, sempre que possível, atenuar a influência que o Lula tem em regiões como o Norte e Nordeste”, disse o cientista político.
No primeiro semestre do ano, Bolsonaro também participou de eventos em Minas Gerais (onde perdeu em 2022, mas possui uma grande base de apoiadores), Amazonas e em cinco estados do nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba e Sergipe.
Queda na popularidade de Lula também pode ser explorada por Bolsonaro
Para o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a queda de popularidade do presidente Lula, registrada em diversas pesquisas, pode dar a Bolsonaro a oportunidade de crescer onde ele perdeu em 2022, em especial no Norte e Nordeste.
“O declínio da popularidade do presidente auxilia Bolsonaro a ter uma entrada maior do que ele convencionalmente já tem, tendo em vista que o Norte e o Nordeste continuam fortemente associados à dinâmica do lulopetismo. No caso do Nordeste, é a única região do país em que essa queda de popularidade não foi mais significativa e onde Lula dispõe de números mais confortáveis do ponto de vista da popularidade. Entretanto, não me parece que o grupo político do ex-presidente Bolsonaro não seja consciente de que essa entrada é muito difícil”, disse Elton.
De acordo com pesquisa publicada pelo instituto AtlasIntel, em 15 de junho, Lula é aprovado por 51% dos brasileiros. Já 47% reprovam a atuação do presidente. Em comparação à pesquisa publicada em maio, o petista manteve a porcentagem de aprovação, mas a taxa de desaprovação subiu dois pontos - de 45% para 47%.
O instituto de pesquisa ouviu 3.601 brasileiros entre os dias 7 e 11 de junho. O levantamento tem margem de erro de um ponto percentual para mais ou para menos e nível de confiança de 95%.
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